Fundador guarda fotos que ajudam a contar a história da H. Kuntzler
Herberto Kuntzler é o fundador da H. Kuntzler, fábrica de calçados reconhecida internacionalmente e que ajudou a impulsionar o desenvolvimento de Dois Irmãos ao lado de empresas históricas do município. Atualmente com 88 anos, ele conta sobre sua trajetória grandiosa com humildade.
Herberto nasceu em 1933, em Dois Irmãos, e desde seus 13 anos de idade ajudava o pai, Fernando Kuntzler, a produzir sapatos na garagem da casa que ficava em frente ao Colégio Imaculada Conceição. No ano de 1954, Fernando foi morar no Paraná e Herberto assumiu a sapataria do pai. “Na época, trabalhávamos só para Dois Irmãos, eu fazia botas, tamancos, chinelos e principalmente consertos de sapatos”, relembra.
No dia 2 de janeiro de 1956, ele abriu a empresa Calçados Benjamim com o seu amigo Benjamim Motyczka. Mais tarde, em 1959, Herberto mudou o nome da empresa para H. Kuntzler e o sócio Benjamim deixou de fazer parte da indústria. O foco naquela época eram os calçados infantis e a primeira marca desenvolvida foi a Badel.
As vendas começaram a expandir para fora de Dois Irmãos, depois para o Rio Grande do Sul, para o Brasil e por fim para diversos países. A pequena fábrica que nasceu no porão de uma casa atingiu proporções globais. A partir de 1974, o foco deixou de ser calçados infantis e se tornou a produção de sapatos femininos. “Com as fábricas, Dois Irmãos começou a crescer, era um setor muito forte. Para a cidade, o calçado foi um salto, começou a vir muita gente de fora para trabalhar aqui porque faltava mão de obra”, comenta.
Algumas fábricas que existiam naquela época eram: Ellwanger, Montanha, Wirth, Henrich, Roseli e Herval. As fábricas trouxeram não somente novos moradores e geração de renda, mas também uma movimentação social. Os industriários pediam donativos, organizavam festas e ajudaram a construir a Sociedade Santa Cecília e a Igreja Matriz de Dois Irmãos.
Novos tempos
A tecnologia surgiu e as coisas começaram a melhorar. Herberto explica: “O sapato é melhor que antigamente, antes era feito tudo a mão, era tudo pregado, todo mundo sentado e trabalhavam em cima dos joelhos.” E acrescenta: “Hoje em dia, são as máquinas que fazem a maior parte do trabalho. Antigamente era pregado, hoje é tudo com cola, porque a cola ficou tão boa que ficou melhor que com o prego”.
Na atualidade, a H. Kuntzler tem a fábrica matriz em Dois Irmãos e duas filiais – uma em Sapiranga e outra em Santa Maria do Herval. Empregam em média 1.200 funcionários diretos e também fazem a produção de bolsas e acessórios, além dos calçados femininos. Herberto acredita que o futuro do calçado depende de um governo que priorize e facilite a exportação, que é uma parte importante para a sobrevivência das indústrias calçadistas. “Sem a chance de exportação, fica difícil pensar em um futuro”, diz.
Empresa familiar
Herberto tem três filhos, sete netos e uma bisneta. Os filhos e três netos fazem parte da H. Kuntzler, mas ele deixou de ser sócio. “Eu vou aos finais de semana para dar uma olhada, mas são meus filhos que estão tocando a fábrica. Tenho três netos que estão envolvidos também. Para mim, é uma satisfação que os netos decidiram participar, sendo a terceira geração na empresa”, comenta o fundador, orgulhoso.
Em um ritmo diferente que a idade exige, no seu tempo livre ele gosta de ir para a sua chácara no Travessão, onde tem uma horta e cria pavões, faisões, porco e gado. Para ele, é uma satisfação poder dizer que os industriários ajudaram Dois Irmãos a crescer e ver as próximas gerações continuando o trabalho.