Ele foi o primeiro Secretário de Educação de Dois Irmãos
Osório Ernesto Schneider foi o primeiro secretário da Educação de Dois Irmãos, função na qual trabalhou por 20 anos com o empenho de quem teve a educação como missão de vida. Na atualidade, ele tem 82 anos e conta como eram as escolas, os professores e o ensino antigamente. Enquanto relata os fatos, é possível identificar um discurso rico em memórias e com uma eloquência de quem já trabalhou com as palavras – tanto em uma sala de aula, quanto em um ambiente político.
A história de Osório começa no interior de Salvador do Sul, cidade onde nasceu e cresceu. Naquele tempo, os pais deixavam estudar principalmente os filhos que tinham interesse em serem padres ou freiras, e Osório disse que queria ser padre. Por nove anos, ele ficou estudando no colégio de padres, até que um tempo depois desistiu da ideia e foi ser professor. Na sua cidade natal, ele foi catequista, organista e professor. Durante o período da ditadura, o prefeito de Dois Irmãos ouviu falar dele e fez um convite para que viesse trabalhar no município como supervisor da coordenadoria de educação. Na época não existiam secretarias em pequenos municípios.
Osório se encantou pela cidade e em 28 de agosto de 1969 veio morar aqui. Ele comprou um terreno para construir uma casa e lembra que os agricultores eram os que moravam nas ruas principais. Também relata que a compra de terras era sem muita burocracia.
As brizoletas
Quando o professor chegou ao município, Dois Irmãos englobava Morro Reuter e Santa Maria do Herval, portanto era muito maior em extensão. Segundo ele, existiam em média 35 escolas para serem administradas e apenas dois responsáveis pela coordenadoria de educação. “As escolas eram unidocentes, ou seja, só tinham um professor para todas as séries. E eram escolas pequenas, chamadas de ‘brizoletas’”, explica.
Essas pequenas escolas eram chamadas de ‘brizoletas’ porque foram uma iniciativa do então governador Leonel Brizola (1922-2004). Osório conta que, no começo, existia apenas uma sala de aula nas brizoletas. Não havia luz, pátio, cozinha, biblioteca, classes, lanche, água encanada ou banheiros adequados. O banheiro, aliás, iniciou como uma ‘capunga’ e não existia separação para meninos e meninas. Caso precisassem de água, era necessário pedir um pouco dos poços dos moradores vizinhos. O lanche começou com fogão a lenha, onde as professoras eram as merendeiras e preparavam coisas simples como leite, café e água quente. O fogão a lenha ajudava a esquentar nos dias frios de inverno. “Os dedos chegavam a ficar duros de tão frio que era nas brizoletas”, lembra o professor. O primeiro lanche que Osório se recorda foram bolachas e leite em pó, enviados pelo programa “Aliança pelo Progresso”, do presidente John F. Kennedy (Estados Unidos).
Apesar das dificuldades estruturais, Osório afirma: “Para mim, o importante era a qualidade de ensino, não precisava ser um prédio arquitetônico bonito. Se eu sou um bom professor, consigo dar uma aula até debaixo de um pé de manga.” As aulas tinham em média de 15 a 30 alunos e o professor tinha que conseguir lecionar para séries diferentes ao mesmo tempo. As escolas eram um lugar da comunidade e eram usadas também pelas igrejas. Foi dando aula em umas dessas brizoletas que Osório perdeu a ponta do dedo indicador. Como as janelas tinham somente vidraças, ele acabou ficando com uma marca da precariedade daquele tempo para o resto da vida. Mas fala, entre risadas: “Eu tenho nove dedos inteiros ainda”.
Os professores
Ele também participou da construção de diversas escolas de Dois Irmãos. “Se tu encontras uma escola com nome de ex-professor, é do meu tempo. Porque eu disse que queria prestigiar a classe daqueles professores comunitários que quase não ganharam nada. Como o professor Affonso Wolf, por exemplo”, comenta. Affonso Wolf foi o primeiro professor do Estado que trabalhou no município, e Osório o conheceu quando já estava aposentado.
Osório conta que convidava para darem aula pessoas que fossem da comunidade ou que fossem daqui e que iriam morar na comunidade. Para ele, isso era essencial, porque “o professor antigamente era uma liderança comunitária”. Além disso, a maioria era ex-seminarista ou mulheres que desistiram de serem freiras, ou pessoas que tinham algum nível de estudo. Eles eram chamados de professores leigos.
A função de secretário
Osório iniciou o trabalho de secretário quando a prefeitura tinha nove anos. Segundo ele, naquela época, quem tinha carro era o prefeito e o setor de obras. Como ele tinha muitas escolas para visitar e Dois Irmãos era maior, pedia emprestado um jipe dos responsáveis pelas obras quando chovia, já que as obras paravam. Dessa forma toda vez que chovia, lá estava Osório visitando as escolas do município. Ele conta que o jipe era de lona e chovia para dentro. Por isso, ele colou um guarda-chuva no assento do motorista e assim conseguia cumprir seu trabalho.
Osório destaca que a necessidade da educação está acima da política. “Eu tive um cargo político, mas nunca fui político. Não deixava misturar política partidária com a educação. Na educação e na saúde não pode ter política partidária. A educação é um processo que nunca chega ao fim. Para mim, foi bom ter muitos anos para contribuir nisso”, conclui.