Padre Ariel Luiz Bühler – Paróquia São Miguel (Dois Irmãos)
A Palavra de Deus usa as palavras caridade e amor com o mesmo sentido. São João diz que: “Deus é amor”. Do latim, “Deus caritas est” (1 João 4,8). Se Deus é caridade, então, não há nada mais importante do que ela.
Quando São Paulo explica a profundidade do que seja a caridade, ele nos oferece uma visão ampla do seu sentido. Todo o capítulo 13 de sua primeira Carta é para explicar o seu vasto significado: o Apóstolo revela que nada tem sentido, nem as boas obras, se não houver a caridade:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!” (1 Cor 13,1-3).
Podemos ver que o conceito de caridade é muito mais amplo do que apenas dar esmolas, empregar os dons carismáticos ou fazer filantropia. A caridade, o amor, envolve toda a vida da pessoa, seu comportamento em relação aos outros e as virtudes mais importantes como São Paulo explica:
“A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13,4-7).
Podemos dizer que a caridade é a essência da santidade, já que Deus é Santo, e é Amor. É o grande fruto do Espírito Santo: “O fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade” (Gal 5,22). “Pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4,15).
São Paulo deixa claro que o amor é a única virtude que permanecerá na eternidade:
“A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade” (1 Cor 13, 8-13). Portanto, quem a vive se aproxima do eterno, daquilo que jamais acabará.
Para a vida cristã, a caridade perfeita é “amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a nós mesmos”. A caridade para com os outros é consequência do amor a Deus. É por amor a Deus, nosso Bem absoluto, nosso Criador e Redentor, que somos caridosos com os outros. O livro dos provérbios diz: “Quem se apieda do pobre, empresta ao Senhor, que lhe restituirá o benefício” (Prov. 19,17). Jesus se identifica com a pessoa que precisa de nossa caridade; sejam pelas obras de misericórdia material ou espiritual. “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes” (Mt 25,40).
Quando São Paulo perseguia os cristãos, Jesus não lhe perguntou o porquê dele os perseguir, e sim o porquê de O perseguir: “Saulo, Saulo, por que me persegues? ” (At 9,4). É o próprio Jesus que está preso, doente, nu, faminto, desabrigado, deprimido, angustiado, sofrendo como ovelha sem pastor…
Esperando a nossa caridade. É isso que diferencia a caridade da filantropia, que pode ser praticada mesmo por quem é ateu. Vivamos a verdadeira Caridade!
* Padre Ariel Luiz Bühler é Reitor do Seminário Maria Auxiliadora