Por Alan Caldas – Editor (De Almería, Espanha)
Dias atrás escrevi que a Espanha é tão diferente que nem parece deste mundo.
Ontem, vindo de Torrevieja para Almería, meio que confirmei isso.
Viajando por estrada secundária, caímos dentro de um deserto. Um deserto? Isso, um deserto.
Levamos um susto. A imagem daquela cadeia de montanhas apareceu logo após uma imensa, uma colossal, uma indescritível plantação de azeitonas. Não uma lavoura qualquer. Andamos mais de 10 quilômetros de oliveiras a perder de vista no horizonte para os DOIS LADOS da estrada. Nunca tínhamos visto nada nem parecido. De cair o queixo MESMO.
Então, de soco entramos numa paisagem que (embora eu não tenha estado lá “ainda” Kkkk...) se parecia EM TUDO com as que se tem daqueles desfiladeiros DA LUA.
“O que é isso?!!!” – nos perguntamos.
Não parecia ser a Terra. Montanhas áridas, sem vegetação, e uma cadeia sem fim delas. E vales. E canyons. E tudo seco. Tudo íngreme. Uma imagem linda. E assustadora. Um mundo à parte neste tão civilizado mundo europeu. Realmente de ficar boquiaberto. De rir sozinho.
É o Deserto de Tabernas. Ele está na área de Almería, cidade que pertence à Andaluzia. É 280 km de deserto...
Sinceramente? Nem sabia que a Europa tinha deserto!
E me veio uma dúvida:
– Como é que uma terra tão generosa para a agricultura como a da Espanha pode, do nada, gerar um deserto?
Mistééééério!!!!
Segundo estudos, o deserto de Tabernas existe devido a sua posição geográfica. Ele está entre duas Serras: a de “los Filabres”, a Norte, e a de “Alhamilla”, a Sudoeste. Essas duas Serras “isolam” aqueles 280 km² e impedem que chegue lá as correntes úmidas do mar Mediterrâneo (que está a poucos quilômetros dali).
Com isso, praticamente não chove em Tabernas. Só míseros 243mm de chuva ao ano. A isso, soma-se a altíssima temperatura ao longo de todo o ano. Soma-se a posição solar que lhe faz ter 3 MIL horas-sol ano.
Além disso, ali tem o vento Föhn, um vento persistente que sobe a montanha e, ao subir, “se orvalha”, mas que imediatamente desce pelo outro lado e se torna mais rápido, quente e seco, letal para a vegetação. A isso, soma-se o problema de que quando chove é de “dilúvio”, e a água leva tudo por diante. Forma-se, assim, o clima ideal, no qual emergiu este incrível e surpreendente deserto.
Como tudo pode virar atração, o deserto de Tabernas também virou. Ele foi utilizado para filmes de atores famosos em cenas de faroeste. Sérgio Leone, Clint Eastwood, Henry Fonda, Charles Bronson, Jason Robards e Claudia Cardinale. Nesse deserto de Tabernas foi rodado parte do filme “Sol Vermelho”, Lawrence da Arábia, Cleópatra, Patton, Conan, o Bárbaro e Indiana Jones e a Última Cruzada. Em “troca” de tantas filmagens, ficou no local uma Cidade Cenográfica, transformada, agora, em um tipo de “resort”, e que chamam de Mini Hollywood.
A vida sempre surpreende. E essa do deserto, sinceramente, foi beeeem surpreendente.