Por Alan Caldas (Bréscia - Itália)
Nós gaúchos somos o povo que mais carne consome no Brasil.
Boi. Ovelha. Frango. Suíno. Javali. Nossos churrascos têm enorme variedade de carnes.
Uma carne, porém, a de cavalo, nunca vi ofertada em supermercado.
E jamais vi açougue exclusivo de carne de cavalo.
Tampouco um restaurante com diferentes pratos com carne de cavalo.
Aqui na Itália, contudo, cavalo não é só para lida de campo ou para ser o pingo amigo. Aqui carne equina também vai para a panela. E se oferta em supermercado, açougues e restaurantes.
Existe à venda por aqui carne seca, salame, carpaccio, salsicha e vários produtos industrializados com carne de cavalo.
Não só na Itália. A França, Bélgica, Canadá, Irlanda e vários outros também consomem carne equina. Mas segundo o ministério do comércio, o território italiano é o que mais consome carne de cavalo na Europa.
Os dados divergem. Há quem diga que 200 mil cavalos são abatidos na Itália a cada ano. Há quem diga que é 50 mil. E parte dos pingos abatidos nos frigoríficos italianos vêm importados da Polônia, Romênia e França.
Lendo depoimentos de Chefs italianos, descobri que a carne equina tem sabor adocicado. E, segundo eles, “che è perfetto per alcune ricette”, ela é perfeita para algumas receitas.
Os Chefs têm muitas receitas com carne de cavalo. Uma delas é a Pastissada, um ensopado de carne equina cozida com molho de tomate e vinho tinto. É prato tradicional na região Vêneto. Almôndega de cavalo é outra receita bastante apreciada por aqui.
Diante dessas informações e receitas e gostando de cozinhar como gosto, minha curiosidade ficou tentada a testar uma delas.
O nativismo, porém, chutou a porta da minh’alma trazendo lembranças da infância.
Lembrei do avô Deolindo Antunes de Melo, cavalgando seus zainos lá no Pinhal da Serra ou ele, bem montado, tropeando seu gado Serra das Antas acima.
Lembrei da minha mãe e das tias, pequeninas, indo para a escola a cavalo lá no distrito de São Sebastião, em Esmeralda.
Pensei nos tios, que nasceram praticamente sob o lombo dos baguais, animais lindos e que eles tratavam com tanto zelo e respeito, que pareciam ser “da família”.
Pensei no meu irmão Roberto que na sua bravura montava redomões aporreados lá na fazenda onde era capataz nosso tio João.
Meu passado me passou pela memória em segundos. E pensando tudo isso botei a mão na consciência cultural e nativa que reside em minhas lembranças e, então, disse um sonoro “não!” a mim mesmo.
Sou gaúcho, pensei. Nasci em Vacaria. E gaúcho não come carne de cavalo, falei para mim mesmo. Então desisti desse desidério de provar carne equina. Não me fará falta!
Achei, porém, que talvez você leitora e você leitor pudesse achar essa informação interessante. E aí está ela.