Bicho-papão do skate olímpico, Japão colhe frutos do investimento em pistas pelo país

30/07/2024
Fonte: ge / Foto: Angelika Warmuth/Reuters

Fonte: ge / Foto: Angelika Warmuth/Reuters

Em um país como o Japão, que valoriza o silêncio e o comportamento discreto, padronizado e ordeiro, a cultura do skate sempre foi vista como algo impróprio, para se dizer o mínimo. Antes das Olimpíadas de Tóquio, os praticantes do esporte eram reprimidos por policiais se andassem em áreas mais movimentadas ou fora do horário comercial. Somente em locais mais isolados, e ainda assim em horários alternativos, os skatistas podiam andar livremente.

– Não há muita diversidade cultural no Japão, a maioria das pessoas nasceu no país. O skate não está enraizado aqui e acho que a população tende a não aceitar algo que não conhece – disse Masafumi Kajitani, editor da revista de skate japonesa VHSMag, em entrevista à “Trip”.

Ter sido sede dos Jogos Olímpicos de 2020, no entanto, fez o Japão se ver obrigado a apoiar o skate, que pela primeira vez faria parte do evento. Foram construídos cerca de 400 skateparks por todo o país, o que motivou a prática não só por parte dos praticantes que já existiam, como também, principalmente, por crianças. Mesmo sendo visto como “domesticado” ao invés “organizado” por parte da velha guarda do skate japonês, o esporte cresceu exponencialmente a partir da autorização oficial para a sua prática.

A estratégia japonesa de disseminação do esporte foi instalar skateparks em cidades do interior do Japão e em bairros suburbanos das grandes cidades. Além disso, a pista mais conhecida de Tóquio, Komazawa Olympic Park, que fica próximo à Universidade de Komasawa, recebeu rampas e obstáculos, para que os jovens pudessem praticar as duas categorias do esporte (street e park).

A cultura japonesa de busca pela perfeição e pela excelência também foi determinante para o desenvolvimento do esporte no país. Os pais das crianças que mostravam interesse pelo esporte rapidamente buscaram instrutores, academias e professores que ensinassem seus filhos com a maior seriedade possível. O método, que é utilizado em todos os esportes, teve sucesso no skate. Jovens com 12 e 13 anos de idade despontaram rapidamente como astros da modalidade.

 

Domínio do ranking mundial

O sucesso do país nos Jogos de Tóquio 2020, com nada menos que cinco medalhas (três de ouro, duas de pata e uma de bronze) fez com que o skate saísse do gueto esportivo para as primeiras páginas dos jornais, sites e para as manchetes dos programas de TV. E um fenômeno particular aconteceu no Japão: uma invasão feminina no esporte. Mesmo com os homens sendo mais populares, as mulheres aos poucos conquistaram seu espaço no esporte do país.

No ranking mundial feminino do skate street, somente Rayssa Leal (número 3 do mundo) não é japonesa. No ranking mundial do skate park, três das cinco primeiras são japonesas. No masculino, o cenário é semelhante no ranking mundial masculino de skate street, com quatro dos cinco primeiros sendo japoneses. O que difere é o skate park: dos 20 primeiros colocados no ranking mundial, somente um é japonês.


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