Por Sérgio Wirth*
Conformo vou lendo o Jornal Dois Irmãos, também vou sentindo o drama de cada reportagem.
Acho que o pior no momento é a seca. Sem água vamos todos sofrer. E muito. Acaba tudo. Alimentos, energia, e até a higiene fica comprometida, o que é mais um risco para o coronavírus não ir embora.
Lendo tudo isso, me vem à mente os tempos de criança. Naquela época não tinha Corsan. Mas todos tinham água. Lembro que quase todas as casas tinham um poço ou uma cisterna. Bebíamos direto do balde, em uma caneca coletiva que ficava pendurada na parede ao lado do balde. Ninguém pegava doenças. A água era pura. Mas a cidade foi crescendo. E os famosos poços foram morrendo, devido a contaminação do lençol freático e os esgotos sem tratamento. Aí vieram os edifícios, e os arroios e o rio Feitoria foram “pro brejo”, e não se tomava mais banho de rio. É o preço do progresso rápido e sem planejamento. Vai se empurrando com a barriga.
Com a Corsan, praticamente desapareceram as cisternas. A água vinha abundante e ninguém pensava em seca. A preocupação da população em fazer prevenção foi desaparecendo.
Hoje fazem falta as cisternas e os poços. Muita água dos tempos de chuva vai embora. Se fosse armazenada iria ajudar. Talvez seria hora de começarmos a construir reservatório para água?
***
Enquanto isso, as pessoas se viram. O comércio ainda sofre com a quarentena. Os que atendem, dizem que o fazem com as restrições da saúde, com máscara e gel. Na prática, porém, é pouco usado. Dias atrás fui no sindicato e na entrada estava escrito: espere ser chamado. Tinha um frasco de gel na mesa que estava entupido, não saía nada. Fiquei ali esperando de máscara, enquanto as pessoas vinham e entravam direto sem máscara e nem pensar no álcool gel. Passou um tempo e perguntei:
- Moça, tem que ser chamado para entrar?
Ela disse: "não, pode entrar". E fui...
Lá dentro, ninguém de máscara e cheio de gente. Fui dizendo: pessoal, usem máscara. Davam risadas. Eu era o único boiola ali. Comprei minha ração e etcétera e fui no caixa. E ali ninguém de máscara e perguntei de novo: não tem que usar máscara? E a resposta foi não. Ninguém disse que tinha que usar. Não disse mais nada e fui embora. E assim tem mais lugares.
***
Li as duas opiniões da coluna Verso & Reverso, do jornal de quinta-feira. De novo, direito de livre opinião. Mas querer o Lula de volta é pedir para virar Venezuela mesmo. Vamos levar muitos anos para recuperar o caos que deixaram o país. Como já disse antes, eles acabaram com o “made in Brazil”. A indústria sucateou.
Não pode dar certo você ter mais lucro com uma empresa fechada do que trabalhando. Os juros astronômicos davam mais resultado que trabalhando. Ou seja: era a política do rico cada vez mais rico com os juros altos e o trabalhador cada vez mais pobre.
No último ano, as coisas estavam começando a melhorar. O Brasil estava começando a ficar mais competitivo de novo. Era questão de tempo para decolar. Talvez mais um ou dois anos e estaríamos crescendo 5 a 7% ao ano. Seria pleno emprego.
Só que ninguém esperava a visita do coronavírus. Acabou com tudo. E agora vai vir a crise econômica mundial, devido ao lockdown. Ninguém está comprando. E o pior: os clientes também não estão pagando. Vai faltar dinheiro. Se o governo imprimir moeda, vai ser como pagar com folhas de laranja: todo mundo vai ter, mas não tem produto porque tudo parou. É uma situação difícil. Tem que ter muita calma, muita paciência.
(*) Sérgio é diretor da Indústria de Calçados Wirth