Por Alan Caldas (Editor)
Nestor Rodrigues da Fonseca nasceu em Bom Princípio, no dia 1º de agosto de 1950. Seus pais, Cláudio e Celita Mombach Rodrigues da Fonseca mudaram-se para Caxias do Sul quando os filhos começaram a crescer e precisaram estudar. Nestor estudou primeiro no Colégio Santo Antônio e, a seguir, no Colégio Santa Catarina, onde cursou o segundo grau com habilitação no Científico. E parou por aí.
Seu Cláudio trabalhava com móveis e Nestor desde cedo começou a mexer em madeira. Na juventude e devido ao estilo de móveis que se tinha então, ele tornou-se escultor de móveis, desenvolvendo grande paciência e tornando-se detalhista em tudo que fazia e faz. Os móveis eram obras de arte, repletos de entalhes e detalhes que hoje praticamente não existem mais.
Como escultor, e naqueles anos de 1969 a 1976, ele esculpiu um móvel tão perfeito que conseguiu realizar seu sonho de garoto de comprar uma lambreta. Não era nova, é óbvio. Usada. E meio acabada. Mas uma lambreta. E nela o Nestor pôde realizar o que ao longo da vida faria com diversos veículos: uma restauração.
Não uma simples restauração. Uma completa. Banco. Guidão. Pintura. Cromagem. Tudo. Foi o seu primeiro veículo restaurado. E, em seguida, comprou uma Chopper, uma daquelas motos de guidão alto que ficaram famosas graças ao filme Easy Rider, Sem Destino, com o ator Peter Fonda.
Certo dia, um amigo do Nestor comprou uma moto em Caxias, mas não sabia pilotar, e pediu que ele fosse buscar a moto. O Nestor foi. Ao entrar na loja ele viu aquelas motos espetaculares, com cores e cromagens lindas. Foi paixão à primeira vista. Saiu dali decidido a ter moto naquele estilo. Vendeu a pequena Chopper e comprou uma Royal Enfield.
Nova? Nããão! Acabada. Mas largou sobre ela toda sua paciência, renovando lentamente a pintura, a cromagem, o banco, o guidão, as luzes e tudo mais. E a moto ficou linda.
Nesse período, o Nestor já gostava de renovar veículos usados, treinava nos 7 Fuscas que teve entre 1969 e 1976. O primeiro deles o Nestor precisou negociar com o pai, seu Cláudio, pois trabalhava na empresa do pai e não tinha salário fixo. Falou para o pai e ele perguntou: “250 está bom?”. O Nestor rebateu: “Preciso de 300 por mês”. E lá veio o primeiro Fusca.
Era a vida dele em Caxias, naqueles anos, dedicando-se aos veículos e ao trabalho. Então, porque destino é destino, ele encontrou certo dia uma garota linda, fina e educada, que gentilmente o olhou e por ele também se encantou. Casaram na Igreja dos Capuchinhos, no dia 11 de janeiro de 1975. Como fruto do amor, o casal viria a ter dois filhos, a Aline e o Francisco.
No ano seguinte, um tio do Nestor, o empresário Júlio Mombach, dono dos Calçados Bat, em Novo Hamburgo, visitou a família em Caxias. Avisou que havia uma empresa de móveis à venda em Dois irmãos e incentivou seu Cláudio a se transferir para cá. Seu Cláudio até pensou em vir. Mas, no fim, quem veio foi o Nestor. Veio ele e a esposa Marília. Venderam um chalé que tinham em Caxias e chegaram a Dois Irmãos. Não tinham muito. Toda a mudança veio dentro de uma Kombi. Se instalaram na Idesa e passaram a morar em duas peças que existiam no prédio.
O início foi dramático, o Nestor lembra. A Idesa até então estava fechando. E ele, que estava entrando, não possuía capital de giro. Precisava se socorrer com amigos. Lembra que muitos ajudaram. E precisou, também, se socorrer nos bancos.
Nessa época, João Arnildo Mallmann, que mais tarde seria empresário nos Calçados Maide e prefeito de Dois Irmãos, era gerente do Unibanco. E Nestor recorda que ele lhe concedia um “papagaio” atrás do outro no banco, para auxiliá-lo a conseguir manter a empresa e estabilizá-la. E assim a coisa foi indo. A Idesa recontratou os 8 marceneiros que já trabalhavam nela anteriormente e com dificuldade e persistência foi administrando os problemas aqui e ali e encontrando soluções para se estabilizar financeiramente. No curso dos anos, década a década transformaram a Idesa na respeitável empresa de esquadrias que é hoje.
Em 1980 Nestor voltou a lembrar da sua antiga paixão por motos. Nesse ano havia um leilão em Porto Alegre de motos (literalmente acabadas) que seria feito pela Brigada Militar. Eram motos grandes. Harley Davidson. E o Nestor foi lá. Comprou duas para fazer uma. Estavam em estado tão lastimável que um brigadiano que ajudou ele a colocar no carro lhe disse: “Não acredito que isso vá voltar a andar um dia”.
Nestor sorriu. E pensou: “Deixa comigo”.
Ele e a Marília moravam, então, num chalé do nosso amigo Silvio Lemmertz, na avenida Porto Alegre. Não tinha muito espaço no porão para instalar a oficina. Nestor precisou arrombar uns lambris para arrumar espaço, mas criou ali a sua área de restauração. E suou a camiseta.
Passados 10 meses de muito trabalho de restauro, de compra de peças, de cromagens, de pinturas e conseguindo peças usadas aqui e ali, finalmente das duas motos ele fez uma. E ficou linda. Uma moto que por onde passava todos se admiravam da beleza em cada detalhe.
Foram 13 motos Harleys Davidson que passaram pelas mãos do Nestor. E, perfeccionista, ele não aceitava menos que o máximo. Um dia o seu irmão Marcelino buscou umas peças que tinham sido cromadas em Porto Alegre e o Nestor pediu para levar de volta, pois não tinham ficado tal qual ele queria.
O Marcelino, muito educado, disse para o dono da cromagem: “Meu irmão é meio chato”. E o sujeito respondeu: “Teu irmão é muuuuuito chato”... kkk... E o Nestor se defendeu, meio brabo:
– Ou fica perfeito ou não serve!
Nestor vive uma vida linda e a cidade e região têm grande apreço por ele. Mas toda vida tem suas amarguras. Seu karma. Seu destino. E a vida do Nestor sofreu uma terrível perda no dia 1º de setembro de 2018. Naquela data, seu filho Francisco estava numa pista de esqui, na Argentina, e numa rampagem deslizou e acabou caindo. Bateu a cabeça. E veio a falecer.
O Nestor e Marília quase enlouqueceram. Nada explica ou consola um fato tão brutal quanto esse. Eles se seguraram na fé. Tentaram dominar a dor, entre tantas lágrimas e desesperos. Mas sobreviveram. Sobreviveram muito em razão da pequena Giulia, filha do Francisco, que havia recém-nascido e que aqueceu os avós com seu olhar de anjo. O filho tinha partido. Para sempre. E não há entre nós quem entenda e aceite isso. Mas no olhar da netinha eles viam o mesmo amor e carinho que outrora viram nos olhos do filho querido que a morte levou. E assim, dia a dia, mês a mês, dor a dor, lágrima a lágrima, o tempo foi fazendo seu trabalho. Não curou a dor, do Nestor e da Marília. Mas a amenizou. E com paciência e resignação, o tempo, esse senhor da razão, foi acostumando a família a essa ausência. E o casal voltou a viver e a sorrir.