“Foram os piores dias da minha vida”, conta o paciente Jair Dapper

27/01/2023
Ele ficou com diversas cicatrizes pelo corpo

Ele ficou com diversas cicatrizes pelo corpo

Quatro anos depois de uma série de cirurgias, e muitas complicações, ainda é difícil falar sobre tudo o que aconteceu. Jair Dapper, de 55 anos, foi um dos pacientes atendidos pelo cirurgião João Couto Neto.

Diagnosticado com uma hérnia de hiato diafragmático, o que era para ser uma cirurgia simples se transformou em 80 dias no hospital, sendo 48 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 28 dias em coma. Só no período de internação, Jair foi submetido a dez procedimentos cirúrgicos. “Foi terrível. Eu não podia fazer nada, só ficar deitado. Foram os piores dias da minha vida”, conta ele. “O que me dava força eram as minhas filhas”, lembra, emocionado, ao falar das três meninas.  

As consequências são permanentes. Jair tem limitações para se alimentar, não pode realizar atividades físicas e nem mesmo levantar peso. “Quem dera pudesse ser tudo como era antes”, lamenta Jair, que também ficou com diversas cicatrizes pelo corpo.

 

Primeira cirurgia ocorreu em junho de 2018

Em 2018, Jair consultou com um cardiologista após sentir dores no peito. Os exames não apontaram nenhuma alteração. Foi sugerido, então, realizar uma tomografia. O procedimento foi realizado no Hospital Regina, em Novo Hamburgo, e revelou uma hérnia de hiato diafragmático. O cirurgião indicado para o caso foi o médico João Couto Neto. Segundo Jair, a indicação ocorreu dentro do próprio hospital, o que teria aumentado a confiabilidade. “Na época, várias pessoas falaram bem dele”, comenta.

Após os exames pré-operatórios, Jair marcou a cirurgia para o dia 22 de junho de 2018. A técnica utilizada seria a videolaparoscopia. Finalizado o procedimento, João Couto Neto falou que a cirurgia tinha sido um sucesso, no entanto, ao mesmo tempo passou informações que já causaram estranhamento. Entre elas, que a cirurgia precisou ocorrer de forma aberta, e que nesse procedimento verificou que durante a manobra de puxar o estômago para o lugar, o baço foi lesionado e precisou ser retirado. Alegou que fez isso para conter uma hemorragia. Informou também que havia retirado a vesícula, pois caso Jair futuramente tivesse pedras, teria muita dificuldade em resolver, visto que estaria com uma tela dentro do abdômen. “Disse que havia ocorrido tudo bem, mas que havia sido mais complexa do que imaginava”, conta Núbia Dapper, esposa de Jair.

As complicações começaram a surgir poucas horas após a cirurgia, quando Jair chegou no quarto. Já em desespero, se queixou de falta de ar. Um raio x mostrou água nos pulmões. Mais tarde, outro procedimento constatou uma perfuração no estômago e a contaminação de órgãos internos, exigindo uma segunda cirurgia. Realizado o procedimento, Jair foi levado para a UTI, onde ficou 48 dias, sendo 28 em coma.

Não bastassem as complicações anteriores, Jair foi acometido por uma bactéria, que atingiu parte do pulmão, sendo necessária cirurgia para a retirada de parte do órgão, que estava petrificado. “O médico dizia que ele estava evoluindo, mas sempre precisava fazer mais uma cirurgia”, lembra Núbia, contando que muitas vezes se questionaram sobre mudar de equipe médica. Jair também sofreu uma perfuração no intestino. “Foram cirurgias intermináveis”, completa a esposa, contando que após a alta Jair precisou realizar mais duas cirurgias de hérnia, também no Hospital Regina, em junho e setembro de 2020.

A alta hospitalar ocorreu no dia 12 de setembro de 2018. Jair foi recebido com muita emoção pela família, especialmente pelas filhas, que encheram o quarto de corações. “Elas perguntavam muito por ele, tinham muita saudade”, conta Núbia, relembrando o dia que elas foram até o estacionamento do hospital e de lá puderam ver o pai. “Dia 27 de junho, no aniversário das gêmeas, elas pediram o pai de presente em casa. Naquela noite, meu cunhado estava com o Jair e ligou contando que ele havia acordado da sedação”, lembra, emocionada.

 

Reunião no hospital

Desconfiada de que havia algo errado, já na época Núbia acionou o advogado Fabrício Wasem, que agendou reunião com a direção administrativa, enfermeira chefe do hospital, uma psicóloga e o coordenador assistencial do Hospital Regina. Lá, relataram a situação e cobraram providências a respeito do médico. Segundo Fabrício, tudo foi registrado em ata.

 

 

*

 

ZÉLIA DURAU DAPPER

“Só pensava em quando teria a minha vida de volta, e ela nunca mais será a mesma”

 

Zélia Durau Dapper, de 45 anos, também foi uma das pacientes atendidas pelo cirurgião João Couto Neto. Em 2021, ela descobriu uma endometriose no ovário. Por indicação, consultou com um médico em São Leopoldo e realizou a primeira cirurgia no dia 29 de março daquele ano, no Hospital da Unimed. João Couto Neto atuou no procedimento como membro da equipe médica.

Dois dias após a cirurgia, já em casa, Zélia se sentiu mal e precisou realizar uma tomografia às pressas, na Unimed. O exame mostrou uma ruptura no ureter, que liga os rins à bexiga. Foi realizado um novo procedimento e os médicos alegaram que estava tudo bem. Porém, após quase três semanas, Zélia notou um líquido saindo pela cicatriz, e voltou ao médico. Foi necessária uma terceira cirurgia, agora realizada no Hospital Regina. “Foi ali que ouvi os primeiros comentários a respeito desse médico (João Couto Neto). Os próprios funcionários falavam mal dele”, comenta Zélia.

O procedimento não deu certo e ela voltou ao hospital para a quarta cirurgia, porém, desta vez o procedimento foi realizado por outros médicos, um deles, urologista, que introduziu o cateter Duplo J para manter a conexão entre o rim e a bexiga. “Corri o risco de perder o rim direito, pois o canal estava curto demais”, lembra Zélia, que passou por cinco cirurgias em 58 dias.

 

Perda do esposo

Durante as internações, Zélia sempre esteve acompanhada do esposo, Darci Dapper. Ele faleceu de Covid-19 no dia 12 de junho de 2021. Os sintomas começaram a surgir enquanto ele cuidava dela no hospital. “Quando recebi alta, ele foi me buscar. Não pude cuidar dele, e ele querendo cuidar de mim, mesmo tão debilitado”, conta. “Só pensava em quando teria a minha vida de volta, mas ela nunca mais será a mesma”, diz ela, lembrando emocionada do esposo.

 

(Reportagem de Thaís Lauck)


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