Fonte: Expointer – Foto: Fernando Dias/Ascom Seapi
Uma planta trepadeira cujas flores cabem na palma da mão e descem muito bem ao paladar de quem aprecia uma boa cerveja artesanal. O lúpulo, com toda a sua variedade de produção, virou assunto de interesse da agricultura e de pesquisadores nos últimos tempos.
Principal insumo para a confecção de cervejas, o humulus lúpulos, como é chamado cientificamente, vem ganhando espaço na produção brasileira e já demonstra ser uma das culturas com tendência de expansão a médio prazo. No Rio Grande do Sul, o destaque que as microcervejarias vêm conquistando vai ao encontro do aumento do número de agricultores que passaram a cultivar a planta.
A pesquisa realizada pela Emater, em parceria com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul (Seapi), mapeou os 497 municípios do Estado para traçar o perfil de quem produz lúpulo aqui. Foram identificados e elencados 40 produtores da planta, que em sua maioria são também cervejeiros. Esse dado confirma o desenvolvimento do setor de microcervejarias e a relação com o fomento à produção de lúpulo no Estado, uma vez que essa combinação barateia a produção local.
O gerente técnico adjunto da Emater, Luís Bohn, afirma que a pesquisa demonstrou uma radiografia socioeconômica e deu um norte para que sejam pensadas novas pesquisas daqui para frente. “São pequenas áreas ainda, mas com muita possibilidade de aumentar para atender às cervejarias artesanais, que demandam novos sabores e buscam aromas diferentes”, argumentou.
Pesquisador do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Seapi, Alexander Cenci, conta que em 2020 a Câmara Setorial das Bebidas Regionais solicitou que fossem iniciadas atividades e pesquisa na área do lúpulo, pois era algo que vinha acontecendo no Brasil inteiro e estava iniciando no Rio Grande do Sul. “Então o DDPA, onde eu e outros colegas somos pesquisadores, iniciou esse trabalho de diagnóstico e conseguimos a partir desses resultados entender melhor como que a cadeia produtiva do lúpulo estava se estruturando inicialmente no estado. 90% dos produtores do Rio Grande do Sul que produzem até um hectare estão experimentando como funciona a produção de lúpulo aqui”, explica Cenci.
Atualmente o lúpulo é produzido em escala mundial, então alguns países da Europa, Estados Unidos e China, por exemplo, são lugares que possuem expertise, onde essa produção já é consolidada. As grandes cervejarias, as microcervejarias e os cervejeiros caseiros consomem lúpulo importado, mas, de acordo com o pesquisador do DDPA, se percebe que havendo produção em nível nacional, se consegue elaborar produtos com características particulares do local de produção.
“Com essa expansão do mercado cervejeiro de produção artesanal, outras demandas por insumos começaram a aparecer. A perspectiva de implantação desses resultados é no sentido de poder, gradativamente, substituir esses materiais que hoje são plenamente importados por materiais nacionais, com características de sabor, aroma e amargor próprios do Rio Grande do Sul. Nos próximos anos, teremos resultados mais efetivos sobre as particularidades dessas variedades, observando como se adaptam no Estado”, completa o pesquisador.
Algumas produções de lúpulo nacional já aparecem em rótulos e torneiras em pubs e cervejarias. A Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo) foi fundada em 2018 com objetivo de unir os produtores, difundir informação e fazer a ponte entre os produtores e as iniciativas públicas ou privadas que venham a somar no setor. A associação vem acompanhando o crescimento das cervejarias e a própria evolução e tecnificação do lúpulo nacional. Conforme o Secretário Administrativo da Aprolúpulo, Marcus Outemane, hoje existe um movimento de retorno dos filhos de agricultores à zona rural, buscando uma alternativa diferente das tradicionais e rentável em pequenas áreas. Assim, o lúpulo acaba se encaixando e encantando esses agricultores jovens. De acordo com a pesquisa realizada pela Emater e Seapi, entre os entrevistados 55% tinham entre 30 e 39 anos de idade.
NÚMEROS
O Brasil é o terceiro maior produtor de cerveja do mundo, representa 2% do nosso PIB, R$ 49 bilhões em impostos, 2,7 milhões de empregos diretos e mais de 15,1 bilhões de litros por ano. De acordo com o último levantamento do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), há 1729 cervejarias no Brasil e o Rio Grande do Sul é o segundo estado com mais cervejarias (310 estabelecimentos). As microcervejarias, mesmo representando aproximadamente 2% da produção nacional, geram 54% dos empregos diretos do setor.
Este ano, somando esforços com a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cerveja, o lúpulo foi enquadrado em uma linha de financiamento que vem auxiliando no crescimento da cultura no Brasil, mostrando qualidade, dando segurança ao mercado cervejeiro e ainda abrindo novos horizontes para novas receitas e estilos surgirem nos próximos anos.