Por Alan Caldas – Editor
Sérgio Evaldo Wirth nasceu no Hospital São José. Era o dia 9 de fevereiro de 1956. Seu pai era o empresário João Arlindo Wirth. Sua mãe, dona Nilda Wirth, dona de casa.
A família não era grande. Tinha o irmão mais velho, Ricardo José Wirth, e depois veio o irmão Marco Aurélio.
Sérgio estudou 1 ano na Escola Paroquial São Miguel. Em seguida no Colégio Imaculada Conceição, onde cursou o primário e ginasial. O segundo grau ele completou em Novo Hamburgo, na Escola Estadual 25 de Julho. Em 1976 fez vestibular para Administração, na Feevale. Não concluiu porque optou por cursos técnicos, no Senai, e outros de maior valia na fábrica. Cursou Cronometragem, Planejamento de Produção e fez várias jornadas no próprio Senai, na Escola de Curtimento e noutras.
Cresceu entre sapatos. Começou aos 14 anos, no dia 1º de abril de 1970, na hoje Indústria de Calçados Wirth. Entrou no serviço geral, ganhando meio salário mínimo. E foi aprendendo: do início. Do serviço geral foi para o corte, depois para a costura e seguiu setor a setor.
Nessa época já tinha terminado o ginásio. E sua rotina era de aprendizado e prática. De manhã ia na fábrica. De tarde ia de ônibus para o Senai, em Novo Hamburgo, onde fazia o curso de modelagem de calçados. Na parte da noite estudava na Escola 25 de Julho.
Em 1972, Sérgio já com 16 anos, seu pai o levou na sua primeira viagem. Foram de ônibus até São Paulo. Dali ao Rio. E depois a Minas Gerais. Viagem de negócio. Visita aos representantes da empresa, visitas aos clientes e cobranças.
Sérgio não esquece essa viagem: foi lá que ele comeu o primeiro risoto “bem feito”. E também foi lá que pela primeira vez entrou no estádio Morumbi.
Seu Arlindo delegava poderes. E assim que voltaram ele avisou ao Sérgio:
– De agora em diante você irá sozinho nas viagens.
Sérgio adorou. E começava ali uma jornada de viagens a negócio ou não, que o levariam ao longo da vida a carimbar completamente 15 ou até mais passaportes pelos países do mundo, sempre garimpando clientes e tendências mundiais de sapato.
Em outra viagem inesquecível, ainda no Brasil, Sérgio foi com o irmão Marco Aurélio para Belo Horizonte. E lá o representante da Wirth ofereceu o veículo dele, um Opala, para Sérgio e Marco Aurélio andarem pela região. Sérgio e o irmão foram a Ouro Preto, naquele ano de 1975.
Infelizmente, diz Sérgio com o olhar triste, “essa foi a única viagem que fiz com meu irmão Marco Aurélio”.
A vida tem alegrias e tristezas. Marco Aurélio tinha 16 anos quando Sérgio, ele e o amigo Luiz Fernando Kuntzler sofreram um acidente gravíssimo. Os três iriam a Novo Hamburgo. Sérgio estava dirigindo. E, na BR-116, na curva logo abaixo do posto Wendling, um carro vindo na direção contrária foi ultrapassar um caminhão. Ao fazer isso de forma errada e abrupta, não viu o carro deles. Bateram de frente. Marco Aurélio perdeu a vida. Uma desgraça. Sérgio e o irmão eram muito, muito próximos.
A vida seguiu. Bem mais triste. Mas tinha de seguir. Sérgio foi se aperfeiçoando na arte de fazer sapatos. Passou a quase morar dentro da fábrica. O trabalho lhe dava foco e tirava um pouco daquela lembrança tão ruim. E assim os anos foram rolando pelo tempo.
Em 1981 Sérgio namorava a também dois-irmonense Jane Wittmann. Casaram. Mas o enlace durou apenas 1 ano e meio. E como toda separação deixa marcas que não dá para apagar, o jovem Sérgio decidiu ficar solteiro. E até 1999 não houve alguém fixo em sua vida.
O coração resiste. Fica mudo. Mas não se entrega. E certa feita uma dentista que atendia na fábrica Wirth precisou sair. Em sua substituição veio uma dentista de Caxias do Sul. Uma filha de italianos. Morena. Culta. Inteligente. E com voz clara como todos os italianos. Era Tatiana Marcon Machado. E Sérgio inicialmente só a viu como colega.
Ela vinha de ônibus de Caxias do Sul para cá, aos domingos. Chegava na parte da tarde e se alojava no dormitório que a Wirth havia construído.
Sérgio conversava com ela. E como ela não tinha o que fazer nos fins de tarde, vez que outra ele a convidava para ir ao cinema. Ou para comer pizza. E a amizade e interesse foram crescendo. Mas sempre somente como colegas.
Certo domingo Sérgio achou estranho que ele estava pensando “a que horas” a dentista Tatiana chegaria naquele dia. E o pensamento persistiu. Quando estava no horário da chegada do Caxiense na rodoviária, Sérgio “por acaso” estava passando por lá. Ahããã... E lhe deu uma carona. E teve cinema. E janta. E no próximo domingo novamente. E assim foi que o coração do Sérgio, fechado a 7 chaves desde 1982, foi lentamente se abrindo. E o amor, que sabiamente desconhece porta, foi entrando. No dele. E no dela.
Casaram em 19 de dezembro de 1999, na localidade de Ana Rech, em Caxias do Sul. Vivem felizes. E em 2003 receberam cheios de amor e luz a adorável Júlia, que hoje estuda Design na Unisinos.
Sérgio teve sempre boa participação social. Ajudou a fundar ‘Os Lobons’, primeiro clube festivo da cidade. No esporte esteve junto quando o Vila Rosa ganhou o título Sul-brasileiro. Hoje sua vida é a maior parte do tempo 100% familiar.
Está com 67 anos. Tem 1,65m. Pesa 75 quilos. E calça sapato 40. Antes caminhava e jogava. A artrose não lhe permite mais. Faz esteira na academia. E nada na piscina. Gosta de música retrô, anos 1960 a 90, e destaca Roy Orbison como preferido.
Atualmente não lê tanto, devido a um problema ocular. Mas lia em inglês e alemão. Não cozinha, mas gosta de comer. É louco pelo tortéi que a esposa Tatiana faz. Gosta dos risotos e de grelhados. Não bebe. Mas se bebe é vinho. Aprecia pinot noir, tannat, Chianti. Tintos, todos. Dorme bem, 6 a 7 horas por dia. E sonha. A cores. Nos sonhos, diz ele, muitos amigos do passado lhe vêm à mente. Não joga. Quando joga é canastra entre amigos. Não tem doença. Nem na infância teve. É organizado. O guarda-roupa tem de estar arrumadinho e os calçados sempre bem engraxados. A pia da cozinha precisa estar sempre bem limpa. Mas a sala, por exemplo, se está meio bagunçada ele nem liga. Já no serviço é tudo 100% organizado.
Trabalha desde os 14. E quando se pergunta que conselho daria aos que desejam enveredar por essa área empresarial, Sérgio diz que é preciso pensar a trajetória que pretende. Tem de ter objetivo claro. Precisa adquirir conhecimento dentro desse objetivo e seguir etapas. Se precisa aprender o que se vai fazer e aprender mesmo sem muito ganho, mas aprender. Precisa, também, tentar ser o melhor. E ser persistente, aguardar que o tempo vá realizando seu trabalho junto a todas essas etapas.
Sérgio é um ser humano que, entre nós, faz parte das pessoas raras que procuraram levar Dois Irmãos ao desenvolvimento. E esse desejo de ver Dois Irmãos cada vez mais desenvolvida é o que confere para a empresa Wirth uma importância coletiva em Dois Irmãos em seus quase 80 anos de existência, muitos dos quais com o Sérgio totalmente dentro dela.