Fonte: GZH
Até o final desta década, os motoristas brasileiros deverão migrar do câmbio manual para o automático de forma tão intensa que mais de 90% da frota disponível no mercado estará equipada com essa tecnologia mais recente. É o que especialistas e pesquisas apontam.
Relatório da Bright Consulting, especializada na área, mostra que, em 2015, 67% dos veículos no Brasil tinham câmbio manual. Três anos depois, já eram 53%. A virada veio no ano passado, quando 53,5% dos veículos leves comercializados no mercado brasileiro já tinham câmbio automático. E, nos primeiros meses deste ano, a procura pelo automático está em 54%. Um estudo do Automotive News Canada chega a afirmar que novas tecnologias seriam responsáveis por acabar com o câmbio manual.
Para o diretor técnico da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Henry Joseph Junior, o aumento da procura pelos modelos com câmbio automático está ligado a diferentes fatores: a busca por mais conforto, o crescimento do consumo de veículos de maior valor agregado (SUVs, por exemplo) e a consequente queda na compra de carros mais populares.
— Em função da pandemia, a venda de veículos mais populares diminuiu e a dos veículos com maior valor agregado se manteve. Como o automático está vinculado a esse tipo de veículo, a presença dele no mercado se tornou mais significativa — explica.
Henry destaca que a oferta só não é maior no mercado porque o componente não é fabricado no Brasil e costuma ser importado da Europa e da Ásia, o que acaba influenciando no valor do produto final.
— Com o volume aumentando cada vez mais rápido, é possível que as montadoras tragam essa produção para o mercado brasileiro, podendo reduzir custos — justifica.
Mas Henry, um executivo que dedicou mais de 35 anos de sua vida à Volkswagen, acredita que ainda levará alguns anos para que o câmbio automático tome conta do mercado. Ele prevê que o manual siga com procura, mesmo que em menor quantidade, por conta do valor final do produto. Locadoras de veículos, por exemplo, ainda buscam aqueles com preço mais baixo, ou seja, com câmbio manual.
— Ele também é mais conveniente para quem dirige em estrada e para quem gosta de dirigir de modo esportivo — acrescenta.
Brasileiro mais conservador
Mesmo pensamento tem a professora do curso de Engenharia Mecânica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Karina Ruschel. Para a docente, o brasileiro é mais conservador quando se fala em automóvel porque gosta de ter controle sobre o carro. Karina lembra que o câmbio manual continuará sendo utilizado em caminhões e picapes, por exemplo.
Segundo ela, as principais vantagens do câmbio automático são o conforto, principalmente para quem dirige na área urbana e convive com o para e arranca das grandes cidades, e a segurança.
— A grande vantagem é ser uma distração a menos, porque o motorista pode manter a atenção focada na pista. A desvantagem era em relação ao consumo de combustível, pois, como não havia uma sequência mais suave de uma marcha para outra, tinha um consumo maior. Hoje, tem uma evolução bastante significativa nessa forma de transmissão. Quando tratamos de câmbios mais modernos, a mudança já é mais suave, e o consumo de combustível, portanto, menor — explica a professora.