Alunas Thaine e Fernanda / Técnica de apoio pedagógico Rosane
Imagine uma menina cadeirante isolada, de longe assistindo todos os seus colegas de sala jogando e se divertindo durante uma partida de futebol na aula de educação física. Agora visualize a mesma menina sendo guiada por algum colega e participando ativamente da partida com os amigos, respeitando seu próprio ritmo. Na primeira situação, ela foi inserida na aula, mas na segunda ela foi incluída na atividade efetivamente. Atividades de inclusão como esta parecem simples, mas podem ter um grande impacto na maneira como as pessoas com deficiência se identificam dentro da sociedade e em como a sociedade as acolhe.
Por isso, esse ano o principal foco em Dois Irmãos foi o tema da educação inclusiva, sendo abordado em formações e o tópico principal da abertura do ano letivo de 2022. Outro motivo é que ocorreu um aumento no número de alunos com inclusão no município. Além disso, de acordo com a diretora da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Dois Irmãos, Graziela Carla Trindade Mayer, o número de usuários cresceu 30% desde o começo da pandemia.
Aprender para incluir
A coordenadora da pasta de educação inclusiva do município, Nádia Helena Schneider, confirmou essa mudança. “Quando abrimos as matrículas percebemos um aumento no número de alunos com necessidade de inclusão. A partir disso, fomos pensando em uma melhor forma de atendê-los. Sentimos uma grande necessidade de capacitar os profissionais, não só os professores mas toda a equipe que está lidando com as nossas crianças”, diz Nádia. Durante as capacitações, o exercício da empatia é um fator muito trabalhado com os profissionais da educação. São realizadas vivências como vendar os olhos e andar em cadeira de rodas, para uma maior compreensão da vida desses estudantes.
Além das formações, existe o grupo de professores que atendem os alunos de inclusão, o Laboratório de Ensino e Aprendizagem (LEA), que é um grupo de professores que atendem os alunos com alguma defasagem de aprendizagem, e o Núcleo de Atendimento ao Educando (NAE), que oferece atendimentos com psicóloga, fonoaudióloga e psicopedagoga em parceria com a APAE. São aproximadamente 126 alunos de inclusão em Dois Irmãos, sendo eles alunos com baixa visão, surdos, em processo de diagnóstico, com síndrome de down, autistas, com paralisia cerebral e cadeirantes. Existem também 57 monitores disponíveis para auxiliar esses estudantes.
O papel das monitoras educacionais
A Arno Nienow é uma das escolas municipais com maior número de alunos de inclusão, com 15 estudantes matriculados e sete monitoras educacionais. Por ser a única escola com elevador, é uma referência principalmente para crianças com dificuldades de locomoção. O papel das monitoras é essencial, pois elas auxiliam tanto os estudantes de inclusão quanto os demais, tendo a importante função de garantir que os estudantes com necessidades especiais tenham atividades adequadas para as suas capacidades e o apoio necessário para uma constante evolução. Ademais, as monitoras evitam que os professores fiquem sobrecarregados.
Segundo a técnica de apoio pedagógico Rosane Sebastiany, na Arno Nienow foi implantado um caderno para que as monitoras possam anotar as evoluções e observações sobre os alunos de inclusão. A monitora Vivian Carolina de Moraes conta sobre algumas experiências. “O aluno que eu acompanho, no ano passado pintava totalmente fora do desenho. Esse ano ele se concentra no desenho, pede ajuda, quer pintar certinho. Tem também um autista com altas habilidades da educação infantil que veio alfabetizado, cantava em inglês, mas não conseguia rasgar um papel; esse ano ele conseguiu”, relata. Já para a monitora Marília Schneider, “eles são muito carinhosos, criam um afeto bem grande pela professora e principalmente pela monitora”.
Inclusão que transforma a todos
Um fato destacado pelas monitoras é que na escola existe um trabalho desde os anos iniciais para que esses alunos sejam tratados com respeito e como iguais. Para isso, eles sanam todas as dúvidas que aparecem, normalizando as situações.
Para Vivian, a educação inclusiva muda muito os outros estudantes, que passam a defender os alunos de inclusão. Um exemplo contado pelas monitoras é de um aluno cadeirante. “No ano passado eles ficaram surpresos com o novo colega, que tem problemas nos pezinhos, é cadeirante e não fala. Contemplamos todas as curiosidades deles, inclusive a mãe dele respondeu algumas perguntas. Na segunda semana, os colegas pediam para sentar ao lado dele”, recorda ela. E Marília acrescenta: “Esse menino é muito feliz no meio das outras crianças, ele fica sorridente sempre”.
Nádia Helena Schneider e Dulce Fusiger Garcia
Opinião de alunas da escola Arno Nienow
Thaine Aniele Bittencourt
“Tenho 14 anos e estou no 9° ano. Eu faço tudo sozinha, só para ir na educação física eu preciso de ajuda e para entrar no elevador. Onde eu moro não é acessível, então minha mãe optou por eu vir para a Arno, e foi a melhor escolha que a minha mãe teve, é uma escola boa. Mas eu sofro bullying ainda hoje. Fora da escola, é mais adulto que me fala, e eu fico chateada porque são pessoas muito mais velhas do que eu, que tem que pensar antes de perguntar alguma coisa que vai ofender. Mas com certeza tem mais pessoas que me ajudam do que pessoas que fazem bullying. O professor da escola tenta adaptar a aula de educação física e, quando estive na aula esses dias, alguém empurrava minha cadeira para eu poder jogar também; fiquei bem feliz”.
Fernanda Sebastiany
“Gosto de estudar aqui porque eu amo ir para a escola. Os colegas são meus amigos, estou aprendendo sobre a matéria de matemática. Gosto de educação física, de português, história, geografia e alemão. Estou estudando no 8° ano, tenho 14 anos. Eu gosto dos meus professores e da minha monitora. A monitora me ajuda nas contas de matemática que eu tenho dificuldade”.
(Reportagem de Giordanna Benkenstein Vallejos)