Será que somos uma cidade “amiga dos bichos”?

30/07/2020
Sara Braun (à esquerda) preside a Associação Amigos dos Animais

Sara Braun (à esquerda) preside a Associação Amigos dos Animais

Conheça o trabalho incrível de amor aos cães abandonados realizado por 7 mulheres de Dois Irmãos, nesta entrevista com a presidente da Associação Amigos dos Animais, Sara Capeletti Braun:
 

Quando surgiu a Associação Amigos dos Animais de Dois Irmãos?
Sara Braun
- Foi um grupo de amigos de animais que em 2009 acreditou que poderia ajudar os animais abandonados. Quando começamos, tinha 7 cães.


Quantas integravam na época e quantas são agora?
Sara Braun
- Eram 12 pessoas e, com o tempo, muitas desistiram. Hoje somos poucas. Na diretoria ficaram 7 pessoas. Das fundadoras, hoje temos 4.


No que constitui o trabalho da associação?
Sara Braun
- Em atender e dar assistência veterinária para os animais abandonados e atropelados, mãezinhas e filhotes abandonados. E junto com estes atendimentos tem a castração de todos que vão para casa de passagem. Os cães que são doados recebem a castração, vacinas e todas as medicações que precisam. Quando são doados, é feito termo de adoção e responsabilidade, com endereço e RG. Após a adoção, tem um acompanhamento de como eles estão na casa do adotante. São despesas que temos por mês.


Onde é o canil, atualmente?
Sara Braun
- Nós não falamos canil, mas sim casa de passagem. Hoje ela está dentro da Usina de Reciclagem onde é uma cedência que a prefeitura fez para poder recuperar estes animais de rua. Temos câmeras instaladas lá para poder controlar melhor os animais e possíveis abandonos no portão. Somente atendemos animais daqui de Dois Irmãos. Quando acontecem pedidos de outras cidades, passamos o contato das protetoras da mesma.


Quantos cães são abrigados lá?
Sara Braun
- Hoje temos 100, a casa está lotada. Devido à pandemia mundial, estão largando muitos cães, e estamos preocupadas com isso, pois não temos espaço nem dinheiro para recolher todos.



Esses cães são só de Dois Irmãos ou tem cães de fora abrigados lá?
Sara Braun - Não temos como saber a origem deles, mas acreditamos que abandonam, sim, de outras cidades como os daqui largam também em outros lugares. É lamentável! Se cada um cuidasse do seu cão, não teria todo este problema nas cidades. A carga é muito grande para os municípios e protetores, por isso a importância de um projeto de castração aqui em Dois Irmãos. Outras cidades vizinhas têm. Temos tudo para fazer as castrações, só faltam projetos voltados a políticas públicas. A sala está montada no canil, foi comprado tudo.


Como a sociedade ajuda vocês?
Sara Braun
- Uma minoria ajuda com roupas e comprando rifas, mas precisava bem mais ajuda. Tem muitas pessoas que ajudam com rações todo mês, queremos agradecer de coração. Também alguns com dinheiro em depósito na nossa conta. Por mais pessoas assim! Agora, neste tempo de pandemia, diminuiu muito a ajuda. O que sempre nos ajudou foram os brechós e pedágios, mas não estamos podendo fazer nada. É complicado!


Qual o maior problema que os cães abandonados enfrentam?
Sara Braun
- É a tristeza de serem abandonados, pois ficam esperando seu dono vir buscar durante dias no mesmo lugar. Chegam na casa, demoram para começar a comer, pois estão acostumados com outra ração, e sentem muita falta do seu dono – muitos até ficam doentes! Com o tempo, vão ganhando carinho e confiança, e aos poucos vão melhorando. O problema é que demora para serem adotados, alguns estão lá há muitos anos. É triste!


Quais as doenças que eles apresentam, quando são acolhidos por vocês?
Sara Braun
- Muitos deles são abandonados por vários motivos. Uns por estarem com sarnas e ferimentos graves que as pessoas não querem tratar; às vezes é muito simples, mas o mais fácil é abandonar. Outros, são fêmeas no cio, grávidas ou com filhotes. Muitas chegam e ganham seus filhotes na mesma noite. Tem todos os tipos de situação. É incrível a falta de amor. Sempre falo: por que pegam se não querem cuidar quando eles necessitam? Para adotar um cão, é preciso ter paciência e consciência de que vai dar despesas, e que por no mínimo 13 anos vai ficar na família.


Quais são os gastos da associação com a casa de passagem?
Sara Braun
- Temos os gastos fixos com rações, medicações, atendimento veterinário, vassouras, produtos de limpeza e funcionário, que hoje está muito difícil para nós pagarmos, pois não temos como fazer os eventos, e é com este dinheiro que pagamos ele. 


Vocês têm recursos públicos para ajudar na manutenção do espaço e trato com os cães?
Sara Braun
- Temos ajuda da prefeitura de R$ 7.950 por mês. Neste valor, estão as rações, R$ 998 para o veterinário responsável técnico e R$ 1.917 para pagar os demais atendimentos, como os atropelados, e ainda 7 castrações por mês para animais do canil. E temos a ajuda da gasolina, que é de até R$ 12 mil por ano, para o carro que a prefeitura nos cedeu para poder ir até a casa de passagem, que é longe. Não está incluído o salário de funcionário. Todas as prestações de contas estão na prefeitura. Temos um contador que faz toda parte burocrática para a associação. Temos também ajuda do plano do governo estadual Nota Fiscal Gaúcha; pagamos as castrações com este dinheiro, e muitas vezes passa do valor que estamos devendo para o veterinário. Mas estamos sempre controlando para poder pagar estes atendimentos. Os valores da Nota Fiscal Gaúcha entram para nós trimestralmente. Às vezes, dá 7 mil reais, mas depende muito do número de pessoas que se inscreveram.


Não há muitas adoções? 
Sara Braun
- Em média, 10 por mês. Mas logo entra outro cão, pois tem muitos esperando na fila para serem atendidos. Nunca baixa de 100.


Quantos cães você acredita que existam hoje em Dois Irmãos?
Sara Braun
- Não posso nem imaginar, nunca foi feito um levantamento. Isso cabe à prefeitura fazer, junto com o Meio Ambiente. Nós não temos como ainda fazer isso. 


Poderíamos dizer que Dois Irmãos é uma cidade “amiga dos bichos”?
Sara Braun
- Olha, está longe de ser. Precisa mudar muita coisa. Como tem a gente, as pessoas empurram toda responsabilidade para 5 pessoas voluntárias recolherem todos os cães que aparecem na frente das suas casas. Tem poucas pessoas ajudando e muitas criticando. Ligam a toda hora, não respeitam os horários para avisar que tem um cão na sua rua, sendo que não custa ajudar com um pote de ração ou água. Ligam e dizem “vocês ganham para isso”. É muito difícil trabalhar assim. A nossa cidade é linda, tem poucos animais pelas ruas, se comparada com outras, mas nosso trabalho ainda não é respeitado. Fazem postagem em rede social difamando a Associação Amigos dos Animais de Dois Irmãos, e não se dão conta de que os prejudicados são os coitadinhos dos cães, que não tem voz. Não aceitam nem colocar casinhas para alguns até nós podermos recolher, mesmo tendo lei que protege cães comunitários.


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