“A literatura é um suspiro de alívio diante da realidade nem sempre bela e fácil”

31/05/2021
(Fotos: Divulgação)

(Fotos: Divulgação)

A autora de livros infantis Kênia Colares lançou recentemente “O Segredo do Menino que Desenhava”, obra inspirada em Theodoro Gustavo Bock, 8 anos, aluno da rede municipal de Dois Irmãos. Em entrevista ao Jornal Dois Irmãos, ela falou sobre o livro, seu trabalho e a literatura em tempos de pandemia.

 

Como surgiu a ideia deste novo livro?

Kênia – Surgiu a partir do momento que conheci (à distância), o Theodoro, e fiquei sabendo o quanto ele gostava de desenhar e do seu talento para o desenho. Ver aquele garotinho tão cheio de entusiasmo e desenhando tão lindamente, me inspirou a escrever o livro “O segredo do menino que desenhava”. Foi uma forma de homenageá-lo, reconhecer e incentivá-lo a prosseguir desenvolvendo o seu talento. O livro fala sobre o personagem Théo, um menino que que adora desenhar desde pequeno. E ele tem um cantinho preferido em sua casa, onde gosta de exercitar a sua arte. E é lá que ele faz uma incrível descoberta que passa a ser o seu grande “segredo”. Um segredo que nada mais é do que uma figura alusiva à imaginação, que leva o pequeno Théo a lugares incríveis e o inspira a desenhar. Mas pra saber qual é essa figura que retrata o segredo do pequeno Théo, terá que ler a obra para descobrir.

Vale mencionar que na história, o irmãozinho e a mãe do Théo, também levam os nomes dos “personagens” da vida real. E, diga-se de passagem, não é a primeira vez que me inspiro em pessoas da vida real para escrever meus livros. Há muitas inspirações que cruzam o meu caminho.

 

Quando e como conheceu o garoto Theodoro?

Kênia – Em 2020, ao ser convidada para ser patrona da feira do livro de Dois Irmãos, que ocorreu de forma remota, fiz uma música para a feira e pensei que seria bacana fazer uma surpresa com um vídeo com alguns dos alunos do município cantando a música com o tema da feira. E para isso, contei com o auxílio da professora Sabrina Dornelles que trabalha na rede municipal da cidade. Ela contatou algumas mamães de seus alunos para que eles pudessem decorar a letra e cantar a música e depois me enviou os vídeos, para que eu enfim pudesse fazer a montagem do vídeo final com o “coral”. Uma dessas crianças que cantava era o Theodoro. E a professora Sabrina me disse que ele era apaixonado por livros e adorava desenhar, que os pais, ambos professores, incentivavam muito a leitura e gostariam de adquirir alguns dos meus livros para o acervo do Théo. Então ela passou o meu contato para a Fernanda, mãe do Théo e aí começamos a conversar. E foi então que fiquei sabendo do grande amor do Théo pelo desenho. Ela compartilhou áudios e fotos do Théo com os livros e os desenhos lindos que ele fez e eu fiquei encantada com o talento daquela criança, que já desenhava desde os 2 aninhos de idade e que almeja se tornar um desenhista quando crescer. Pude ver o quão grande era a paixão daquele garotinho lindo, pelo desenho.

 

Desde quando escreve para crianças e quantos livros já publicou?

Kênia – Escrevo para crianças há mais ou menos 26 anos, no entanto sem publicar. Começou quando eu tive uma escola de educação infantil. Nessa época eu escrevia letras de músicas e textos de teatro que eu cantava e encenava para meus alunos da educação infantil. Depois fui para o rádio, em Belo Horizonte, onde eu apresentava, escrevia os roteiros e as histórias representadas pelos personagens ao vivo. A direção havia me dado total autonomia para dirigir, criar e apresentar o programa e assim o fiz durante 4 anos. Depois encenei alguns textos nos palcos teatrais e dei aulas de teatro para crianças maiores, entre 7 e 12 anos. Sempre gostei de crianças. Até quando eu era criança, eu gostava de crianças, gostava de proteger as menorzinhas, de cuidar delas. Realmente eu gosto de estar junto delas, de brincar, ouvi-las, abraça-las, ver os seus sorrisos. Me encanta a doçura e a pureza dos pequenos.

Até agora escrevi e ilustrei 17 obras. E tenho cerca de cem outros textos guardados na gaveta, esperando para serem transformados em livros. Resta saber se eu vou viver ao menos até os 100 anos, pra publicar todos eles (risos). Esse ano, inclusive aceitei o desafio proposto pelo marido de publicar um livro por mês. Uma proposta bem desafiadora, eu confesso, já que é um trabalho de um “exército de um homem só”, pois escrevo, ilustro, faço a diagramação, registro das obras, publicação, divulgação. Só a impressão, quem faz é a gráfica, quando faço os livros físicos, mas nestes tempos de pandemia estou publicando apenas as versões digitais das obras. Mas o fato é que já estou no sexto livro/mês desse desafio, firme e forte. E quem quiser conhecer as obras, é só acessar o meu site: keniacolares.com.br.

 

Qual sua formação? Onde nasceu e onde mora atualmente?

Kênia – Minha formação é em Artes/Teatro, Psicanálise e Pedagogia. Até agora me especializei em Marketing e Gestão de Pessoas e Literatura Infanto-juvenil. Nasci em Belo Horizonte, capital mineira. E atualmente resido em Nova Petrópolis (Serra Gaúcha). Tenho 46 anos, sou casada e mãe de dois rapazes, um com 22 e outro com 17 anos.

 

Em tempos de pandemia, qual é a importância dos livros para as crianças?

Kênia – A arte, é aí se inclui a literatura infantil, tem importância tamanha na vida das crianças em todos os contextos e que se realça ainda mais em tempos de pandemia. Falar do valor dos livros em meio ao que vivemos hoje é reafirmar o valor da arte. Quando falamos em isolamento e distanciamento social, estamos falando também do cerceamento do nosso ir e vir. Mas dentro do universo imaginário, não há essa limitação, nós temos a liberdade de nos deslocarmos para tantos lugares, fazer viagens, idas e vindas sem sair do lugar. E aí está um dos papéis da literatura infantil dentro desse cenário. Isso funciona como um escape, como um conforto para a nossa alma. Portanto, falar dos livros para crianças nesse cenário de isolamento social é reassegurar o valor da arte. Pois a arte tem essa força de mexer com nossas emoções, de nos proporcionar alívios, de nos deslocar de nossas limitações. Ela proporciona um afago, uma carícia ao nosso ser, nos diverte nos encanta e alarga o nosso mundo, o mundo da criança que muitas vezes se sente presa, que não pode muitas vezes ir à escola, ir ao parque, circular à vontade, como fazia antes. Assim, a literatura é como um respiro, um suspiro de alívio diante da realidade nem sempre bela e fácil que vivemos.


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