(Foto: Arquivo JDI)
O cardiologista Antonio Sátyro, de Dois Irmãos, conversou com o editor Alan Caldas sobre o coronavírus (Covid-19), em entrevista para a TVLocal Dois Irmãos (Facebook do JDI). Leia os principais trechos da conversa:
Fala-se que o vírus não é tão letal, é verdade?
Sátyro – Sim. O grande problema é que é um vírus novo e não sabemos ainda muita coisa, estamos tendo resultados diferentes em países diferentes. A estatística é que 80% das pessoas vão se contaminar – e temos que nos contaminar, ou então não teremos anticorpos; somente uma minoria terá problemas, mas essa minoria, como nós vamos saber quem é? Outro detalhe: se temos mais gente contaminada, temos mais gente com problema, é proporcional. A última epidemia, que eu tive muito medo pelo número de mortes, foi a H1N1 (gripe A), que é um vírus muito letal, agressivo. Tivemos menos casos, pois a propagação não foi tão intensa. A maioria das pessoas não tinha muito ideia do que era, a não ser quem viveu. Agora, não é assim, pois 80% da população vão se contaminar. É claro que não vai acontecer nada com a maioria, mas com alguns vão acontecer. Então, vamos ter muito mais pessoas em hospitais. Se de cada dez pessoas com H1N1 eu internava de três a quatro, agora eu interno uma. O problema é que, se tiver 100 com coronavírus, vão internar 10; se tiver 1.000, vão internar 100... O problema é o número de casos.
O que esperar mais adiante, com a chegada do inverno?
Sátyro – A perspectiva é pior. Se compararmos os estados do Sul com o que acontece com a temperatura em Wuhan (China) e na Itália, temos que tirar isso como base. Temos uma perspectiva de piora quando começar o frio. Vamos ter um contágio mais rápido entre as pessoas, o chamado contágio comunitário. Por isso, as medidas que estão sendo tomadas agora, que parecem duras, são justamente no intuito de não alavancar essa contaminação e deixar ela mais lenta.
Quando a curva de contágio deve começar a cair?
Sátyro – Tudo é novo. A perspectiva é que o pico ocorra entre maio e junho, conforme foi dito pelo ministro Luiz Henrique Mandetta (da Saúde), e a partir de julho a curva vai cair. Temos, ao longo da história, alguns problemas que nós chamamos de ‘repique do vírus’. Espero que, se isso acontecer com o corona, até lá a gente tenha a vacina. Foi o que aconteceu com a gripe espanhola (1918-1919), por exemplo, uma tragédia mundial. O vírus vem, ele sai, aí ele volta e é desastroso, pois volta diferente e pior. Mas é claro que vamos ter a vacina.
Seria exagero o que se noticia sobre o coronavírus?
Sátyro – Não. As pessoas precisam ficar atentas. A partir do momento em que começa a se propagar pelo mundo e que a gente conversa com colegas que atenderam pessoas, a gente começa a mudar a opinião. Até por um momento achei que poderia ser um exagero, mas não é. De tudo o que acontece a gente tem que tirar algo de bom. Essa situação vai nos deixar algumas coisas boas, a maneira de como nos comportamos, a questão de respeitarmos o próximo, de sabermos que não existe nada mais valioso que a nossa saúde.