Por Alan Caldas – Editor (De Alicante, Espanha)
A festa de São João (Batista, padroeiro de Alicante) é mundial e data de centenas de anos. Mas, aqui em Alicante, as fogueiras despertaram interesse internacional, devido a construções de carros e alegorias imensas que, ao final da festa, vão todos VIRAR FOGO.
A ideia começou no passado. Pessoas levando móveis e trastes velhos que tinham para queimar na fogueira em frente à casa. A ideia era recomeçar TUDO. Também aproveitavam a noite mais curta do ano (20 para 21) para matar os males, todos, que afligiam agricultores e pescadores. Desse evento, metade festa metade crendice, a ação evoluiu para imensa festividade de bairros. Cada bairro com fogueira mais viva e maior que a outra. Por fim, anos atrás, as Fogueiras de Alicante se tornaram um “Bem Imaterial de Interesse Cultural”. E, dali, num salto cultural e econômico, tornaram-se “Fiesta de Interés Turístico INTERNACIONAL”.
Por duas semanas, então, Alicante, que está às margens do Mediterrâneo, respira e transpira com seu calor físico e humano dias e noites de alegria intensa. As fogueiras são o show. Nelas queimam-se as alegorias gigantescas (fotos), feitas de madeira, cortiça e papelão em cores vivas. As alegorias que se parecem com as do nosso carnaval, aqui estão em diversos pontos da cidade. E, ao final, serão todas queimadas. Elas representam vários personagens, públicos ou não. Os nativos alicantes e turistas passeiam pelos bairros para visitar as diferentes fogueiras de cada um e para ver qual a alegoria mais original, qual a maior, e tentam adivinhar “quais” serão as vencedoras do concurso de fogueiras.
As festividades começam com o chamado “plantá”. É o momento em que são montadas as diferentes fogueiras, obrigatoriamente a partir de 19 de junho. Nesse dia, são também instalados os quartéis ou racós. Os “QGs”, como dizíamos nas gincanas, lembra? Os “quartéis” (ou racós) são o ponto de encontro das comissões de cada fogueira. Todos os que participam da festa se encontram neles. No dia 21 de junho, ocorre um desfile de bandas de música, junto com suas madrinhas. Todos vestidos com trajes tradicionais da região valenciana, onde está esta cidade de Alicante.
É lindo, isso. E nesta semana estávamos vendo por toda cidade crianças, jovens, adultos e idosos tradicionalmente vestidos. No dia 22 eles oferecem flores à Virgem do Remédio. É a padroeira de Alicante. No dia 23, ocorre o coloridíssimo e barulhento desfile folclórico internacional. Foguetes e fogos de artifício (com som) são escutados pela cidade inteira, durante as semanas do evento. É bam! bam! bam!... o tempo todo. Bala e bala.
Os “mascletás” são espetáculos pirotécnicos diurnos e com grande barulho. Ocorrem de 19 a 24 de junho e fazem parte do ‘Concurso de Espectáculos de Fogo de Artifício’, organizado pela Câmara Municipal de Alicante. O tiroteio dos mascletás tem duração mínima de 6 minutos e meio, e obrigatoriamente começam a explodir às 14h. Acontecem na Plaza de los Luceros. E as pessoas se acotovelam nessa praça horas antes para ver o início, acompanhado com gritos empolgados de ‘Olé! Olééé...’ O cheiro de pólvora é inebriante.
No último dia, que é 24 de junho, à meia-noite chega o momento mais emocionante: o “cremà”. Atrás de uma palmeira de fogos de artifício, a fogueira da Câmara Municipal (sede do governo da cidade) começa a arder. Depois dessa primeira queima, e durante toda a noite, seguem-se as restantes fogueiras espalhadas pela estonteante Alicante.
A comida da festa da São João é muito importante, especialmente durante o “plantá”. Quando a noite cai, a música chega ao quartel e começa a festa da noite. Há quartéis (os QGs) em praticamente todos os bairros de Alicante. Em geral, o acesso a essas festas é restrito às pessoas que fazem parte da comissão de cada “Hoguera”, fogueira. Mas há muita entrada gratuita, como a Barraca Popular e os racós de muitos bares da cidade. Uma série de vários concursos de fogos de artifício, realizado na praia do Cocó durante os dias 25 a 29 de junho, fará o fechamento da Festa de São João aqui em Alicante, na Espanha.
Durante todas essas duas semanas, Alicante ficará lotada de turistas europeus que aproveitam no evento a culinária alicantina repleta de arroz (arroz Banda, Paella, arroz negro etc., etc., etc., pois o arroz é a estrela da culinária Valenciana) com sua sangria, ou “tinto de verano”, ou “verdejos” ou diversas cervejas agora em moda por aqui.
A cidade é belíssima. Tem um porto exuberante. Imensos iates que, na Europa, só se vê em Mônaco. A praia é deslumbrante. Água quente e ondas levinhas. Não é mar de tombo. Se caminha metros e metros mar adentro.
Detalhe: topless aqui é normal, feito descontraidamente, ao natural, por mocinhas, jovens, senhoras e idosas. Tudo 100% civilizado. Reparo, porém, que a maioria é de mulheres de pele claríssima. As “do Norte”, suponho. Nenhuma árabe. Nenhuma asiática. E, arrisco dizer, quase zero espanholas.
O Calçadão da praia é “algo”. Veja na foto. É uma avenida, de tão grande. A calçada é toda em mármore preto, creme e vermelho. Para lá de chic. E o desenho no chão imita as (leves) ondas que temos ali na praia. Acredita?
As ruas ficam vazias entre 13 e 17 horas. O sol é devastador. Fazem a “siesta”. Reabrem quando o sol vai se agonizando. Aí é festa nos bares, restaurantes e cafeterias. Comida, bebida, dança, um alto e intenso bater de pés e de mãos, ao som das castanholas e guitarras ciganas, com gritos de “dá-le!” acompanhando a vida que aqui é uma festa regada a vinho. Frutos do mar a varrer. E o arroz é a estrela culinária, como disse antes.
A noite chega bem tarde. Noite, mesmo, com céu escuro e estrelas, só lá pelas 23 horas. Antes é céu claro. O calor é “algo”. Hoje, oscilou entre 22°C e 37°C. E ainda é Primavera.
Alicante é uma Babel.
Cosmopolita 100%, em restaurante, bar, rua ou praia, ouve-se todas as línguas sendo faladas. É incrível ouvir tantas vozes. Em 5 minutos, contei, hoje, aqui num bar, mais de 15 diferentes idiomas pedindo “sangria”. Era inglês, francês, português, árabe, sueco, russo, chinês, japonês, polonês, vários dialetos africanos etc., ... nooossa, tem todos os sons por aqui. É uma Babel.
Os alicantes têm estatura um pouco mais baixa que os espanhóis de Madri. Ou mesmo que os de Segóvia e Ávila. Merece um estudo. Sua tez é clara e limpa. Têm cabelos negros. Homens parecem ter pouco cabelo, e se vê muito homem careca por aqui. São magros. As mulheres são um pouco mais baixas, se comparadas a nós, gaúchos, e têm olhos amendoados, talvez pela influência árabe de tantos séculos aqui na península Ibérica. E são elegantes, todos. Bem, bem elegantes. E discretos no olhar. Ninguém te encara.
Também são gentis, todos, sorridentes e muito atenciosos. Gostam de dar informações. E adoram contar sobre Alicante e suas festas.
Segurança? 100%.
Limpeza? 100%.
Organização? 100%.
Educação? 100%.
É um encanto, a Espanha. É território à parte no mundo. É tão culturalmente fantástica, a Espanha, que nem parece ser deste mundo.