Reportagem de Thaís Lauck
Investigado por suspeita de causar lesões e mortes de pacientes, o cirurgião João Couto Neto, de 46 anos, está proibido pela Justiça de realizar cirurgias por 180 dias. Já a suspensão por parte do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) foi formalizada no último dia 6 de janeiro. Além disso, o Cremers também abriu sindicância para apurar as denúncias contra o médico.
A investigação está a cargo do delegado Tarcísio Lobato Kaltbach, da 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo. De acordo com ele, até a última quinta-feira (26) foram registrados 112 casos contra o médico, e deste quantitativo, 30 óbitos. “Todas estas ocorrências policiais estão sob investigação. Já foram ouvidas em torno de 80 pessoas, sendo vítimas/pacientes sobreviventes e testemunhas. Seguimos com as oitivas e daqui a uns dias teremos uma reunião com o Ministério Público (MP) a fim de alinharmos algumas outras medidas e definirmos quesitos a serem encaminhados ao Instituto Geral de Perícias (IGP) no que diz respeito aos depoimentos prestados na Delegacia de Polícia e documentos juntados no inquérito policial, como laudos, prontuários, relatório médico, dentre outros. Tais documentos e depoimentos serão encaminhados para análise médica pericial do Estado. Tudo isso será encaminhado logo que se terminem as oitivas”, informa o delegado, ressaltando que outras informações estão sendo coletadas junto ao hospital.
Conforme o delegado Tarcísio, por enquanto não há previsão para a finalização do inquérito policial. “É um inquérito muito volumoso e pendentes de inúmeras medidas judiciais, que serão ainda solicitadas ao Poder Judiciário, e de reunião com o MP”, comenta.
Drama de pacientes
Duas das vítimas são moradoras de Dois Irmãos e também entraram com processos indenizatórios na esfera civil contra o cirurgião. Jair Dapper entrou com processo em janeiro deste ano. Já o processo da paciente Zélia Durau Dapper tramita desde 2021.
Os dois são representados pelo advogado Fabrício Wasem, de Dois Irmãos. “O Jair foi submetido há mais de dez cirurgias, ficou totalmente mutilado. Vai permanecer eternamente com as cicatrizes no corpo, e o pior de tudo: não resolveu seu problema. A Zélia foi submetida a cinco cirurgias e permaneceu mais de 50 dias com vazamento de urina pelo ureter dentro da cavidade abdominal”, lamenta o advogado, que vem acompanhando de perto cada etapa dos processos na esfera civil e também o andamento do inquérito criminal. “Que esse médico seja responsabilizado por todos os crimes cometidos, que seja proibido de exercer a profissão, para amenizar o trauma de todas as vítimas e um pouco da dor das famílias enlutadas”, conclui o advogado.
Contraponto
O Jornal Dois Irmãos entrou em contato com o advogado de defesa do médico, Brunno de Lia Pires, que encaminhou a seguinte nota:
“Em virtude de a defesa do Dr. João Couto Neto não ter tido acesso à integralidade dos autos do inquérito, qualquer manifestação nesta hora seria precipitada. Importante frisar que será sim apresentada a versão do médico em momento oportuno, quando todos os documentos necessários tiverem sido aportados à investigação. A defesa tem plena certeza de que os fatos serão, com o tempo, devidamente esclarecidos, comprovando-se a completa correção nos procedimentos adotados pelo médico.
Brunno de Lia Pires”
Nota oficial do Hospital Regina
“O Hospital Regina lamenta e se entristece profundamente com os relatos repercutidos em mídia envolvendo a investigação da prática de um médico que utiliza a estrutura do Hospital Regina para realizar cirurgias em seus pacientes. As reclamações se referem aos atos do referido médico e não representam o trabalho desenvolvido pela Instituição e os mais de 2.000 profissionais especializados na prestação de um serviço comprometido com a saúde da comunidade de Novo Hamburgo e região. O Hospital Regina tem quase um século de existência e realiza mensalmente milhares de atendimentos, prezando pelo respeito, ética, segurança e qualidade dos serviços prestados.
O Hospital Regina ressalta que as queixas apresentadas dizem respeito ao ato médico do profissional envolvido nas denúncias e não do atendimento hospitalar, e que todos os fatos que chegaram ao conhecimento da direção tiveram atendimento e resolução, dentro da competência da Instituição hospitalar. Presta solidariedade e apoio aos pacientes e familiares envolvidos nos casos, assim como estima que os fatos sejam devidamente esclarecidos e julgados na forma da lei e dentro do conhecimento técnico e ético vigente. Seguimos com o nosso empenho, comprometimento na integralidade do cuidado e carinho com nossos pacientes.
Direção do Hospital Regina”.