Fonte: G1 Bem Estar
Com a gradual retomada das consultas, os médicos já vinham observando o problema em seus consultórios, e agora uma pesquisa internacional confirma a gravidade da situação: o isolamento provocado pela Covid-19 teve um impacto bastante negativo no aumento de peso e controle da glicemia dos portadores de diabetes tipo 2.
O interessante é que, entre os pacientes com diabetes tipo 1, aconteceu o oposto. Trata-se de uma revisão e meta-análise (técnica estatística para integrar resultados de diferentes levantamentos) de 33 trabalhos que cobrem dez países e 4.700 pessoas. Foi apresentada no encontro anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD em inglês), no fim de setembro.
– Com o desenrolar da pandemia, nossas preocupações foram crescendo à medida que aumentava o número de consultas remotas e as pessoas experimentavam mudanças em seu dia a dia que geravam ansiedade e estresse. Nossa análise mostrou que, enquanto os pacientes do tipo 1 administraram bem a situação, os do tipo 2 pagaram um preço alto. É importante lembrar que o descontrole glicêmico está associado a diversos tipos de câncer, complicações renais, cegueira, amputações, infarto e derrame – afirmou Claudia Eberle, da Universidade de Ciências Aplicadas de Fulda, na Alemanha.
Em 2019, pelo menos 9% dos adultos entre 20 e 79 anos – cerca de 463 milhões no mundo inteiro – viviam com diabetes. O tipo 1 é a segunda doença crônica mais comum em crianças, respondendo por 85% dos casos abaixo dos 20 anos. Entretanto, o tipo 2 representa entre 90% e 95% de todos os diagnósticos da doença. Para a pesquisadora, o período de quarentena pode ter levado pacientes com o tipo 1, a maioria convivendo com a doença desde a infância, a aprofundar a consciência sobre sua condição. Em compensação, os do tipo 2, que em grande parte desenvolveram o quadro já adultos, podem ter sido afetados mais fortemente pelo estresse, alimentando-se mal e deixando de lado a atividade física.
Vale ainda registrar um outro estudo, também divulgado no evento, que mostra que mulheres com diabetes não recebem o mesmo cuidado de prevenção de doença cardiovascular que os homens. A pesquisa contou com quase 10 mil adultos portadores do tipo 2, com ou sem doença cardiovascular preexistente, e descobriu que, para elas, é menor a prescrição de estatinas, aspirina ou medicamentos para a pressão arterial.
– Apesar das evidências sobre os benefícios de controlar fatores de risco, baixando os níveis de pressão e colesterol, uma proporção inaceitável de mulheres não recebe o tratamento recomendado, e a doença cardiovascular é a principal causa de mortes femininas – enfatizou Giulia Ferrannini, médica do Karolinska Institutet, na Suécia.