Por Alan Caldas – Editor (De Granada, Espanha)
Em uma área de 88 km² (Dois Irmãos tem 66) está Granada, um ícone da Espanha. Cantada em prosas, versos, poesias e músicas, Granada é herdeira de uma magnífica herança muçulmana, do islamismo que lhe deu Alhambra, o mais espetacular castelo deste país de tantos castelos.
Granada é “tão-tão”, que tem até um slogan grandioso, que diz:
– Muito nobre, muito leal, nomeada, grande, famosa e heroica cidade de Granada!
Você já viu isso? Viu slogan ufanista de cidade como esse em algum lugar? Eu, nunca!
Granada faz jus ao slogan que tem.
Aos pés da Sierra Nevada, num espaço de terra semelhante a Dois Irmãos, vivem mais de 200 mil pessoas. Muitas delas com história no passado. Aqui o tempo sobrevive no romantismo e força da música, da dança, do canto cigano, dos costumes mouros ou do Leste que, ao longo de milhares de anos, perpetuaram um genial modo de viver, de comer, beber, vestir, se relacionar e negociar.
Há aqui em Granada um Mercado Árabe, composto por muitas e muitas lojinhas e lojões. Como todo bom mercado árabe, ali tudo tem “preço inicial”. Aceita-se propostas. Nada é engessado. É lindo, isso, porque o preço é, de fato, só uma “sugestão”, e abre-se, então, a possibilidade de “outra proposta”. De conversar, pechinchar, interagir.
Os árabes são grandes negociantes. E são pessoas muito, muito queridas. São agradáveis no olhar, no falar, no sorrir, no oferecer seu produto, que explicam nos míííínimos detalhes. São de uma gentileza assombrosa, os comerciantes árabes, sejam homens ou mulheres.
Em outra parte de Granada está o bairro cigano Albaicin, um centro cultural importantíssimo, com ruas de largura mínima, com construções de séculos passados, repleto de sons de violão cigano, com suas vozes de canto em tons altos e normalmente sofrido, e com seu sapateado e suas castanholas marcando o compasso do bater de pés e mãos que nos faz sonhar com lendas antigas.
Na parte altíssima, fica imponente o castelo de Alhambra. Um símbolo do islamismo, quando os árabes, então derrotados em batalhas de terras distantes, vieram fixar-se aqui e ergueram essa maravilha da engenharia, arquitetura e hidráulica que legariam para a posteridade, beneficiando a Europa aquém e além cordilheira dos Pirineus.
Alhambra é “algo”. São vários castelos e jardins, mandados construir pelo Sultão Maomé I.
Não tem como explicar Alhambra...
Só vendo, para entender a imensidão de pequenos detalhes islâmicos erguidos de cima a baixo em paredes, tetos, portas, janelas, jardins, salões de banho e sauna, fontes, auditórios, torres, tudo, tudo, tudo literalmente islâmico e COLOSSAL.
Alhambra foi o último bastião muçulmano a cair na Espanha por séculos conquistada pelos povos árabes. Foi o Rei Fernando e sua genial rainha, Isabel, A Católica, que durante 10 anos travaram dia e noite a mais extensa e violenta guerra, até conseguir “cristianizar” a península Ibérica.
Conquistada Granada (cujo nome vem do romã, aquela fruta cheia de “grãos”), Fernando e Isabel trataram de pacificar a área, e assim foi que surgiu esse incrível e adorável convívio de culturas hispânica, árabe e cigana, que fez esta cidade se tornar um monumento ao convívio humano pleno de respeito e cortesia às diferentes formas de Ser. Muito do que o mundo viu e vê de respeito “ao outro”, seja gênero, origem, cor ou condição financeira, começou antes aqui, tenha certeza.
Granada é “fora da curva”, de tão incrível. Um povo elegante, afável, ruas lindas, bairros repletos de praças com pequenas e grandes fontes de água, de igrejas magníficas, de mesquitas maravilhosas, e de convívio.
O calor fenomenal do verão faz com que o comércio normal feche as 14 e volte lá pelas 18 horas, para, então, ir noite adentro. E bares, cafés, restaurantes, praças, ruas ficam lotadas na famosa (e aqui muito elegante) “movida”, que é como os espanhóis chamam esse ir-e-vir de pessoas sempre falando, cantando, sorrindo e se cumprimentando (que aqui é demonstração de cortesia “e” respeito).
É um povo lindo. Numa cidade linda. Com costumes lindos. Numa reunião de muitas culturas igualmente lindas.
Burkas e shortinhos, paletó e bermudão, salto alto e chinelo de dedo, vestido longo e seios quase à mostra, tudo aqui convive na mais delicada e assombrosa mansidão.
Como diz a música, “Granada, tierra soñada por mi”. Mais que cidade. Quase uma utopia.