Dr. Carlos Antonello
Movimentos mundiais, o Outubro Rosa e o Novembro Azul são campanhas que chamam a atenção da população para a importância do diagnóstico precoce dos cânceres de mama e de próstata. Em todo o mundo, atividades e ações são pensadas para conscientizar homens e mulheres sobre o assunto.
Buscando contribuir com informações a respeito da doença, o Jornal Dois Irmãos entrevistou, na quarta-feira (13), o Dr. Carlos Antonello, cirurgião geral e oncológico e também professor do curso de Medicina da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Grande parceiro e incentivador da Liga Feminina de Combate ao Câncer do município, ele é reconhecido e admirado pela população local, pelo trabalho que realiza.
Na entrevista, o oncologista comenta sobre os tipos de câncer mais frequentes em homens e mulheres, sintomas, principais fatores de risco e também sobre o acesso ao tratamento e diagnóstico.
Quais os tipos de câncer mais frequentes em mulheres?
Dr. Carlos Antonello – O câncer mais frequente é o câncer de pele não melanoma. Em segundo lugar é o câncer de mama, após, na ordem, câncer de pulmão, colorretal e colo de útero, salientando que o tipo mais comum depende da região avaliada.
Quais os tipos de câncer mais frequentes em homens?
Dr. Antonello – No homem, o mais incidente também é o câncer de pele não melanoma. Em segundo lugar e sequência, câncer de próstata, pulmão, colorretal (intestino).
O câncer tem sintomas na fase inicial? Quais?
Dr. Antonello – Geralmente, o câncer é uma doença assintomática na fase inicial, onde são fundamentais exames preventivos com finalidade de diagnóstico precoce. Nos três principais exemplos que temos, excluindo o câncer de pele não melanoma, para o câncer de mama, a utilização da mamografia e ecografia mamária, podendo ser após os 40 anos. Para o câncer de próstata no homem, a realização do toque retal e exame do PSA após os 45 anos, e o diagnóstico precoce do câncer colorretal a realização da colonoscopia após os 50 anos. Os sintomas são variáveis dependendo da origem do tumor, sendo levado em consideração que toda alteração que persistir por mais de 15 dias deve ser investigada por um médico de sua confiança, seja uma dor, alteração alimentar, intestinal, sangramento, ferimento que não cicatriza etc.
Todo câncer é genético?
Dr. Antonello – Todo câncer ocorre por um erro no núcleo das nossas células, acarretando uma mutação genética em nosso DNA, no entanto a transmissão genética hereditária, transmissão de pais para filhos, corresponde geralmente a menos de 10% dos tumores, sendo a grande maioria formada por mutações genéticas novas, oriunda dos maus hábitos do dia a dia.
O que aumenta o risco de câncer?
Dr. Antonello – O principal fator de risco é o tabagismo. Também temos o uso de alimentos embutidos, como salsichas/linguiças, carnes processadas, uso de bebidas alcoólicas, vírus (como HIV, HPV, Vírus da Hepatite C e B), bactérias como H.Pylori, agrotóxicos, sedentarismo, obesidade, o sol, dentre outros.
Qual a importância da doação de sangue para pacientes com câncer?
Dr. Antonello – A doação de sangue deve ser realizada em casos muito selecionados, visto que, por exemplo, na fase preparatória da cirurgia, além de aumentar a chance de recidiva (retorno da doença), aumenta a chance de infecção.
Qual a sua avaliação sobre o acesso ao tratamento e diagnóstico de câncer nas redes pública e privada?
Dr. Antonello – Infelizmente a pandemia prejudicou muito o acesso dos pacientes oncológicos aos centros de alta complexidade na rede pública, não só na região, mas em todo país. Tivemos muitos pacientes também que deixaram de fazer exames de prevenção, com medo da Covid, diagnosticando a doença numa fase mais avançada. No entanto, é notória a necessidade que seja empregada uma quantia maior de recursos públicos no tratamento da doença, evitando a crescente de pacientes nas filas de espera. Na rede privada é fundamental exigir tratamento com médicos especialistas; muitos planos populares, com finalidade econômica, disponibilizam médicos não especializados para tratar a doença.
Qual a importância das campanhas de prevenção em relação ao preconceito em torno da doença?
Dr. Antonello – Existe muito preconceito com a doença, no entanto sabemos que a prevenção é uma alternativa fundamental para diminuirmos o número de casos, combatendo os fatores de risco e aumentando o diagnóstico da doença numa fase inicial, aumentando, dessa forma, consideravelmente a cura. Em Dois Irmãos temos a Liga de Combate ao Câncer, que exerce um trabalho belíssimo e admirável, auxiliando inúmeros pacientes com as mais diversas necessidades, e trabalhando com intuito de desmitificar a doença com campanhas educacionais preventivas. Também temos o apoio da Curto Arte, que inclusive realizou recentemente uma palestra de prevenção e orientação quanto ao câncer.
Qual o principal desafio de um médico oncologista?
Dr. Antonello – Eu, como cirurgião oncológico, busco ao máximo confortar o paciente nesse momento de insegurança que é a descoberta da doença. Existem muitos caminhos na busca da cura, onde damos destaque para o tratamento multidisciplinar, com vários profissionais especializados. Confortar sempre, jamais perder a esperança e lutar até o fim. Ter a confiança no médico que comanda o tratamento é fundamental, o apoio da família é um dos principais alicerces durante o tratamento e a fé em Deus, apaziguadora nas horas de insegurança e combustível para buscar sempre mais.
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Sobre o Outubro Rosa
Dr. Carlos Antonello reforça a importância do diagnóstico precoce.
– O mês de outubro é conhecido como o mês da conscientização do câncer de mama, Outubro Rosa. Esse é o câncer que mais mata mulheres no nosso meio, apesar de apresentar uma alta chance de cura, desde que seja descoberto na fase inicial. Precisamos levar a cada uma das mulheres que amamos a necessidade da realização de exames periódicos e o combate aos fatores que aumentam sua incidência – afirmou.
Dados do INCA
Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimam que, no Brasil, em 2021 ocorrerão 625 mil casos novos de câncer. Segundo o INCA, o câncer de pele não melanoma será o mais incidente (177 mil), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil). A estimativa é de que o câncer de pele não melanoma representará 27,1% de todos os casos de câncer em homens e 29,5% em mulheres.