Fonte: O Globo / Foto: FreePik
Com a nova decisão da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC, da sigla em inglês), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), de incluir o aspartame como substância “possivelmente cancerígena”, muitas dúvidas podem surgir.
Afinal, o adoçante artificial é muito comum, amplamente utilizado em produtos “zero açúcar” ou “diets”, como refrigerantes e sucos. Mas ele pode mesmo causar câncer? E existe uma quantidade considerada segura para o consumo? Abaixo, confira as principais perguntas e respostas sobre o potencial cancerígeno do aspartame:
O aspartame causa câncer?
A agência da OMS é responsável por avaliar se um agente tem o potencial de causar câncer e, após a análise, enquadrá-lo em um de quatro grupos:
– Grupo 1: Quando o agente é comprovadamente cancerígeno;
– Grupo 2A: Quando o agente é “provavelmente cancerígeno”. Nesse caso, há evidências em animais, mas de forma limitada em relação a humanos;
– Grupo 2B: Quando o agente é “possivelmente cancerígeno”. Nesse caso, as evidências são limitadas tanto para animais, como para humanos;
– Grupo 3: Quando não é possível encontrar uma associação entre o agente e a possibilidade de causar câncer;
Após a análise de evidências atuais, a IARC decidiu enquadrar o aspartame na categoria 2B, ou seja, há a possibilidade de ele ser cancerígeno. No entanto, os estudos são limitados.
Por que o aspartame foi considerado possivelmente cancerígeno?
Em coletiva de imprensa sobre a decisão, a diretora interina do programa de Monografias da IARC, responsável pelas classificações, Mary Schubauer-Berigan explicou que foram avaliados principalmente três estudos conduzidos nos Estados Unidos e no Canadá.
Os trabalhos foram epidemiológicos, eles observaram a incidência do tumor em uma determinada população durante um tempo, comparando-a com o uso do aspartame por meio de bebidas adocicadas nesse mesmo período. Os resultados indicaram uma possível relação, porém de forma limitada, especialmente para o carcinoma hepatocelular, que é um tipo de câncer de fígado. No entanto, a pesquisadora ressaltou a necessidade de mais pesquisas sobre o tema.
Se eu usar aspartame, vou ter câncer?
O IARC é responsável apenas por avaliar o potencial de uma substância em causar câncer, sem levar em consideração a dosagem dela, por exemplo. Quem faz isso é o Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares da OMS e da Organização para Agricultura e Alimentação (JECFA, da sigla em inglês). É ele que avalia o risco real para a população com base na exposição do dia a dia à substância.
O JECFA também revisou as evidências, mas considerou que elas são insuficientes para afirmar que a ingestão do aspartame, dentro dos limites atuais de consumo, tenha qualquer risco para o indivíduo de causar câncer ou outras doenças.
Qual o limite seguro de aspartame segundo a OMS?
Portanto, a OMS decidiu que o limite de ingestão diária de 40 mg de aspartame por kg de peso corporal continua a ser seguro com base nas evidências atuais. O limite é alto: para uma pessoa de 70 kg, seria de até 2.800 mg diários. Para comparação, uma lata de refrigerante zero, de 350ml, tem, em média, 42 mg de aspartame.
Os produtos com aspartame serão retirados do mercado?
Na coletiva de imprensa, o diretor do Departamento de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS, Francesco Branca, destacou que, como o limite atual foi considerado seguro, a organização “não está recomendando que os fabricantes, ou as autoridades, retirem produtos do mercado”. Além disso, destacou que não há orientação para que os consumidores deixem de consumir aspartame ou que as empresas substituam o adoçante por outro edulcorante artificial, como a sucralose.
Existem opções mais saudáveis de adoçante?
Ainda assim, o alerta das autoridades de saúde pode levar muitas pessoas a optarem por utilizar outros adoçantes artificiais no dia a dia no lugar do aspartame. Nesse caso, o ideal é optar pelos de origem natural – o xilitol, o eritritol e a stevia – no lugar de alternativas como aspartame, sacarina, sucralose, ciclamato de sódio e acessulfame de potássio.
Quais outros alimentos são considerados cancerígenos?
A inclusão do aspartame na lista de substâncias possivelmente cancerígenas da OMS pode pegar muitos de surpresa, porém a entrada de um alimento do cotidiano nessa classificação não é incomum. Desde 2018, por exemplo, a carne vermelha, consumida quase diariamente por diversos brasileiros, faz parte do grupo 2A, ou seja, é considerada “provavelmente cancerígena”, um nível acima daquele do aspartame. Já as carnes processadas, como salsichas, salame, linguiças e presuntos, fazem parte do grupo 1, são comprovadamente produtos que causam câncer. É o caso também das bebidas alcoólicas e do cigarro.