Conheça o boi japonês wagyu, que tem a carne mais cara do mundo

06/08/2021
Fonte: G1

Fonte: G1

O país que sedia os Jogos Olímpicos também é o principal produtor da carne mais cara do mundo: o wagyu, que, no Japão, chega a custar, em média, US$ 1.000 o quilo. No Brasil, onde as carnes menos nobres já pesam no bolso do consumidor, o preço médio do quilo é R$ 600, mas também pode ultrapassar R$ 1.000.

Uma das variedades mais famosa do wagyu é o Kobe Beef, mas, para garantir a autenticidade dela, o gado precisa nascer e crescer na província de Hyogo. Toda a fama da carne do wagyu se dá por causa do tal marmoreio. É a gordura intramuscular, que dá um visual de mármore para a peça e responsável por sua alta maciez. O boi japonês também ficou famoso por conta das “mordomias” que recebia, como beber cerveja e receber massagem. Esse tratamento todo especial era muito praticado no Japão antigamente, mas não existe mais na maioria das fazendas e nem é mais visto nos grandes confinamentos do país.

Acreditava-se que a cerveja facilitaria a digestão do animal, ao provocar relaxamento, enquanto a massagem atuaria como drenagem linfática, ajudando na infiltração de gordura para a formação marmoreio. Mas nada disso tem comprovação científica, diz Daniel Steinbruch, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Wagyu (ABCWagyu). A maciez e o sabor únicos da carne são dados, na verdade, pela própria genética do wagyu. “O que nós precisamos é dar as condições ideais para que o boi expresse a sua genética, o que significa, por exemplo, proporcionar uma dieta balanceada. O segredo está em uma alimentação rica em amido, pois é dele que o boi vai tirar energia para transformar em marmoreio”, diz Steinbruch.

 

Sai cerveja, entra cevada

Os grãos ricos em amido são milho, sorgo, arroz, trigo e a própria cevada. Alguns bois wagyu no Brasil, apesar de não beberem a “cervejinha” diretamente, se alimentam das sobras dessa indústria. “O que alguns criadores dão é a borra que sobra do processo de fermentação da cevada porque é uma boa fonte de proteína, um excelente alimento para os bovinos”, diz Steinbruch. Já a massagem pode servir para dar bem-estar aos animais, mas, nas grandes fazendas, não é algo comum, diante do tamanho do rebanho.

 

Origem e chegada ao Brasil

O nome do animal vem de “wa”, que significa “do Japão”, e “gyu”, quer dizer “gado”. A sua origem vem de um boi que migrou da Europa para Ásia e foi introduzido no Japão para puxar arado nas lavouras de arroz. Em terras japonesas, os criadores fizeram diversos cruzamentos até chegar à raça atual.

Este gado chegou ao Brasil em 1992, através da dona de uma famosa marca de bebida. A Yakult trouxe a raça pura japonesa e até hoje está entre as maiores produtoras do país. Em sua fazenda em Bragança Paulista (SP), com mais de 200 hectares, a empresa tem, aproximadamente, 350 cabeças. No Brasil todo, o rebanho chegou a 6.873 mil cabeças em 2020, alta de 11,8% em relação a 2019. Há somente 47 criadores no país todo, que ainda não conseguem suprir toda a demanda interna e, por isso, a carne também é importada do Japão e do Uruguai. O maior consumo ocorre em restaurantes, boutiques de carnes e hotéis.


 

Grau de marmoreio

Quanto maior o grau de marmoreio, ou seja, a proporção de gordura intramuscular versus a carne, mais caro é o corte de wagyu. Na escala japonesa, o grau é medido de 0 a 12, mas, no Brasil, só se conseguiu produzir até o nível 10. “Conseguir um marmoreio 12 é uma tarefa bastante difícil, um desafio para todos os produtores de wagyu no Brasil”, assume o veterinário Rogério Satoru Uenish, gerente da Fazenda Yakult.

No Brasil, isso acontece porque o tempo de confinamento do animal é menor do que no Japão. É nesse momento que o gado recebe as rações com alto teor amido, que geram a energia para transformar em marmoreio. No Japão, enquanto os animais vão para o confinamento assim que nascem, no Brasil, eles vão a partir dos 18 meses. Isso porque o país asiático tem poucas terras para pastagens, diferentemente do Brasil, que tem grandes áreas, explica o veterinário Enrico Ortolani, consultor do Globo Rural.

 

Menos reprodutivos

Outros fatores também encarecem a carne wagyu. Os bois dessa raça são, por exemplo, menos produtivos, menos rústicos e o seu rebanho é menor comparado a demais raças, avalia Ortolani. “O porte de um wagyu puro é de 400 kg. Já a raça nelore, por exemplo, tem mais 550, 600 kg e cresce mais rápido. O wagyu não tem uma quantidade tão grande de musculatura comparada a outras raças”, explica o veterinário.

Já a menor rusticidade tem a ver com ser menos resistente a doença e condições climáticas. “No Brasil, se faz inseminação de wagyu em vacas nelore, o que dá o bezerro meio sangue, que ganha um pouco de rusticidade. Ele perde um pouco no acúmulo da gordura, mas, ainda assim, continua sendo diferenciado”, acrescenta o consultor. Apesar dos cruzamentos feitos no Brasil, Ortolani diz que há criações nacionais de raça pura do boi wagyu.

 

Cortes menos caros

O preço do quilo do wagyu vai depender muito do grau do marmoreio, tipo de corte e local onde a compra é feita. Em algumas boutiques de carne da cidade de São Paulo, por exemplo, carnes extraídas do acém, com marmoreio entre 4 e 5, podem custar cerca de R$ 180 o quilo. Já em cortes nobres, como a picanha, o ancho, com marmoreio 9 a 10, o consumidor pode ter que desembolsar valores mais salgados: R$ 900, R$ 1.000 ou até mais.


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