Por Alan Caldas – Editor
João Paulo Fink nasceu em Porto Alegre, em 24 de junho de 1961. Seus pais eram de Montenegro mas estavam trabalhando no restaurante do Grêmio Náutico União, na Ilha do Pavão. Mais tarde, voltaram para Linha Comprida, em Montenegro, e o pai, Acirio Fink, comprou um armazém e depois passou a negociar com suínos. A mãe, Wilma Forneck Fink, passou a cuidar do armazém. Além de João Paulo, o casal teve os filhos Sérgio, Alice, Sirlei, Marlice, Fernando, Marco Antônio e Juliana.
Aos 7 anos entrou na escola em Salvador do Sul. Fez a 1ª série mas no ano seguinte os pais vieram para Dois Irmãos. João Paulo repetiu a 1ª série no Grupo Escolar e então foi para o Colégio Imaculada Conceição, onde cursou até a 8ª série. Entrou no 2º Grau na escola que hoje é a Affonso Wolf e parou no 2º ano.
Seu pai comprou um frigorífico em Dois Irmãos e aos 12 anos João Paulo teve ali seu primeiro trabalho. Ele era responsável por 3 vezes por semana limpar o curral dos porcos. Aos 14 e no período das férias, passou a acompanhar a entrega das carnes, tirando notas fiscais e fazendo cobrança.
Quando estava com 15 anos, o pai abriu o Mercado Fink, na Avenida São Miguel, 835. A gerente era a dona Nilza Backes, e João Paulo e a mãe também começaram a trabalhar ali. O primeiro serviço dele foi abastecer a gôndola com papel higiênico. Mas a seguir auxiliou no açougue e algumas compras. Além disso, entre os 18 e 20 anos, João Paulo ajudava o pai algumas vezes trazendo gado de Vacaria no caminhão para abate no frigorífico em Dois Irmãos.
Aos 20 anos assumiu a gerência do Supermercado Fink. Não fez cursos para administrar. “Aprendi na marra”, brinca ele. Passou a visitar outros mercados, a ler revistas do setor e a trazer palestrantes para dar cursos aos colaboradores e a ele próprio. E se associou imediatamente na AGAS, a Associação Gaúcha de Supermercados, onde trocava ideias com donos de supermercados a fim de melhorar o dele.
Quando surgiu o código de barras, no início dos anos 80, ele buscou uma empresa de informática e implantou a novidade em Dois Irmãos. Foi pioneiro nisso e modernizou o mercado, facilitando a marcação de preços e controle de estoque, que chegava a 15 mil itens.
Do início do mercado, lembra da sua querida mãe, dona Wilma, sentadinha em uma caixa de cerveja e ensacando batata e cebola. “É uma imagem que nunca esqueço” diz João Paulo, recordando tristemente que a mãe faleceu aos 64 anos de uma doença autoimune. E assim, ano a ano, década a década, João Paulo foi trazendo o mercado que agora tornou-se um “atacarejo”. Em 3 anos completará meio século, tendo sempre a presença de João Paulo Fink à frente da administração.
E era isso que queria da vida, João Paulo?
Ele responde “não”. E completa: Em primeiríssimo lugar eu queria ser jogador profissional de futebol. Em segundo queria investir mais no frigorífico.
O futebol está no sangue. Foi um dos grandes craques de Dois Irmãos, jogando no meio-campo, aquela posição dos que fazem gols e que às vezes arrumam encrenca. A vida dele no esporte lhe faz brilhar quando lembra dela.
Com 12 anos integrava os Mirins do 7 de Setembro. Dos 16 aos 17 anos jogou no juvenil do Esporte Clube Novo Hamburgo. Aos 17 disputou um municipal pelo União. Dos 20 aos 21 jogou no Vila Rosa, no Estadual de Amadores. Aos 21, voltando ao 7 de Setembro, seguiu no Estadual de Amadores, quando mais de 200 clubes disputavam acirradamente o título e João Paulo era reconhecido em todo o Estado como um perigo cada vez que avançava pelo meio de campo.
Aos 17 anos e já destacado pelo porte físico, agilidade e técnica, recebeu o convite para jogar no Juniores do Grêmio. Era seu sonho. Mas o destino exigiu outra coisa. O pai o queria junto ao negócio da família. João Paulo abriu mão do sonho para encarar a realidade. Mas o sonho permaneceu em sua alma e ele nunca abandonou os campos. Jogou o Campeonato Amador até seus 33 anos de idade, sendo, talvez, o jogador mais longevo entre aqueles atletas. E tem vários títulos, taças e medalhas.
Ganhou 4 campeonatos municipais por Dois Irmãos, por vários times: pelo Unidos da Faixa, pelo 11 de Maio do Walachai, pelo Picada São Paulo e pelo São José do Herval. Foi campeão do Praiano, no campeonato de areia. Em 1999, numa viagem do Veterano do 7 para Alemanha e Suíça, João Paulo não só conheceu a terra dos antepassados como, é claro, jogou futebol. Anos atrás, na Espanha, disputou um campeonato em Palma de Maiorca, e trouxe o título de campeão na categoria 55 anos.
Em janeiro deste 2023, jogando no G40 de Novo Hamburgo, ficou campeão na categoria de 60 anos em Oásis do Sul. Dois meses atrás, viajando para o Nordeste brasileiro com o G40, num torneio de veteranos no Estádio das Dunas, em Natal, no Rio Grande do Norte, destacou-se e sua equipe ganhou duas das três partidas. E João Paulo sempre na posição que lhe cabia como que por direito nos campos de futebol. Numa viagem, ao Chile, logo arrumou uma partida no campo da empresa Gerdau.
A vida não lhe permitiu concretizar o sonho. Mas ele manteve a alegria daquele menino que aos 10 anos corria feliz pelos campinhos de Dois Irmãos, levando a bola nos pés e driblando um aqui e outro ali até lançá-la fulminante e certeira em direção ao gol.
João Paulo é casado com Karin Klein Fink. A conheceu numa discoteca na Sociedade Harmonia, em Ivoti. Era o ano de 1979. Casaram em 1981 e tiveram dois filhos: Gustavo, que hoje tem 42 anos e que lhes deu os netos Marcos, Matheus e Thiago. E o filho Martim, hoje com 27 anos.
A vida de João Paulo sofreu um fortíssimo abalo 20 anos atrás, quando foi diagnosticado com câncer de pele na face. De lá para cá, foram 20 anos de muitas cirurgias e poucas esperanças. Mas o pior foi 3 anos atrás, na 8ª cirurgia, quando o médico disse que nada mais tinha a fazer por ele. Como último recurso o encaminhou a outro colega. E novamente a resposta foi terrível: a cirurgia para tentar retirar o tumor lhe deixaria praticamente sem o lado direito da face. Era isso. Ou a morte.
João Paulo tremeu, é óbvio. E perguntou por “outra coisa qualquer”. O médico chamou uma colega e com ela veio uma réstia de esperança, uma medicação que estava “em teste”. João Paulo seria cobaia. Outros 6 já estavam testando. Mas quatro não suportaram os efeitos colaterais severos e desistiram. Dos outros dois, apenas um teve razoável resultado. João Paulo seria o sétimo. E ela precisava avisá-lo disso. Quatro dias depois ele começou o tratamento. E por 3 anos suportou os efeitos.
Recentemente foi fazer novo exame. E o médico abriu um sorriso. O exame dizia: “área livre de neoplasia”. Ou seja: está curado! E pela primeira vez em 20 anos ele sorriu aliviado.
João Paulo segue a vida normal. Tem 1,83m. Pesa 87 quilos. E calça 41. É perfeccionista. Acredita que a vida é 95% transpiração e 5% inspiração. Nunca teve medo do trabalho. Acredita ter bom coração, pois ajuda todos que pode. Não se dá bem com a tecnologia. “Sou à moda antiga”, brinca ele. É ao mesmo tempo romântico e racional. Se define como um homem objetivo. E a seu ver, Dois Irmãos é uma cidade maravilhosa, repleta de pessoas ordeiras, trabalhadoras e que preservam a história e os valores dos antepassados.