Fonte: g1
Mulheres que trabalham com gastronomia esbarram em três grandes barreiras para conseguir crescer neste mercado: falta de crédito, formação e visibilidade. Os temas reúnem as principais reclamações das profissionais ouvidas em uma pesquisa feita pelo Instituto Ipsos em parceria com Stella Artois.
As mulheres são responsáveis pela cozinha em 96% dos lares brasileiros, segundo dados da Pnad divulgados em 2019. Mas quando se trata de cozinha profissional, o cenário é quase inverso: só 7% dos restaurantes com melhores avaliações no Brasil são comandados por chefs mulheres, segundo o relatório Chef’s Pencil. Para conseguir crescer na cozinha profissional e melhorar esse índice, quase metade das entrevistadas sente necessidade de profissionalizar as técnicas que aprenderam, muitas vezes, em casa. Elas desejam mais conhecimento, mas esbarram na falta de tempo e dinheiro. Também falta dinheiro para investir em expansão do negócio, fluxo de caixa e formação de estoque, dizem as profissionais. E uma em cada três profissionais da gastronomia afirma que empreender no setor custa mais caro para elas em comparação aos homens.
Dados da pesquisa também mostram que a presença feminina é menor em estabelecimentos com 20 ou mais funcionários. E nesses estabelecimentos, 43% dos proprietários ou responsáveis apontam a dupla jornada como uma barreira para a contratação de mulheres.
Projeto Juntas na Mesa
A partir dos dados da pesquisa, a Ambev criou o projeto Juntas na Mesa e selecionou dez chefs para a campanha: Kátia Barbosa, Bela Gil, Bel Coelho, Bruna Martins, Andressa Cabral, Kalymaracaya Nogueira, Cafira Foz e Michele Crispim, Nara Amaral e Amanda Vasconcelos.
Katia tem, hoje, dois restaurantes famosos no Rio de Janeiro e foi jurada do programa “Mestre do Sabor”, na Globo. Ela diz que, como algumas das colegas, contou com a sorte (além do trabalho duro) para se consolidar.
– Eu estava em um botequim vagabundo e tinha uma boa comida. Mas tive vários fatores-sorte: comecei a trabalhar no momento do boom da gastronomia do Brasil há 20 anos, conheci o Claude Troisgros e jornalistas muito legais que me abriram portas. Mas hoje a gente não pode colocar a mulher numa situação de esperar a sorte, temos outras ferramentas – diz.
O projeto também vai oferecer empréstimos de até R$ 60 mil para até mil chefs e cursos profissionalizantes de culinária e gestão de negócios.
Assédio e preconceito cultural
Além das barreiras financeiras e estruturais, as profissionais do setor também apontaram problemas que envolvem preconceito estrutural e assédio. Três em cada dez profissionais já sofreram discriminação e 36% concordam que muitas chefs já sofreram assédio moral e/ou sexual ou foram expostas a situações constrangedoras na cozinha.
Um terço das profissionais também já pensou em mudar de profissão por falta de oportunidade e sentem que não são ouvidas pelos chefes homens. Metade das mulheres concorda que a cozinha doméstica é vista pela sociedade como um trabalho de mulher e que a maioria dos chefs renomados são homens porque eles têm mais oportunidades de trabalho.
A pesquisa foi realizada pela Ipsos a pedido de Stella Artois durante o mês de agosto. Foram entrevistadas mil pessoas que trabalham na área da gastronomia em Belém, Brasília, Goiânia, Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.