“Sairemos fortalecidos na nossa fé e vontade de começar de novo”, diz padre César

22/05/2020
Pe. César Worst (Foto: Divulgação)

Pe. César Worst (Foto: Divulgação)

A Paróquia Imaculada Conceição de Morro Reuter tem realizado missas presenciais com ocupação de 25% da capacidade da Igreja Matriz. A pandemia da Covid-19 impede que existam aglomerações, como forma de evitar a propagação da doença – Morro Reuter, felizmente, ainda não registrou nenhum caso. 
Em entrevista ao Jornal Dois Irmãos, o pároco César Worst falou sobre o momento vivido por todos e como a Comunidade Católica celebra sua fé. “A limitação do número de participantes imposta pelas leis do governo estadual foi rapidamente solucionada por meio de maior número de celebrações na Matriz (amplo espaço), com inscrições prévias (feitas no telefone da paróquia) e com marcações nos bancos. Colocamos álcool nas entradas e higienizamos a igreja entre uma celebração e outra”, comenta o sacerdote.
Leia a seguir a entrevista completa:


Neste período de isolamento social pela pandemia do coronavírus, como ficaram aqueles fiéis que normalmente procuram o pároco para aconselhamento? 
Pe. César
– As medidas contra este atual contágio iniciaram justamente numa época em que as pessoas fazem sua revisão de vida em virtude da Páscoa Cristã. Neste sentido, tomamos as medidas necessárias para atender a todos. Os dias e horários de confissões se mantiveram normalmente. Desde o início, nossa igreja se manteve aberta para oração pessoal e aproveitei este momento para estar mais disponível. Inclusive antes e depois das missas, reservava tempo para confissões e aconselhamento. É muito importante que nas circunstancias de medo e angústia os fiéis encontrem na Igreja e nos seus sacerdotes atitude de serenidade, prudência, mas sobretudo de acolhimento. 


Alguma Pastoral funcionou neste período?
Pe. César
– Todas as pastorais funcionam. As pastorais não são organismos paroquiais burocráticos. São feitas de pessoas. Só não tivemos aglomerações de pessoas, conforme as orientações da Diocese. Mas procuramos manter toda a atividade pastoral dentro das limitações, mas sem parar. Também preocupei-me de manter a formação dos colaboradores de forma diária, por meio de formações espirituais. A pastoral social continua atendendo normalmente com as medidas sanitárias. Os casais jovens continuam a se encontrar por meios virtuais. Os idosos do Apostolado da Oração continuam rezando em suas casas. A paróquia está viva pastoralmente, embora não haja reuniões. 


Como será o ano em termos de catequese, batismos e casamentos neste período?
Pe. César
– Não existe evangelização sem catequese e sem sacramentos. Sobretudo a Eucaristia, que é Quem faz a Igreja. Já dizia o grande Santo João Paulo II: “A Igreja vive da Eucaristia”. Os sacramentos dão a vida para a Igreja. No pico da pandemia, tivemos que transferir algumas datas de casamentos. Passamos para mais adiante. Também naquela época, tivemos uma urgente orientação da Diocese para o cancelamento. Hoje, graças a Deus, temos outra orientação e podemos celebrar (com as devidas medidas sanitárias) todos os sacramentos. Sobre a catequese, manteremos a suspensão presencial enquanto as crianças não tiverem aulas escolares. Cada catequista orienta sua turma de forma virtual. Também, desde o início, as famílias se inscrevem para a participação da Missa dominical (temos 8 missas no fim de semana). Assim, para as crianças a Missa é a catequese semanal por excelência. Estamos estudando uma forma de reunir as crianças por ano catequético com distanciamento na Igreja Matriz. Cuidar da vida é um dever. Mas, quando falamos em vida, consideramos ela de forma integral: corporal, psicológica e espiritual. Por isso, teremos que nos adaptar para que haja um cuidado a respeito da pandemia e ao mesmo tempo um cuidado da dimensão religiosa. Sem descuidar nem um e nem outro. Outra dimensão importante é entender os pais das crianças como primeiros e insubstituíveis catequistas. 


Como é a experiência dos enterros em solidão familiar? O que notou nas pessoas?
Pe. César
– Procuramos atender com carinho a todas as pessoas enlutadas. As medidas de limitação presencial nos velórios, uso de máscaras e impedimento de missas de corpo presente foram especificadas pelo poder público. Mas o sacerdote faz as orações no necrotério, acompanha até o cemitério e na transmissão da Palavra de Deus procura dar o consolo necessário. Também celebramos missa pelo falecido em outro dia oportuno. As famílias são orientadas, após o sepultamento, a procurarem a paróquia para uma conversa com o padre para serem aconselhadas espiritualmente. Notamos nas pessoas o respeito pelas normas, mas a consciência de que é algo passageiro. Seria muito triste não poder prestar as últimas homenagens para um ente querido. Por isso, nós, como Igreja, devemos fazer tudo o que podemos fazer, sem cair no medo infundado. 


Para alguém acostumado a missas lotadas, como é celebrar num templo vazio?
Pe. César
– Na verdade, nunca me preocupei com a quantidade. Celebrar com uma pessoa e celebrar com centenas, é a mesma “renovação do Sacrifício de Cristo”. A missa sempre tem um valor universal. Por outro lado, a limitação do número de participantes imposta pelas leis do governo estadual foi rapidamente solucionada por meio de maior número de celebrações na Matriz (amplo espaço), com inscrições prévias (feitas no telefone da paróquia) e com marcações nos bancos da igreja. Colocamos álcool nas entradas e higienizamos a igreja entre uma celebração e outra. Na verdade, pela Constituição Federal, nenhuma autoridade civil pode impedir o culto. E o bom senso falou mais alto, e conseguimos celebrar com cautela. As pessoas que, por alguma razão, não podem ir, assistem nos canais católicos ou na internet. Templo vazio ou templo cheio? Nenhuma Missa é uma apresentação. É um diálogo com o eterno, com Deus. O padre sempre está de frente para Deus Pai, não para uma plateia. E, neste sentido, presta um serviço na Pessoa de Jesus Cristo.  Celebrar a Missa em favor do povo é o principal trabalho de um sacerdote na Igreja Católica. Mesmo que ele corra riscos. Assim sempre foi na história da Igreja, mesmo em tempo de guerra, perseguição e pandemias. 


As igrejas foram reabertas ao público. Têm público?
Pe. César
– Sim! Sempre estivemos abertos. Somente cuidamos para não haver aglomeração. Imagine: se os mercados não foram trancados, as farmácias abertas, como poderíamos pensar uma “igreja fechada”? Não há sentido nisso. É de fato o grande refúgio das pessoas. Penso, por exemplo, numa catástrofe: teríamos que abrir nossos salões e igrejas para abrigar as pessoas. Jesus passou pela experiência de ter portas fechadas para seu nascimento. O próprio Papa fala na Igreja como um “hospital de campanha”. Nestas horas, devemos sempre pensar: “O que Jesus faria no meu lugar”? Com certeza acertaríamos! As pessoas vêm fazer sua oração pessoal. Tenho um sistema de aviso (alarme) quando alguém entra na igreja. Então vou ao encontro para saudá-la. As vezes é só isso. Outras vezes, brota uma boa conversa, uma bênção ou até uma confissão. Durante este tempo de Covid, percebi uma maior frequência na visitação da igreja. As perguntas são bastante lógicas: O que aconteceria se estivesse fechada? O que aconteceria se não fosse acolhida por alguém? Este tempo de pandemia me faz pensar muito a questão da acolhida na Igreja Católica. Não posso ser um padre de escritório. Preciso estar mais disponível no lugar onde me corresponde: não na sacristia, mas no espaço de oração da Igreja. Tudo é aprendizado. 


A Paróquia Imaculada Conceição tem quantos fieis que colaboram? 
Pe. César
– É uma pergunta muito ampla. Acredito que toda pessoa que faz o bem colabora com a nossa Paróquia. Mesmo de outras religiões. Já diziam os antigos: “Bonum difusivum est”, isto é: “O Bem é contagiante” (numa tradução livre). Mas se sua pergunta é sobre os colaboradores diretos, temos que entender que nossa paróquia, além da Matriz conta com as seguintes comunidades: Birckenthal, Vila Görgen, Vila Kolling, Walachai, São José, Franckenthal, Quatro Cantos, Picada São Paulo e Cristo Rei. Cada qual com seus dizimistas e colaboradores. Estamos enfrentando (como todos) as dificuldades do tempo. No entanto, as pessoas de fé, continuam ajudando suas comunidades como podem. Mas isso só acontece por que essas pessoas se sentem cuidadas pela paróquia. A colaboração é fruto da fé. 


Sem ir às missas ou poder aconselhar-se com o padre, como ficou a participação dos que apoiam a Igreja?
Pe. César
– Todos podem se inscrever para as missas e podem procurar o padre para aconselhamento. Mesmo os doentes estamos visitando. Neste sentido, não há restrição alguma. É só tomar as medidas de prudência.


Qual ensinamento cristão este período ensina?
Pe. César
– Muitos. Há virtudes que precisamos adquirir e defeitos que precisamos eliminar. Há uma necessária reflexão a ser feita sobre a centralidade da fé (como prática) na vida de quem crê. A dimensão sacramental da vida do católico (como fonte de vida espiritual). A noção dos direitos e dos deveres dos batizados. A importância da família como Igreja Doméstica. 
Mas o aprendizado deve ser não somente para os membros da Igreja (leigos), mas também para nós pastores e pastorais. Bem sabemos que a centralidade da vida cristã é o amor. E amar é “sair de si e ir ao encontro das necessidades concretas do outro”. Parece-me o centro dos ensinamentos do Santo Padre: uma Igreja em saída e atenta às necessidades dos outros para dar-lhes o que nos compete dar. E o que nos compete dar? Ensinar a doutrina de Cristo por palavras e exemplos (ação social)! Aconselhar e orientar as pessoas! Dar-lhes vida por meio dos Sacramentos! 


Neste momento, apenas o Pároco atende tudo ou tem mais algum padre?
Pe. César
– Em Morro Reuter, temos dois padres: Pe. Pedro Oscar Calsing e eu, Pe. César Worst. Como o nosso querido Pe. Pedro Oscar já tem a sua idade, o trabalho dele é de rezar o Ofício Divino e celebrar missa diária (em sua casa). Isso é um grande trabalho! Nos sentimos muito bem apoiados na oração dele, e somos muito agradecidos. Quero privar-lhe de qualquer exposição e, assim, cuidamos dele. Junto a ele está um querido casal de nossa comunidade (Helio e Laura Zimmer) que dão toda a assistência necessária. Eu fico encarregado dos outros trabalhos. Também sou eventualmente ajudado pelos ministros extraordinários da Comunhão, que, com todo o cuidado, levam a Sagrada Eucaristia aos que o pedem. Quem me conhece, sabe que sou um pouco obeso. Tenho meus problemas de saúde. Fiquei sabendo até que sou considerado “de risco”. Mas, quem não o é? Temos que tomar as medidas de segurança e continuar trabalhando. Não posso ficar na retaguarda quando todos meus irmãos estão lutando. Tenho que estar na linha de frente. Como diz meu lema sacerdotal: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”. Tenho certeza que tudo isso irá passar (logo) e de tudo saberemos tirar lições. Sairemos fortalecidos na nossa fé e vontade de começar de novo. Com ou sem vírus!


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