Por Alan Caldas – Editor
Passando aqui em Porto Alegre acabei chegando na rua Caldas Júnior. Essa esquina e eu somos como amantes mal resolvidos.
Ali na esquina, nesse prédio estiloso e refinado, era a sede da Empresa Jornalística Caldas Júnior. O quartel general dos jornais Correio do Povo e da inesquecível Folha da Tarde. Também ali, a mando do doutor Breno Caldas, o genial Flávio Alcaraz Gomes abriu em 1957 a Rádio Guaíba. A mesma rádio moderna que, 4 anos depois e para evitar o golpe militar, em 1961 o ainda jovem e impetuoso governador Leonel de Moura Brizola enfrentando as trevas “requisitou” para ser a Rádio da Legalidade. Rádio que transmitiu para o Brasil a “resistência”, única resistência no país, aos deputados e militares golpistas que com a renúncia de Jânio Quadros (durante um porre inesquecível) queriam já em 1961 colocar na presidência os militares e não o vice-presidente, João Goulart, que além de gaúcho era cunhado de Leonel Brizola, o mais “Partisan” dos gaúchos.
A “Caldas Júnior” foi, eu ainda garoto, o meu “debut” na área de comunicação. Ali no Correio do Povo, Folha da Tarde, Rádio e TV Guaíba conheci e convivi com os profissionais mais cultos, afiados e respeitados da imprensa rio-grandense. Nunca tiveram substitutos. E, desgraçadamente, morreram todos, um a um. Que Deus os tenha.
Passando aqui na frente, olhei naquelas janelas. Fez-se um silêncio na minha cabeça. E, na imaginação, vi cada um daqueles gigantes do jornalismo e radiojornalismo me sorrindo de lá. Vi eles me abanando. E ouvi eles me perguntarem:
– E aí guri, como está o Vale do Sapateiro?
Era como eles me tratavam quando comecei nesta “carreira” jornalística sem fim.
Dei uma parada na esquina. Olhei aquele prédio. Olhei meu tempo. Olhei a mim. E ao olhar a foto me vi assim, madurão, tipo veterano, de cabelos brancos, e senti uma profunda alegria de ter tido a chance de conviver e aprender com tantos colegas geniais.
Sou meio que Heideggeriano. Sei que só existe o agora. Este instante. E nada se prende ao tempo, que é um Ser próprio e independente. Sei disso porque sinto isso. Tudo é aqui. Tudo é agora. Não ontem. Nem amanhã. Eu sei.
Mas... bah... que tempo de mentes luminosas foi aquele em nossa profissão.
Que época! Aquilo foi mais que uma época. Foi uma Era.
E, como tudo... já era!
Abanei para os fantasmas que seguiam me sorrindo de cada uma daquelas janelas e saí a passo curto, como é o passo da vida. Já lá na esquina, me virei uma última vez e ouvi nosso colega e poeta Mário Quintana que estava ao lado do seu Jayme Copstein, do Sérgio Jockymann e do Walter Galvani me dizendo:
“Alan, a amizade é um amor que nunca morre”.
Então dobrei a esquina. E “vimmembora”, porque o tempo é cruel, não se detém e nem se apieda dos fracos.