Fonte: Exame
O grande temor dos brasileiros na década de 1980 e início dos anos 1990 está de volta. De acordo com a mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, mais da metade das pessoas, 57%, acham que a inflação é o maior problema do Brasil neste momento e que ele precisa ser resolvido ainda em 2022. O desemprego aparece logo na sequência, com 19% das pessoas dizendo ser o maior problema do país, seguido pela pobreza (12%), e da violência (6%).
A sondagem ouviu 1.284 pessoas entre os dias 15 a 17 de março. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa EXAME/IDEIA é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. No acumulado dos últimos 12 meses até fevereiro, o IPCA, principal indicador de inflação do Brasil, está em 10,54%.De janeiro a fevereiro, o índice variou 1,01%, a maior alta para o mês desde 2015. Em 2021, a inflação ficou em 10,06%, uma das maiores desde a criação do Plano Real.
Na próxima sexta-feira, 25, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os dados do IPCA-15, considerada uma prévia da inflação oficial. Em 12 meses, os produtos que mais subiram foram a cenoura (83%), o café moído (61%), e o mamão (57%). A lista analisada pelo IBGE tem mais de 400 itens.
Tema sensível
Maurício Moura, fundador do IDEIA, explica que para alguns segmentos da sociedade o tema da inflação é mais sensível do que para outros. Entre as pessoas com ensino superior, por exemplo, a aflição com a alta de preços bate na casa dos 61%. Na região Sul, este número ultrapassa os 71%. “É interessante ver como esse ano de 2022, que é eleitoral, a economia vai ter um papel fundamental no debate. O segundo problema apontado pela pesquisa é o desemprego, que também tem relação econômica. É mais um dado que corrobora com aquela máxima de que o tema da eleição é a economia”, afirma.
A pesquisa ainda questionou as pessoas sobre a maior preocupação pessoal. E a inflação também aparece como a maior inquietação, para 36%. Logo depois vem “sustentar a família”, com 14%, e a Guerra da Ucrânia, com 12%. “A pesquisa também traz uma pergunta sobre se a inflação tem sido um grande problema para o dia a dia dos brasileiros e o resultado mostra um número superlativo, com mais 80% concordando com esta frase. E se você olhar os grupos, há muita consistência entre gênero, idade, religião, escolaridade e classe sobre o tema da inflação. É um assunto que realmente está batendo muito forte na opinião pública brasileira”, afirma Maurício Moura.
Combustíveis é a maior percepção de aumento
Para 46% dos entrevistados, a inflação dos combustíveis foi a que causou a maior percepção. O grupo de alimentos corresponde a 29% das respostas, seguido do gás de cozinha, com 15%. No acumulado dos últimos 12 meses até fevereiro, o IPCA dos combustíveis teve uma alta de 33%. A gasolina subiu 32%, o etanol, 36%, e o diesel, 40%.
Para 60% dos brasileiros, o conflito na Europa e o presidente Jair Bolsonaro são os maiores responsáveis pelos atuais preços da gasolina, do etanol e do diesel. Entre os entrevistados, 20% consideram que a maior responsável pela alta é a Petrobras, e outros 10% entendem ser os governadores dos estados e do Distrito Federal.
Maurício Moura faz dois destaques em relação à responsabilidade sobre o patamar alto dos preços dos combustíveis. O primeiro deles é que quanto maior o grau de escolaridade, maior é o entendimento de que é um fator externo. Dos entrevistados com nível superior, 33% defendem ser culpa de fatores internacionais. Já no universo de pessoas com ensino fundamental, este número é de 28%.
O segundo apontamento diz respeito à responsabilidade da esfera federal. “Se somarmos quem acha que os responsáveis são Petrobras e o presidente, temos metade do país que, de alguma maneira, atribuiu a culpa ao governo federal. Lembrando que o presidente se beneficia quando temos indicadores econômicos positivos, mas também perde popularidade quando tem aumento de combustível”, diz.
Por conta desta alta dos combustíveis, 83% dizem que diminuíram o uso do carro ou da moto. Os dados mostram que quanto menor a renda, maior o ajuste na maneira de se locomover para driblar a alta dos combustíveis. Entre os que ganham até um salário mínimo, 92% dizem que diminuíram o uso do carro ou da moto. Na parcela com poder aquisitivo mais alto, com renda superior a 5 salários mínimos, este número é de 74%.