Editor Alan Caldas (De Çanakkale - Turquia)
Pense numa imagem capaz de te faz perder duas batidas do coração.
Pensou? É aqui. Aqui em Troia.
Estávamos a 25 quilômetros antes de chegar em Çanakkale quando avistamos a placa dizendo que o Troya Tarihi Milli Parki ficava a 5 km de onde a estrada nos levava. Oooops. Pé no freio. E entramos.
O Parque é onde estão as ruínas de Troia. Aquela Troia das aulas de história que a professora entusiasmadamente nos contava. Lembra? Claro que lembra. Quem não lembra! Pagamos ingresso e entramos. Pisamos nas ruínas e as imagens pulam feito loucas na memória. Aqui onde estamos pisando pisou, também, Aquiles, o lendário guerreiro filho da deusa Tétis com um sortudo mortal. Aqui por essas ruínas está a história de Helena, a bela mulher que apaixonada por Páris, filho do rei de Troia, abandonou o marido Menelau e iniciou uma guerra de 10 anos entre gregos e troianos. Aqui nessas ruínas por onde estamos caminhando está a história da guerra que terminaria na morte de Heitor, o general guerreiro e irmão do inconsequente Páris.
Paro aqui por um instante. Tento silenciar essa minha mente agitada. E então como um filme revejo a luta de Heitor com Aquiles, que a história narra como uma das mais renhidas daquela guerra. Ouço o sibilar das espadas. Escuto o choque e o roçar violento dos escudos. Me vem à mente o bater de lanças na batalha entre os dois gigantes. E o golpe fatal que põe de joelhos o grande guerreiro Heitor. Aqui nestas ruínas está também, posteriormente, o momento da Guerra de Troia que colocou fim à vida do supostamente imortal Aquiles. Atingido no calcanhar por uma flecha envenenada ele vai à morte, que criou o conceito de “Calcanhar de Aquiles” como sendo o ponto fraco em cada um de nós.
Troia começou pequenina e se tornou uma fortaleza 3 mil anos antes da Era Cristã. Homero nos narrou a história de Troia e Esparta, de gregos e troianos, em seu estupendo livro A Ilíada. Quando eu o li, décadas e décadas atrás, fiquei iluminado por tantos detalhes e maravilhas. Mas jamais imaginei que pisaria no solo em que ocorreu o que Homero escreveu no livro. Troia ficou esquecida por muitos séculos. E até dizia-se que Troia era apenas uma “lenda”. Uma estória de Homero. Porém, nos anos de 1800, um alemão mudou o jogo.
Heinrich Schliemann, um arqueólogo alemão jogou luz sobre Troia. Ele analisou os escritos de Homero. Fez pesquisa das características geográficas citadas na obra de Homero. E ele e um grupo de arqueólogos começaram as escavações neste local. Acabaram encontrando várias cidades construídas umas em sucessão as outras, com prédios e edificações exatamente como os que Homero havia descrito sobre as construções de Troia no livro A Ilíada. A conclusão foi obvia: era Troia!
Hoje este local arqueológico é chamado em turco de Hisarlik, que significa o “Lugar da Fortaleza”. E tem a “Qualificação 1” nos Patrimônios Mundiais da UNESCO, que a identifica como “Troia Homérica”. O cavalo original está (como se vê na foto) sendo permanentemente restaurado e cuidado centímetro a centímetro sob rigorosa proteção de arqueólogos e cientistas turcos e mundiais. Uma réplica exata dele, porém, permite e, Çanakkale ver-se seu tamanho e sua forma original, com o mesmo material do qual foi feito pelos gregos para inserir na fortaleza os guerreiros Mirmidões de Aquiles. Guerreiros que, escondidos dentro desse truque, acabariam entrando na Fortaleza e abrindo os portões de Troia, que foi o que permitiu a subjugação dela e a vitória grega.
Troia ficou conhecida pela guerra. Mas na época ela era de fato invejada mesmo era por seus ricos ganhos do comércio portuário. Pelas roupas pomposas que produzia e vendia. E sobretudo pela larga e rica produção de ferro e toda riqueza que geraria a quem a dominasse. E essa teria sido a real causa da guerra. Não apenas a romântica, linda e traidora Helena, que foi uma desculpa histórica “viável” para os gregos se adonarem desta terra.