Fisioterapeuta Lázaro Ribeiro Luz atendeu 16 pacientes, entre eles Ivana Collet
Acometidos pela Covid-19, há casos de pacientes que permaneceram internados, e muitos deles intubados, por um longo período. Especificamente nestes casos, após a alta hospitalar ainda há um extenso caminho pela frente. É neste momento que recuperar a capacidade motora e pulmonar mostra-se como o principal desafio daqueles que já se curaram do coronavírus.
Na etapa pós-Covid, a fisioterapia tem um papel importante na reabilitação dessas pessoas. Atuando em Dois Irmãos há quatro anos, o fisioterapeuta Lázaro Ribeiro Luz atendeu 16 pacientes, de diferentes cidades, que buscaram a reabilitação pós-Covid. Segundo ele, foram pessoas na faixa etária de 40 a 50 anos, e, na maioria, homens.
Dos casos, cinco foram de alta complexidade. Três deles chamam a atenção: os dos empresários Cláudio Armando Nunes e Marciano Kaefer e da bióloga Ivana Soligo Collet. “Eles renasceram”, diz Lázaro, comentando que todos enfrentaram situações extremamente delicadas em razão da Covid-19. “São verdadeiros milagres. Sempre brinco que eles não existem; que são extraordinários”, comenta, destacando a importância de um trabalho sério e a força de vontade do próprio paciente. “O Cláudio chegou aqui em uma cadeira de rodas; poucas sessões depois, estava caminhando”, lembra, vibrando com a reabilitação de todos. “Cria-se um vínculo, uma amizade; tornamo-nos parte daquela história”, completa Lázaro, que após a alta da fisioterapia, os acompanha também na transição para a prática de exercícios físicos em academias.
O objetivo ao longo das sessões de fisioterapia é devolver a autonomia aos pacientes o mais breve possível, e, para isso, é preciso incentivá-los a retomar, mesmo que de forma gradual, às suas rotinas. “Trazer o paciente para dentro da realidade dele, melhora a reabilitação. Ao estimulá-los neste sentido, temos uma evolução muito melhor”, finaliza.
“Nunca achei que voltaria a caminhar tão rápido”
Consequência da Covid-19, a bióloga Ivana Soligo Collet, de 52 anos, foi vítima de um AVC isquêmico em 13 de julho deste ano. Perdeu o movimento do braço e da perna esquerda e teve a fala comprometida. O fato ocorreu em casa e rapidamente ela foi socorrida pelo Samu ao Pronto Atendimento 24h. “O diagnóstico rápido em Dois Irmãos fez toda a diferença”, disse ela. Após o primeiro atendimento no local, Ivana foi transferida para o Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre.
Após 10 dias de internação, ela recebeu alta e voltou para casa, coincidentemente um dia antes do aniversário, em 25 de agosto. “Fui recebida com festa. De fato, comemorei a vida”, lembra, emocionada.
Ivana saiu do hospital em cadeira de rodas. “Nunca achei que voltaria a caminhar tão rápido”, disse ela, que já nos primeiros dias recebeu a visita do amigo e fisioterapeuta Lázaro. “Ele chegou com uma energia boa, super alto astral”, lembra Ivana, que já no mesmo dia foi estimulada a, aos poucos, retomar parte da rotina. “Depois de quatro sessões, já tinha o movimento das pernas”, conta a bióloga, que também contou com o apoio da fisioterapeuta Gabriela Lessing. “Todos os profissionais foram extremamente acolhedores e me motivaram muito. Brinco que o Lázaro era o ‘meu malvado favorito’. Insistiu, insistiu, até que me colocou de pé”, diz Ivana, aos risos, contando que sua recuperação surpreendeu os médicos. “Ao chegar para uma consulta, o neurologista se surpreendeu comigo. Perguntou se ‘era mesmo a Ivana’”, conta.
Coordenadora de Educação Ambiental da Secretaria de Educação do município, ela ficou 90 dias afastada do serviço. Estava ansiosa pelo retorno. “Ao retornar para o trabalho, para o meu dia a dia, aí sim tive minha vida de volta, aí sim me senti viva de novo”, completa.
“Na terceira semana, já cheguei de andador. Não sei quem estava mais feliz”
Diagnosticado com Covid-19 em novembro de 2020, o comerciante Cláudio Armando Nunes, de 55 anos, ficou internado durante 60 dias, sendo 57 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul. Para os médicos, a recuperação dele é inexplicável.
Durante a internação, ele já havia realizado sessões de fisioterapia, porém, ao receber alta da casa de saúde, ainda não tinha o movimento total dos braços e pernas, o que fez com que ele seguisse sendo assistido por fisioterapeutas. Nos três primeiros meses, contava com ajuda de uma profissional conhecida do hospital, porém, por indicação de um amigo, conheceu Lázaro.
Naquela época, Cláudio já estava há três meses na cadeira de rodas. “Pensei que nunca mais iria subir essas escadas”, conta ele, falando da escada de casa. Porém, após as primeiras semanas de fisioterapia, ele percebeu que isso estava mais próximo do que imaginava. “Na terceira semana, já cheguei de andador. Não sei quem estava mais feliz”, conta Cláudio, aos risos. “A cada semana era uma vitória”, diz ele, que depois caminhou com muletas e, por fim, sem nenhum apoio. “O Lázaro é muito querido e um profissional excelente; sempre me incentivou”, completa.
“Desde o início, queria me curar bem e voltar rápido”
Marciano Kaefer, de 42 anos, ficou 53 dias internado no Hospital Independência, em Porto Alegre, após ser acometido pela Covid-19. Passou por períodos críticos durante a internação, permanecendo intubado por quase 30 dias. Sua recuperação surpreendeu a todos, especialmente as equipes médicas que acompanhavam o caso.
Marciano recebeu alta hospitalar em 12 de maio deste ano, mas a recuperação seguiu exigindo muita determinação e força de vontade, uma vez que ele ainda estava muito debilitado.
As fisioterapias iniciadas ainda na fase de internação seguiram ocorrendo após a alta, com o fisioterapeuta Lázaro. E foi durante estas sessões, e em algumas ações do dia a dia, que perceberam outro fator que exigia atenção: ao realizar algumas atividades, principalmente na piscina, Marciano sentia falta de ar, o que o levou a consultar um especialista. Era preciso realizar uma traqueoplastia, para restabelecer o fluxo normal de ar. O procedimento ocorreu em setembro e foi um sucesso. Após liberação médica, ele deve retomar em breve, também, as sessões de fisioterapia.
Assistido por profissionais competentes desde a internação até aqui, Marciano destaca que sempre confiou que ficaria bem. “Desde o início, queria me curar bem e voltar rápido”, diz ele, destacando que o apoio da família foi crucial na recuperação. “O que corre nas nossas veias é a família”, reforça o empresário, que recebeu, ainda no hospital, a notícia de que seria avô. “Filho é bom, mas neto é bom demais. Tu pode curtir, pode mimar”, disse ele, aos risos, feliz com a chegada do pequeno Arthur Gabriel.
(Reportagem de Thaís Lauck)