Fonte: GShow
Três anos depois de “Aquarius”, o pernambucano Kleber Mendonça Filho e a francesa Emilie Lesclaux, diretor e produtora, voltaram a passar pelo tapete vermelho de Cannes, desta vez sem cartazes de protesto, concorrendo à Palma de Ouro com um longa-metragem assinado em codireção por Juliano Dornelles: um longa que desafia todas as convenções de tensão dos thrillers já feitos na América Latina. “Bacurau” troca as reflexões sobre gentrificação de “O Som ao Redor” (2012) e do aclamado longa com Sonia Braga sobre um edifício do Recife por uma linha de suspense arrebatadora, que deixou a imprensa atônita.
Foram sete minutos de aplauso na apresentação de gala, no Palais des Festivals: “Esse é um momento muito importante pro nosso país e esse é um filme sobre resistência, sobre educação, sobre ser brasileiro no mundo”, disse Kleber, em português, ao fim da abarrotada sessão para convidados do festival. Entre os jornalistas, os elogios começam a correr: “O filme tem uma atmosfera fascinante e joga com a dinâmica dos filmes de gênero sem ser óbvio”, elogiou o crítico espanhol Nando Salva Grimat ao fim da sessão para os jornalistas.
REAÇÃO DO PÚBLICO
Risos nervosos, suspiros de assombro, torcidas apaixonadas e aplausos em um momento de virada marcaram a projeção para a imprensa da saga de uma cidade do Nordeste que, num futuro próximo, com drones em forma de disco voador, some do mapa depois da morte de uma ilustre moradora. O desempenho de Silvero Pereira, como um dos habitantes de maior fúria no local, infla a tela com urros, fúria e sangue, em uma narrativa com ecos de “Mad Max” e de Walter Hill (“Warriors – Os Selvagens da Noite”).
Como o festival começou na última terça-feira (14), é cedo para se falar em potenciais premiáveis, mas já um zumzumzum jurando que Kleber e Juliano apresentaram um material digno de um prêmio de direção. “O filme se passa em Pernambuco, mas acabamos achando a locação, sem a gente perceber, no Rio Grande do Norte, na fronteira com a Paraíba, no sertão do Seridó. Foi uma viagem instrutiva não só para informar a gente sobre o visual e o clima do sertão, como uma sociedade, mas também por se encaixar com nossa bagagem do sertão através do fato de a gente ser do Nordeste e ter tantos amigos que vieram do Sertão. O sertão existe forte em quem é nordestino. Temos uma estrutura clássica de uma única rua”, disse Kleber, que trouxe Sonia Braga para o papel da médica Domingas e uma trupe ainda pouco conhecida para papéis essenciais à trama.