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O ano de 2024 começou com um alerta sobre os dados da dengue no Rio Grande do Sul. Em apenas quatro semanas, mais de 2 mil casos já tinham sido confirmados no Estado, situação nunca vista antes. Essa crescente se refletiu na quantidade de óbitos causados pela doença. Em 11 meses, foram confirmadas 281 mortes no RS, duas vezes mais do que todas as vítimas entre os anos de 2015 e 2023, que foram 140.
O período com mais mortes, neste ano, foi entre o começo de março até metade de maio. Ao longo de 11 semanas, 233 pacientes faleceram, uma média de 21 óbitos por semana. Em 2023, durante o mesmo período, foram registradas 43 mortes, ou seja, 3,9 óbitos por semana.
– Foi o pior ano dos últimos nove em termos de taxa de incidência e, como consequência, se tivemos maior número de casos, mesmo a dengue sendo autolimitada, ela pode se agravar e levar a óbito. Então, o número é proporcional aos casos confirmados – afirma Roberta Vanacor, chefe da Divisão de Epidemiologia do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS).
Mais da metade dos óbitos deste ano foram de pacientes com 70 anos ou mais. De acordo com os dados da Secretaria do Estado da Saúde (SES), foram registradas 81 mortes de pessoas com idade entre 70 e 79 anos e outros 83 óbitos de pacientes com 80 anos ou mais. Além disso, 51,6% (145) eram homens.
Aumento de casos
O número total de casos de dengue em 2024 também foi recorde. De janeiro até metade do mês de novembro, foram confirmados mais de 205 mil pacientes com a doença no RS. Se somar todos os casos registrados entre os anos de 2015 e 2023 no Estado, o resultado é de 125.504 ocorrências. Valor que foi superado ainda em abril deste ano, quando já tinham sido confirmadas mais de 130 mil pessoas infectadas.
– A gente presenciou um evento climático atípico em setembro de 2023, de chuvas intensas, com mais cem municípios acometidos, que criou a possibilidade de novos criadouros do mosquito. Com períodos de temperatura amena e muitas vezes de calor intenso, inclusive no inverno, ocorreu um favorecimento no ciclo de reprodução do Aedes aegypti, que repercutiu nesse aumento de casos – explica Roberta, sobre a correlação entre o aumento e as situações adversas enfrentadas.
Apesar dos elevados números, quando analisado o gráfico de casos por semana epidemiológica, o comportamento da doença em 2024 não foi muito diferente dos outros anos. Isso porque a curva do crescimento e da queda na quantidade de pacientes confirmados segue concentrada até a 27ª semana epidemiológica, que corresponde com o início do mês de julho.
Momento crucial
Uma mudança nas últimas semanas de 2023 teve reflexo direto nas quatro primeiras semanas de 2024. Ano passado foi o único, desde 2015, em que foi registrado um crescimento no mês de novembro. A tendência é de que o cenário, que foi causado pelas chuvas intensas e pela alta variação climática, se repita nos próximos meses.
– Passamos pela maior catástrofe climática da nossa história em 2024. Então, a partir daí, já se criou a possibilidade de que se tenham sido criados muitos ambientes favoráveis ao ciclo de vida do mosquito. Por isso, a gente imagina que nessas últimas semanas, já se tenha uma curva em ascensão no número de casos – alerta.
Para tentar controlar esse aumento, o governo do Estado está em operacionalização de um plano de contingência de enfrentamento à dengue para o período de 2024 e 2025, lançado em outubro. O objetivo é traçar ações estratégicas de controle e enfrentamento, para evitar que cenários como o enfrentado no final do ano passado se repitam. Ele prevê também medidas a serem implementadas a partir de cinco estágios operacionais: normalidade, mobilização, alerta, emergência e crise.
– Queremos que essa curva não acelere ou se acentue, então precisamos que sejam implementadas uma série de medidas ambientais para eliminar criadouros e focos do mosquito. Por isso, é necessário a cooperação dos municípios, mas também da população, que o cidadão faça parte desse enfrentamento, seja eliminando água parada, cuidando o entorno da sua casa – finaliza Roberta.