Por Alan Caldas – Editor (De Málaga, Espanha)
Décadas atrás uma amiga, dona Irene Yague, que é espanhola e mãe de meus amigos Maurício, Pedro, Pilar e Félix, todos igualmente espanhóis, me disse que para conhecer a Espanha eu precisaria “muitos meses”.
Hoje concordo plenamente com ela: a Espanha são muitas e diferentes Espanhas dentro da Espanha.
Cada uma das 17 regiões autônomas deste país é um país. E, em cada uma, há “regiões” diferenciando uma cidade da outra, seja no falar, na gastronomia diversa, na bebida de outro tipo, na música com melodia, harmonia e ritmo totalmente distinto, ou no vestir, falar, olhar.
Tudo pode mudar aqui na Espanha de uma região para outra. Mas, é sempre Espanha!
E já me explico:
Agora, por exemplo, aqui em Málaga vemos um “mundo” quase 100% diferente de Granada, que está só a 150 km daqui.
Viemos para cá cruzando os Campos Altos de Málaga, e nos impressionamos com o incrível plantio especialmente de oliveiras.
Vimos uma cadeia de montanhas cultivadas, não importando a agrura geológica que a terra tenha. Paisagens lunares e áridas que agora são cultivadas.
Aí chega-se em Málaga. E QUEM É essa Málaga?
Em árabe diz-se “Malaka”, que significa barraca de peixe salgado. O nome veio da imensa produção do “Garum”, as partes que sobram do peixe e que são prensadas e salgadas como charque, um tempero criado aqui e que fez de Málaga um centro comercial alimentar ainda lá nos romanos.
A Málaga de hoje foi fundada como cidade 1 mil e 800 anos atrás. Mas já era vilarejo 1.100 anos antes, quando nasceu Cádiz, outra cidade desta região.
Mil e 800 anos MAIS mil e 100 anos dá quantos anos mesmo? É tanto tempo que nem dá para imaginar direito.
Há restos de tempo e cultura por todos os lados, aqui. Fenícios, gregos, cartagineses, romanos, germanos, silingos... todas essas civilizações estiveram neste local. Todos explorando. Todos roubando. Mas todos, também, criando formas de agir e de pensar que pelos séculos afora iriam forjando e impregnando o aço da personalidade que gerou o inconsciente coletivo da gentil e próspera população atual desta terra.
Por fim, fez-se a luz! Málaga acabou indo para o domínio árabe no final da Idade Média. E, com os árabes, Málaga tornou-se grandiosa. Converteu-se numa cidade florescente, rodeada por uma muralha com 5 enormes portas e numerosos subúrbios. Construíram inúmeras mesquitas, os prédios comerciais do porto, a fortaleza (Alcazaba) e a produção de passas, frutos secos e louças enriqueceram a economia de Málaga. Tornou-se, então, um porto importante. Cresceu. Enriqueceu. E assim ficou até 1.487, quando os reis Fernando e Isabel, da Espanha, a retomaram dos árabes e dali em diante a história foi espanhola e segue sendo até hoje.
Há, porém, traços árabes em cada canto desta cidade. E o convívio amigável perdura, colorindo-a com o ar misterioso do Oriente.
Edifícios modernos agora ombreiam construções milenares. Jardins e praças com engenharia de fazer inveja ornamentam seu porto, onde não param de entrar e sair imensos navios de cruzeiros. Tudo convive com ruas e calçadões magníficos, com bares e restaurantes onde empilham-se milhares de turistas, que encontram aqui a atenção redobrada do comércio e um investimento do governo local proporcionando criar-se mais e mais espaços que atraiam a “indústria” do turismo.
Cinemas, teatros, vida noturna, coisas que o genial Pablo Picasso, filho mais ilustre de Málaga, jamais conseguiria imaginar agora estão aqui, assoprando nos pulmões da cidade dele uma energia vital tão grandiosa e feliz que a faz ser acelerada e jovem econômica e socialmente apesar de seus já quase 3 mil anos se idade.
Não há aqui o permanente bater de pés e mãos, canto e música que se vê logo ali, em Granada. Mas a finesse, a liberdade, o convívio cultural Oriente-Ocidente ganha aqui ares finamente festivos. E tudo isso torna Málaga esta cidade apaixonante, repleta de sensações e emoções que a todos encanta.