Usina de Reciclagem de Dois Irmãos – O começo de um sonho

08/06/2021
Entenda como Dois Irmãos passou de uma cidade que queimava lixo para uma referência nacional em reciclagem de resíduos

Entenda como Dois Irmãos passou de uma cidade que queimava lixo para uma referência nacional em reciclagem de resíduos

Sentado em uma cadeira de praia em seu jardim, Roque Spies conta de forma humilde como ele e sua esposa, Odete Maria Faustino Spies, ajudaram a mudar a história de Dois Irmãos em relação ao tratamento de resíduos.   

Com o apoio de diversas pessoas, eles iniciaram uma usina de reciclagem que hoje é um modelo a ser seguido em todo o país, por trazer benefícios ambientais, educacionais e econômicos para a população de toda uma cidade.

 

História da Usina de Reciclagem

Roque e Odete trabalhavam na usina de reciclagem de Novo Hamburgo, quando o ex-prefeito de Dois Irmãos, Renato Dexheimer, procurou o casal para que ajudassem a resolver os problemas com o lixo na cidade. O município estava sendo processado por dano ambiental, já que todo o resíduo de Dois Irmãos até o ano de 1989 era queimado e depois descartado a céu aberto numa área em Picada Verão. Roque auxiliou adaptando a triagem da coleta seletiva. Com a implantação da coleta seletiva pela prefeitura, Roque e Odete contribuiriam na divulgação junto à população. Em novembro de 1994 iniciaram a triagem dos materiais com uma pequena equipe. No mesmo ano também foi criado o mascote da coleta seletiva de Dois Irmãos: o Seleco.

Uma das dificuldades enfrentadas no começo foi a de conseguir interessados para trabalhar na usina. “Foi bem difícil a gente conseguir pessoas aqui da cidade. Naquela época trabalhar com lixo era um absurdo. Até nossos amigos diziam: ‘Vocês não tem coisa melhor para fazer?’ Mas a gente gostava dessas coisas, a questão ambiental sempre pautou bastante a nossa vida” conta Roque. Mesmo com os impasses, o casal continuou o desafio de abrir a usina, e criaram uma microempresa para fechar um contrato de prestação de serviços com a prefeitura. Diferente de muitas usinas, desde o princípio eles conseguiram garantir um valor fixo mensal para cobrir despesas, além de ficarem com os lucros provenientes da reciclagem.  Essa parceria foi um fator determinante para o sucesso futuro da usina.

O mercado de recicláveis é instável, com oscilação de preços e quantidade de resíduo, de acordo com o período econômico. Por isso, depender apenas do valor da venda dos materiais reciclados não é uma estratégia segura. Roque relata que ocorreram períodos em que os preços dos materiais estavam muito baixos.  “Uma vez enchemos todo o galpão de jornal e depois vendemos por apenas R$ 0,03 o quilo, por exemplo.”

A inauguração da usina de reciclagem aconteceu durante um sábado, na frente da Sociedade Santa Cecília. Algumas crianças do Colégio Imaculada Conceição trouxeram sacolas com material reciclável e colocaram no caminhão que foi levado para a usina. O contrato de prestação de serviços foi assinado após esse momento. Os lucros da nova empresa eram divididos igualmente entre os colaboradores. “Mesmo sendo uma microempresa, a gente logo teve esse espírito cooperativo, sempre dividíamos o resultado do trabalho”, conta Roque.

No ano de 1998, Dois Irmãos recebeu reconhecimento da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) por separar 95% os resíduos. Na gestão do ex-prefeito Gerson Miguel Schwengber, a usina passou de Associação para Cooperativa, com a ampliação de contrato, passando a realizar a coleta seletiva em parceria com a prefeitura. Inicialmente só o lixo seco, e depois o lixo orgânico também.


Roque Spies

 

*

 

Exemplo de sucesso

Depois de um tempo, Roque e Odete se retiraram da usina e passaram a se dedicar exclusivamente a assessoria e capacitação, por solicitação de outros municípios e entidades, pelo trabalho feito com a usina de Dois Irmãos ter sido um sucesso.

Para Roque, um dos pontos chave para o sucesso é que a usina é responsável pela coleta. “O desafio maior que eles assumiram foi a coleta, ter uma equipe na rua todos os turnos de segunda a sábado não é brincadeira. Eu sempre acho que o melhor resultado nas prefeituras é quando as cooperativas são contratadas para fazer a coleta. Um cooperado está buscando um material que vai virar recurso para ele, então ele tem um interesse muito maior nisso”, explica.

Vinte e sete anos após uma ideia sair do papel e mudar toda a dinâmica no tratamento de resíduos da cidade, Roque conta com emoção no olhar: “A gente se sentiu fazendo parte da história de Dois Irmãos e acho que é uma contribuição que hoje é reconhecida. Sentimo-nos felizes, porque é uma ideia que deu certo. Nós lutamos muito para mudar a cultura na cidade, fomos agentes muito importantes em apoio à prefeitura com a população.”

Na atualidade, com uma média diária de 17 toneladas de resíduos coletados e um percentual de material destinado à reciclagem entre 23% e 25%, Dois Irmãos é referência no gerenciamento de resíduos em todo o Brasil.

 

(Reportagem de Giordanna Benkenstein Vallejos)

 


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