Por Alan Caldas – Editor
Antes da história do nosso biografado é preciso um parêntese para a história do pai dele, seu Lino Dino Frapiccini, que nasceu na Itália. Ele se formou em engenharia e quando se formou estava iniciando a segunda Guerra Mundial. O líder italiano, Benito Mussolini, se aliou com Adolf Hitler e isso acabou jogando a Itália na guerra. O jovem engenheiro Lino Dino era “reservista”, e imediatamente foi convocado para o serviço militar. O colocaram na Marinha, como engenheiro, e ele trabalhou em submarinos no início do conflito mundial. Ocorre que Mussolini e o Führer alemão se desentenderam, e as tropas italianas foram em parte dispensadas. Com isso houve uma debandada de italianos para fora do país e da Europa. Seu Lino foi parar na Argentina e dali veio ao Brasil, indo morar em Porto Alegre, onde trabalhou durante o governo de Leonel Brizola. Na capital gaúcha ele encontrou a jovem Jacy Halfen, e com ela se casou. Como ela era de Taquara, Lino Dino se transferiu para Taquara e ali construiu sua carreira e ali também teve seus filhos. Seu Lino teve vida curta e infelizmente faleceu aos 48 anos, quando Angelo, seu filho, estava com apenas 10 anos de idade.
E aqui começa a biografia do doutor Angelo Frapiccini, que a cidade de Dois Irmãos tanto conhece e quer bem.
Angelo Eduardo Frapiccini nasceu em Taquara, no dia 24 de janeiro de 1961. Filho do engenheiro italiano Lino Dino Frapiccini e de Jacy Halfen Frapiccini, ele tem 4 irmãos: Eduardo e Roberto, que são engenheiros; Fernanda, que é professora; e Rosângela, que mora na Itália.
Angelo Estudou o Primário e o Ginásio em Taquara, no Colégio Santa Terezinha. Depois no Colégio do Rosário, em Porto Alegre, onde morou na Casa do Estudante. Concluiu o 2º Grau em 1978 e prestou vestibular, mas não passou.
Voltou a Taquara e trabalhou numa indústria de alimentos, de propriedade do então vice-presidente da República, Adalberto Pereira dos Santos.
Nesse período fez cursinho e prestou novo vestibular no final do ano. Aprovou em medicina na Universidade Católica de Pelotas no ano de 1979.
Morou em Pelotas até janeiro de 1985, quando entrou no 6º ano e aí mudou-se para Porto Alegre, a fim de fazer estágios no Grupo Hospitalar Conceição e Hospital Fêmina.
Findo os estágios, fez prova para Residência em ginecologia e obstetrícia, concluiu em 1987, ano em que recebeu seu registro definitivo de médico.
Angelo Frapiccini já conhecia Dois Irmãos porque é primo da professora Eliana Wolf, que era casada com Romeo Wolf. Ele vinha visitar a família e ficava na casa deles. E quando estava no 3º e 4º ano da faculdade, aproveitava para acompanhar as cirurgias do doutor Alexandre Tennenbaum, no Hospital São José.
No final da residência, em 1987, começou a trabalhar na cidade. Vinha nas sextas-feiras e fazia plantão no hospital até segunda pela manhã.
Nesse período, o médico ginecologista Roberto Durius o convidou a fazer parte do corpo clínico da cidade. E quando se formou, em 1987, Angelo decidiu que aqui seria a sua terra profissional.
Veio em 1988 e passou a atuar no hospital, fazendo plantões em todos os setores da medicina dia sim, dia não. Também entrou na Clínica Dois Irmãos, atendendo pacientes das indústrias locais. E abriu consultório particular, onde atendia especificamente ginecologia e obstetrícia.
Como obstetra, o doutor Angelo passou a ser o médico que atendia a grande maioria dos partos que ocorriam na cidade.
Ele não sabe ao certo, mas acredita que nestes 37 anos de atividade médica mais de 8 mil crianças vieram ao mundo assistidas por ele.
O doutor Angelo é casado com dona Lia Margarete Machado Frapiccini. Ele a conheceu em 1986, em Porto Alegre, numa noite em que ele, o irmão e um amigo foram ao bar Chipss, que era o “point” dos jovens na época.
Eles ficaram tomando drinques e ouvindo um conjunto que ao vivo tocava Beatles e Rolling Stones, e, lá pelas tantas, o amigo viu uma amiga sentada em uma mesa. E junto dela havia uma outra moça, muito bonita.
Angelo a viu e ela viu ele também. E sorriram. Então ele se aproximou. “Oi, meu nome é Angelo”. “Oi, o meu é Lia”.
Tocava Beatles, nessa hora. Ele estudava medicina e ela era professora estadual. A noite se alongou. E se iluminou. Cada um estava mais encantado que o outro. Flechados pelo cupido, ambos. E tão ligados estavam que se via corações ao redor deles.
Nos dias seguintes e dirigindo seu flamante Chevette, Angelo a buscou em casa para tomar chimarrão na Redenção. E a partir dali vieram muitos cinemas, teatros, passeios e um romance que os levaria a dizer o “Sim” no dia 16 de setembro de 1988, no civil e no religioso, com os sinos batendo lindamente na Igreja Santa Terezinha, junto ao Parque da Redenção, o local onde o casal deu o seu primeiro beijo.
Angelo já morava em Dois Irmãos nessa época e o casal fixou residência por aqui. Lia foi ser professora na Escola Estadual Affonso Wolf e aqui eles ampliaram a família recebendo seus dois filhos: o Gustavo, que é formado em Comércio Exterior e está com 32 anos, e o Fernando, que tem 29 anos e é graduado em Administração de Empresas.
Angelo e Lia sempre gostaram de viajar. A dois ou em família. E já conheceram dezenas de países, como Canadá, Estados Unidos, bem como países da América do Sul e Europa. Recentemente estiveram na Itália e na Grécia.
A vida de médico é estressante, e para relaxar Angelo por 15 anos jogou tênis no Clube 7 de Setembro. Com o tempo, passou a ter pequenos problemas na coluna e aí lembrou que na infância sofria de asma e o colocaram na natação. Ao largar o tênis, passou a fazer natação duas vezes por semana na Academia Vidativa.
Além disso, faz bicicleta ergométrica em casa e, acompanhado pelo Simbad, um Cocker spaniel que é seu cão de estimação, ele faz caminhadas por Dois Irmãos.
Sua bebida é o vinho e sua comida preferida é obviamente massa. Ou não seria Frapiccini, não é? E é cozinheiro, o doutor Angelo, se sai bem nas massas e nos molhos bolognesa, carbonara ou de pesto, que ele próprio prepara em casa.
Musicalmente ele gosta de rock e MPB. Para distrair-se, ele antigamente pescava em Imbé.
Dorme pouco. Seis horas se muito. E é metódico: não suporta bagunça.
Se dá bem com a tecnologia. E socialmente ajuda a AMO, uma entidade que atende crianças com câncer e para a qual ele transfere um auxílio mensal nos últimos 30 anos.
O doutor Angelo reconhece a importância da tecnologia em seu trabalho, mas afirma que jamais se deve descuidar da parte humana, da conversa com o paciente, da anamnese bem feita. E aos que pretendem seguir sua profissão, ele avisa: “Vá em frente, mas estude muito e se prepare para tristezas, alegrias e muito, muito, muito trabalho”.
Em quase 4 décadas de medicina o doutor Angelo teve muitas urgências em seu trabalho. Mas uma delas ele jamais esquece. É o de uma moça grávida que chegou apressada e tensa no seu consultório, sem ter marcado hora. Ele ao atendê-la estendeu a mão para cumprimentar e viu que ela não acertava a mão dele.
Oooopa! Angelo ligou os alertas.
Lhe mediu a pressão, com urgência, e viu que estava altíssima. Ela estava Grávida. Ela não enxergava direito. Ela estava com forte dor de cabeça.
As sirenes da mente do médico soaram e praticamente gritaram, dizendo-lhe:
- É pré-eclâmpsia!
Esse é o caso mais urgente das grávidas. Se não cuidado imediatamente morre a mãe e morre a criança, rapidamente. É tudo urgência, nesse caso. É tudo para ontem.
Angelo parou tudo que fazia. A pegou pelo braço e avisou para a secretária mandar o anestesista correr para a sala de cirurgia. Colocou a mulher no carro dele mesmo e acelerou para o hospital. Chegando lá a estabilizou e fez o parto de imediato. Salvou a criança e a mãe ele manteve por vários dias no hospital sob vigilância de tratamento intensivo, pois ainda corria risco.
Sobreviveram ambos. E “estão aí até hoje, firmes e fortes”, diz o doutor Angelo sorrindo feliz e com os olhos cheios daquela felicidade brilhante de quem por competência e esforço conseguiu ter a graça de salvar duas vidas.