Aulas de Espanhol ajudam no acolhimento de crianças venezuelanas

08/10/2021
Por Giordanna Benkenstein Vallejos

Por Giordanna Benkenstein Vallejos

29 de Setembro é a data em que os imigrantes alemães chegaram ao município de Dois Irmãos e também é o nome da escola municipal que decidiu mudar as aulas que eram de Alemão para o idioma Espanhol, visando melhorar a comunicação entre a comunidade e os novos estudantes refugiados. “Somos uma escola que leva o nome da data desses primeiros imigrantes, 29 de setembro. Então não recebê-los bem e não fazer tudo que está ao nosso alcance para que eles se adaptem aqui me parece uma contradição”, diz a diretora Daniele Simone Arndt. 

De acordo com os dados atualizados pelo secretário de Desenvolvimento Social, Léo Büttenbender, em Dois Irmãos existem 87 famílias venezuelanas cadastradas na Assistência Social, o equivalente a aproximadamente 300 pessoas, sendo essas crianças, jovens e adultos. Na rede municipal, são 49 alunos venezuelanos matriculados e somente a escola do bairro Moinnho Velho tem 25 – das treze turmas da instituição, apenas duas não têm estudantes da Venezuela.

 

Aulas de Espanhol

Com o aumento do número de imigrantes, e como a professora de Alemão, Diane Karine Sochtig, sabe falar alemão e espanhol, as aulas que eram de Alemão passaram a ser ministradas em Espanhol, e a escola começou a contar com uma segunda professora de Espanhol, Ceura Farias Borges, no contraturno. Essas aulas são um espaço que os colegas brasileiros usam para aprender outro idioma e que os imigrantes usam para aprender palavras no português que não entendem.

Segundo a professora Diane, as crianças falam rápido o espanhol, muitas vezes chorando, e isso dificulta a comunicação. Além disso, elas se sentem deslocadas por estarem em uma instituição que fala outro idioma, e ter uma professora que fala a mesma língua causa uma sensação de acolhimento. Dos 25 alunos venezuelanos, 12 que estudam no turno da tarde participaram da entrevista ao Jornal Dois Irmãos, tendo eles de 5 a 10 anos de idade. Alguns já estão no país há três anos e a maioria reside no bairro São Miguel. Eles dizem que gostam de morar em Dois Irmãos por causa da escola e das praças que tem na cidade para eles brincarem.

 

Bem recebidos em Dois Irmãos

Ao serem questionados se foram bem recebidos, todos responderam que ‘sim’ ao mesmo tempo, e disseram que as famílias escolheram Dois Irmãos por ser mais amigável e ter mais oportunidades de emprego. “Viemos para cá porque na Venezuela estava sendo muito difícil de conviver; trocava muito de presidente de estado. Aí foi ficando difícil, lá não tinha comida, e o melhor país que nós tivemos para vir foi esse”, contou um dos alunos. “Dois Irmãos é mais amigável. Antes eu vivia em uma cidade no Brasil que era muito ruim, não queriam ver os venezuelanos na rua, começavam a falar mal deles”, acrescentou.

A saudade das crianças é em relação aos parentes que tiveram que deixar para trás, como avós, pais e tios. Além disso, também sentem falta da ‘arepa’, que é um prato típico do país deles. A viagem da Venezuela até o Brasil foi em aviões militares. “A minha viagem não foi tão feliz, porque a gente foi num avião militar e esse avião parecia que ia explodir de tanto que tremia”, contou uma das crianças. Eles tiveram que ficar em Boa Vista, Roraima, em uma tenda de refugiados, até terem a entrada aprovada no país, que demorou mais devido à pandemia.

 

“A primeira palavra que eu aprendi em português foi ‘fome’”

Em solo brasileiro, eles começaram a ter contato com o português, uma língua que a maioria não conhecia nenhuma palavra. Observando e repetindo, os mais velhos atualmente têm uma boa compreensão da língua e também falam. “A primeira palavra que eu aprendi em português foi ‘fome’”, conta a criança venezuelana, mostrando uma necessidade de falar algo que nenhum ser humano de qualquer etnia deveria passar.

Sobre as diferenças em relação ao Brasil e a Venezuela, um dos venezuelanos relata os efeitos da alta inflação vivenciada no seu país.  “Lá era muito diferente daqui. Um dia o preço da comida estava muito bom, amanhecia e estava com o preço bem maior”. Apesar da barreira de linguagem e de um passado conturbado, os estudantes encontraram na educação e em Dois Irmãos a esperança de um futuro melhor.

 

DOAÇÕES

Caso alguém queira ajudar, a escola 29 de Setembro está aceitando doações de material escolar e uniformes para os alunos carentes de auxílio. O telefone para contato é (51) 3564-8843.


Professora Diane Karine Sochtig com os alunos Esteban Maximiliano Cabello Uviedo, Giackson Jose Perez Osta, Maurício Daniel Depablo Pinto, Valéria Nazereth Rodriguez Ramos, Ana Lucia Cabeza Uviedo, Rafael Angel Alcala Uviedo, Samantha Isabella Carrera Beker, Angel Javier Games Carrera, Luciano José Calzadilla Marquez, Christina Alejandra Aguilera Tochon, Gian Jose Perez Osta e Gianderson Jose Perez Osta


Diretora Daniele Simone Arnd e vice-diretora Roberta Stoffel Callai

 


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