Violência doméstica preocupa autoridades na quarentena

11/05/2020
Inspetora Simone e delegada Ariadne relataram aumento de casos

Inspetora Simone e delegada Ariadne relataram aumento de casos

No primeiro trimestre de 2020, 26 casos de feminicídio foram registrados no Rio Grande do Sul, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP/RS). Outras 84 mulheres sofreram tentativas de homicídio. Os números deixam o Estado em alerta e exigem que as redes de atendimento intensifiquem trabalhos preventivos, buscando identificar pessoas em situação de risco.
Um dos questionamentos que surge ao olharmos para estes dados é se o aumento se deve ao período de isolamento social exigido pela pandemia do coronavírus, o que, pelo menos até agora, não foi confirmado por órgãos de segurança pública. Coincidência ou não, cidades atuam fortemente no enfrentamento à violência contra a mulher, como é o caso de Dois Irmãos, no interior do estado, onde também foi identificado aumento no número de violência doméstica, entre março e abril.
Conforme levantamento da delegacia de Polícia Civil do município, que atende também Morro Reuter, entre os meses de março e abril foram registrados 33 casos de violência doméstica, todos contra mulheres. Destas, 26 solicitaram medida protetiva. “Só na segunda quinzena de março, registramos 12 casos”, relata a inspetora Simone Arenhardt Ries. No total, somados os dois meses, foram 10 ameaças, 5 lesões corporais, 9 vias de fato (agressão física sem marcas aparentes), 4 perturbações da tranquilidade, 2 descumprimentos de medida protetiva, 1 injúria e 2 estupros, sendo um deles contra uma pessoa vulnerável. Conforme Simone, a maioria das mulheres já tinha sido vítima de violência outras vezes. Em março, a maior parte das vítimas tinha entre 30 e 39 anos, enquanto os agressores tinham entre 30 e 49 anos. Já no mês seguinte, a maioria das vítimas tinha entre 20 e 29 anos, e os agressores, entre 30 e 39 anos.
Conforme a delegada Ariadne Langanke, os casos de violência doméstica, sejam eles contra a mulher ou qualquer outra pessoa que integra os grupos vulneráveis, são tratados como prioridade pela equipe. Neste período de pandemia, inclusive, a polícia reforçou a divulgação do seu número de WhatsApp, que recebe denúncias a qualquer hora. O número é o (51) 9 8543–7318. A ferramenta, assim como o Disque 100 e Ligue 180, serve para facilitar o acesso aos pedidos de socorro. “Também é importante lembrar que casos de violência contra a mulher, onde a vítima não deseja solicitar medida protetiva, podem ser registrados na Delegacia Online RS”, diz a delegada, chamando atenção, ainda, para outra situação. “Em casos de agressão, seja ela verbal ou física, onde a vítima está sendo agredida naquele momento, o primeiro contato deve ser o 190, que é o número de emergência da Brigada Militar”, finaliza Ariadne. Para orientações, além do número de WhatsApp, a comunidade também pode entrar em contato com a delegacia através do (51) 3564–1190.
Questionada se o aumento dos números na cidade está ligado diretamente ao isolamento, a delegada Ariadne pondera. “O período coincide, sim, com o do isolamento social, mas não podemos afirmar que os casos se devem a essa situação”, comenta, reconhecendo, porém, que há fatores gerados pela pandemia que podem influenciar nas relações familiares, como a falta de emprego, dificuldades financeiras e desestabilização emocional das pessoas. “Todos estão apreensivos com tudo isso”, diz ela, comentando, também, sobre uma situação identificada ao longo do mês de março. “Alguns agressores chegaram à delegacia com visíveis sinais de embriaguez”, relata.




Coordenadoria da Mulher
Além da Polícia Civil, outro serviço que atua no combate à violência contra as mulheres na cidade é a Coordenadoria da Mulher, localizada no prédio do Departamento de Assistência Social. Aberta de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 13h30, também recebe denúncias. O telefone para contato é o (51) 3564–8875.

De acordo com a coordenadora Ivete Rambo, serviços como visitas e atendimentos psicológicos às vítimas foram suspensos durante a pandemia, o que dificultou o trabalho do grupo, porém, tenta-se suprir esta lacuna reforçando a divulgação do Ligue 180 e do Disque 100 e atuando em parceria com as equipes das unidades de saúde dos bairros, que seguem realizando visitas às residências do município. “Toda vez que esses grupos identificam situações de violência, emitem o alerta para a coordenadoria”, diz Ivete, destacando que uma ação preventiva realizada em março, nas unidades de saúde, também pode ter colaborado no enfrentamento à violência durante a pandemia. “Realizei, junto com a psicóloga Denise Frey, do CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), uma série de palestras para homens e mulheres. Acredito que a abordagem gerou reflexão dentro dos lares”, comenta.
Sobre os canais de denúncia, Ivete elogia a eficácia do Disque 100. “Hoje, é o canal mais rápido de atendimento às mulheres. O último caso foi registrado no dia 3 de março e recebemos a ocorrência já no dia seguinte. Localizamos a vítima e o agressor, e logo depois eles foram ouvidos pela polícia”, comenta.
Além deste, outros três casos chegaram diretamente à sala da Coordenadoria na primeira quinzena de março. Depois de lá, mais nenhum, o que preocupa a equipe. “Sabemos o quanto é difícil para uma vítima denunciar o seu agressor. E agora a situação ficou ainda mais difícil, pois muitas delas ainda dependem financeiramente dos companheiros”, analisa Ivete.


Conselho Tutelar
Com olhar especial destinado a crianças e adolescentes, o Conselho Tutelar do município segue atuando em regime de plantão. De acordo com a coordenadora Ronete Klein, denúncias devem ser feitas pelo celular (51) 99199–1869. O número fica disponível 24 horas, inclusive em sábados, domingos e feriados. “Recebemos poucos chamados ao longo deste período de isolamento social. A maioria envolve menores já acompanhados pelo Conselho”, informa Ronete, lembrando que as visitas presenciais estão suspensas mas, quando necessário, é feito contato com as famílias para saber se estão enfrentando alguma dificuldade.

 

 


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