Grupo de ciclistas desbrava trilhas e estradas do Rio Grande do Sul

17/06/2020
Brothers do Pedal na Cascata do Chuvisqueiro

Brothers do Pedal na Cascata do Chuvisqueiro

Não são raras as vezes que, passando pela BR-116, cruzamos com ciclistas pedalando às margens da rodovia. A cena é cada vez mais comum, o que indica que há uma crescente na prática desta modalidade. Há quem treina para competir, já outros se valem do ciclismo em busca de mais qualidade de vida, como é o caso do grupo Brothers do Pedal, de Dois Irmãos, fundado em 21 de outubro de 2017 pelos ciclistas Fausto Kiewel, Jusnei Uhmann, Tiago Moraes e Ademir Lottermann.
Atualmente, o grupo conta com mais de 70 integrantes, entre homens e mulheres, de Dois Irmãos, Morro Reuter, Ivoti, Sapiranga e Estância Velha. “Inicialmente, o grupo surgiu para facilitar a comunicação e marcar os pedais, para evitar os riscos de pedalar sozinho. Na época, decidimos que poderia ter, no máximo, seis participantes. Não conseguimos manter essa regra e o grupo foi crescendo”, conta Fausto, de 31 anos, afirmando que a grande maioria pedala por hobby. “Encontramos no pedal uma válvula de escape para as tensões do dia a dia, além de ser uma forma de aliar exercício físico e lazer”, completa ele, que trabalha no setor de exportação.
Fausto mora em Dois Irmãos e pedala desde 2003. No início percorria trajetos mais curtos. Em 2017, começou a encarar trajetos mais longos, incentivado pelo também ciclista Pedro Lehnen. “A bicicleta nos leva muito longe, nos faz pessoas melhores e o principal: não importa há quanto tempo você pedala, vai passar por cansaço e vai ter dificuldades no trajeto. Isso nos faz iguais”, relata.
O colega de equipe, Dirceu Pies, 40 anos, morador de Morro Reuter, pedala desde agosto de 2018. Começou na modalidade a partir da necessidade de praticar atividade física. “Não gostei de fazer academia, pois prefiro atividades ao ar livre”, revela ele, que é o recordista do grupo, com uma trajetória de 413 km percorridos. O trajeto foi feito no dia 18 de maio de 2020. Naquele dia, ele e o colega de equipe, Rodrigo Souza, saíram de Morro Reuter às 4h da manhã rumo, inicialmente, a Torres. “Chegamos lá e decidimos atravessar a ponte e chegar a Passo de Torres, em Santa Catarina”, conta Dirceu, lembrando que isso já era 13h. “Tomamos uma cervejinha, tranquilos, e pegamos o caminho de volta. Já perto de Arroio Teixeira, depois de 277 km de pedal, o Rodrigo chegou ao seu limite e, por conta de dores nos pulsos e nas costas, pediu para a esposa vir buscá-lo”, relata Dirceu, que decidiu seguir na estrada e atingir sua meta. “O meu recorde, até então, era 305 quilômetros, ida e volta para Oásis. Mas eu queria atingir a marca dos 400”, diz ele, que completou os 413 km ao chegar em Parobé, por volta das 23h. Ali, foi resgatado pelo Rodrigo e a esposa. “Se fosse por pique, teria seguido até em casa, mas parei por questão de segurança”, completa.
Ao longo do trajeto, além do desejo de atingir a meta pessoal, Dirceu teve o apoio fundamental da esposa Claudete e dos filhos Claudir, de 10 anos, e Daniel, de 6. Através do WhatsApp, os três mandaram áudios incentivando Dirceu a não desistir, dizendo que acreditavam nele e que ele conseguiria chegar ao seu objetivo. “Me emocionei no dia e agora quando ouço os áudios”, completa.
Praticando ciclismo há quase dois anos, além dos objetivos traçados e conquistados, Dirceu também percebeu melhoras na saúde. “Melhorou muito, pois consegui equilibrar o colesterol, os triglicerídeos, perder peso e conquistar maior resistência”, diz ele, ressaltando o importante papel do ciclismo também no convívio social.
Fausto reforça a fala de Dirceu. “O princípio do pedal é fazer amigos, pois, durante a pedalada vão ter partes mais difíceis, onde temos que reduzir o ritmo, fazer paradas, e é aí que ocorrem muitas conversas e trocas de informações; acabamos fazendo amigos, aliviando as pressões do dia a dia, tornando a alma mais leve”, diz ele.



“Pedalando, percebemos o quanto a vida é bela” 
Moradora de Morro Reuter, a manicure Neli Leonora Lapinski, mais conhecida como Léo, tem 47 anos e começou a se aventurar sobre duas rodas em 2017. Só na segunda semana de junho deste ano percorreu 189 km em quatro dias. Para ela, o ciclismo vai muito além do esporte. “Pedalando, percebemos o quanto a vida é bela. Sentimos o cheiro do pó da estrada, da natureza; vemos a variedade de animais que existem. Sentir o ar puro não tem preço; as paisagens te alegram a alma, te fazem ver a vida com outros olhos. Me sinto como um pássaro livre”, diz ela.


Trajetos serra-mar
O percurso mais longo do grupo até aqui foi o do Dirceu, mais de 400km. Além deste, tiveram pelo menos outros três trajetos extensos percorridos pelos brothers: 100 km até Gramado, 145 km até Oásis e, aproximadamente, 200 km até a Cascata do Chuvisqueiro, em Rolante. “Mas, na média, os pedais que fizemos são de até 50 km”, comenta Fausto, contando que os percursos são planejados pensando, principalmente, na segurança dos membros. “A maioria deles são dinâmicos, a fim de evitar que existam riscos de assalto, pois infelizmente os ciclistas acabam sendo visados”, reforça.
Dos percursos, há pelo menos um fixo, que ocorre sempre aos domingos de manhã rumo à Tenda do Umbu, em Picada Café. “Há dois pontos de encontro, um em Dois Irmãos e, outro, em Morro Reuter. Chegamos a reunir 25 ciclistas para este trajeto”, comenta Fausto.
Outros trajetos também fazem parte dos destinos já consagrados pelo grupo, entre eles os chamados “Subir o Bin Ladden”, “Trilha do Brizolla” e “Volta do Galpão”. “Os demais percursos são acordados entre os participantes, considerando a disponibilidade de tempo e o tipo de terreno, por exemplo, pois nem todos gostam de pedalar em estrada de chão e no barro”, diz Fausto, lembrando que todos os percursos podem ser modificados, alongados ou encurtados.


Para começar no pedal
Fausto Kiewel oferece dicas para quem deseja iniciar no pedal. “Para começar a andar, indicamos que não seja adquirida uma bicicleta de alto valor, mas é necessário que sejam adquiridos os equipamentos de segurança mínimos, como capacete, luvas e calçado fechado”, diz ele, chamando atenção também para a roupa. “Indicamos bermuda de ciclismo, para maior conforto e mobilidade, mas não tem problema ir adquirindo estes itens conforme ir pegando o gosto por pedalar”, ressalta.
De acordo com o ciclista, o investimento inicial varia de acordo com cada pessoa. “Em média, o valor inicial gasto para os equipamentos mínimos e a aquisição de uma bicicleta de entrada, fica em torno de 1,5 mil reais”, diz ele, alegando, porém, que é possível começar com uma bicicleta comum. “Não tem problema algum, tanto que a maioria dos integrantes iniciou pedalando com uma bicicleta simples que tinha em casa; comprou apenas o capacete e as luvas”, completa.


Garoto de 17 anos é destaque no grupo
Um dos mais jovens do grupo é Eduardo Berlitz, de 17 anos. Morador de Dois Irmãos, começou a pedalar de maneira despretensiosa, ainda garoto, por diversão. Hoje é uma das grandes apostas do Brothers do Pedal. Esteve junto no percurso de 145 km feito pelo grupo até Oásis e já tem outros destinos em vista, como a Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina; Viaduto 13, em Vespasiano Corrêa; e barragens em São Francisco de Paula.
Praticando o esporte há pouco mais de dois anos, Eduardo quer competir. Participou das suas primeiras provas no início do ano e já garantiu troféu. Foi campeão juvenil da 5ª e 6ª etapa da 16ª Copa União de Ciclismo do RS, que ocorreram nos dias 9 e 16 de fevereiro, em Sapucaia do Sul e Osório. Mesmo com competições interrompidas em razão da pandemia de coronavírus, o jovem segue focado e com desejo de competir. “Penso em levar esse esporte a sério e seguir fazendo campeonatos”, reforça o garoto.
Quem quiser acompanhar um pouco mais sobre a história do Eduardo, basta acessar o canal oficial dele no YouTube. Lá, ele compartilha histórias e dicas ligadas à modalidade. Há vídeos sobre pedais e competições, além de dicas de como fazer equipamentos de treino caseiros. Criado recentemente, o canal já tem mais de 1,5 mil inscritos e mais de 15 mil visualizações.


Pandemia exige cuidados redobrados
Antes da pandemia, o grupo pedalava pelo menos cinco dias da semana, promovendo pedais para iniciantes e incentivando novos ciclistas. Devido à toda esta situação, o ritmo teve que diminuir para preservar a saúde de todos. “Tínhamos muitos planos para o ano de 2020, mas foram afetados pela pandemia”, lamenta Fausto. 
O grupo, porém, segue pensando a longo prazo. “Temos muitos planos, queremos conhecer lugares no Brasil e no exterior, queremos ter o problema bom de não ter mais espaço no WhatsApp do grupo, superando assim 244 membros”, completa ele, convidando a todos a acompanhar os pedais e demais novidades sobre os Brothers através das páginas no Facebook e Instagram.


* Reportagem: Thaís Lauck / Fotos: Divulgação / Arquivo pessoal


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