
A cabeleireira com os bobs e o secador de cabelo antigo
Alvarena Maria Collet é uma cabeleireira que tem história em Dois Irmãos. Com seus 79 anos, em 2022 ela vai completar 60 anos trabalhando em seu próprio salão, no qual Ivanir Kiest é sua sócia há 27 anos. Dessa forma, Alvarena conseguiu viver as mudanças na moda e nos conceitos de beleza aqui da região. As clientes do salão têm em média 70 anos de idade e uma delas é cliente fiel há 45 anos.
A cabeleireira começou aos 20 anos com um salão improvisado nos fundos de casa. Nos anos 60, a moda eram cortes de cabelo curtos e cheios, mas as mais jovens preferiam o cabelo comprido. Uma tendência que existia era dos permanentes, uma química para deixar os cabelos cacheados e dar mais volume aos fios. Alvarena explica que os permanentes mais antigos tinham uma química muito forte e um odor desagradável. Mesmo assim, ela conta que o procedimento era feito até mesmo em crianças.
Anos atrás, as mulheres chegavam ao salão de cabelo lavado, não tinha o secador manual, somente o de cabeça. O principal pedido eram os penteados, algo que não é tão popular na atualidade. “Eu fazia muitos penteados, ninguém ia às festas e aos bailes sem penteado, sem aqueles coques trabalhados”, recorda Alvarena. O penteado nas mulheres de cabelo curto era enrolar os fios com bob, que deixava os cabelos ondulados. “Elas vinham de manhã com o cabelo lavado, eu enrolava e elas iam para casa de bob. Depois voltavam à tarde para terminar o penteado”.
Por causa da necessidade de fixar os penteados, o spray de laquê era muito utilizado. Não era com aerossol, mas sim com um vaporizador manual. A cabeleireira comprava galões de cinco litros de laquê e ia repondo no vaporizador. O produto era mais pegajoso e as mãos dela ficavam com uma crosta de laquê no fim do dia. As cores dos cabelos eram naturais, não tinham coloração. As mais velhas usavam o cabelo grisalho e depois começou uma técnica que se usava um tom de azul ou cinza para dar um brilho aos cabelos brancos. Hoje em dia as tintas e tonalizantes são comuns e poucas mulheres mantêm os fios grisalhos.
Mudanças ao longo dos anos
De acordo com Alvarena, a moda de alterar a cor dos cabelos com luzes começou em 1965. “As primeiras que eu fiz não tinha touca; na primeira cliente de luzes eu furei um saco plástico e consegui fazer. Depois surgiram as toucas de borracha e de silicone que facilitaram o trabalho”, conta.
Em 1990, Alvarena começou a lavar os cabelos no salão e a fazer escova nos fios, pois os cabelos lisos começaram a entrar na moda. “A maioria hoje pede alisamento e escova progressiva, mas eu não me especializei nisso porque eu já me intoxiquei o suficiente fazendo os permanentes. Por isso, eu trabalho com as pessoas de mais idade, que não fazem isso”, comenta a cabeleireira.
Atualmente, ela faz coloração, permanente, corte e luzes, enquanto que a colega Ivanir Kiest faz a parte de pé, mão e depilação. Como Alvarena mora sozinha, vir trabalhar no salão é uma forma de encontrar as amigas e conversar sobre os tempos de antigamente. Por isso e por amar a profissão, ela não pretende se aposentar enquanto conseguir trabalhar, e vai continuar trazendo beleza para as pessoas todos os dias.