
Ensaio da peça Distopia (Foto: Divulgação)
Com mais de três décadas de dedicação às artes cênicas, Alexandre Gindri Fávero, atualmente com 54 anos, é um nome de referência no cenário do teatro de sombras no Brasil. Encenador, cenógrafo, dramaturgo, iluminador e diretor, ele é o fundador da Cia Teatro Lumbra (2000) e da produtora cultural Clube da Sombra, sediada em Porto Alegre, mas com estúdio de criação em Dois Irmãos, onde parte da mágica acontece.
Autodidata e apaixonado pelo teatro desde os anos 1980, Alexandre iniciou sua carreira profissional na área técnica em 1995. Desde então, acumulou prêmios nacionais e internacionais, conquistando reconhecimento por sua criatividade, profundidade conceitual e abordagem poética ao trabalhar com luz e sombra. “Nossa arte com o teatro de sombras não é efeito, mas conceito poético”, afirma.
O Clube da Sombra
Criado em 2006, o Clube da Sombra é mais do que uma produtora cultural. Inspirado nas antigas sociedades de pensadores que estudavam luzes e sombras para compreender o mundo, o projeto atua na criação, formação e difusão da arte por meio da linguagem da sombra. Seus espetáculos viajam pelo Brasil e pelo mundo, alcançando públicos diversos com propostas que envolvem pedagogia, folclore, mitologia e estética visual.
A gestão da produtora é dividida entre Alexandre e sua sócia Fabiana Bigarella. “Administrar uma empresa no Brasil é um trabalho diário, com muitos desafios burocráticos, mas necessário para que a arte continue em movimento”, ressalta.
Espetáculos e reconhecimento
Desde o premiado Sacy Pererê – A Lenda da Meia-Noite (2002) até o recente curta-metragem A Viagem de Jacinto (2024), o portfólio da Cia Teatro Lumbra impressiona pela diversidade e inovação. Projetos como Bolha Luminosa, Criaturas da Literatura, Poemas Noturnos e Boitatá exploram narrativas visuais e sonoras que encantam públicos de todas as idades.
Ao longo da carreira, Alexandre e sua equipe conquistaram diversos prêmios como os Troféus Açorianos, Tibicuera, Puri e premiações internacionais como o ATINA, na Argentina. “O que nos move é o público. A inspiração não cessa quando há conexão com quem nos assiste”, comenta.
Dois Irmãos como berço criativo
Desde 2017, parte do processo criativo da produtora acontece em Dois Irmãos. A cidade abriga um estúdio de criação e ensaio, além de estar próxima ao Ponto de Cultura Vale Arvoredo, em Morro Reuter, onde são realizados projetos de formação, residências e eventos artísticos. “Dois Irmãos nos oferece logística, qualidade de vida e um público em formação que recebe nossos espetáculos com curiosidade e entusiasmo”, explica Alexandre.
Desafios e futuro
Os anos de trajetória também exigiram superação. Alexandre relembra os tempos de pouca informação, antes da internet, quando os estudos vinham de livros importados. A pandemia foi outro grande desafio, mas também uma oportunidade de adaptação e reinvenção.
Hoje, o Clube da Sombra desenvolve projetos como o filme Enquanto a Luz Não Chega, o espetáculo Distopía e a proposta Sombras na Pele, voltada a PCDs visuais. Além disso, a produtora mantém uma forte atuação na formação de artistas, com oficinas e a residência internacional Territórios Desconhecidos, que já reuniu participantes de diversos países.
Um pensamento que guia a jornada
Para Alexandre, o papel social da arte é essencial: “A consciência da população sobre a diversidade na produção artística é a força que transforma a sociedade, oferecendo não só diversão e entretenimento, mas um posicionamento crítico na construção de relações mais justas, sensíveis e plurais.”