Reportagem de Giordanna Benkenstein Vallejos

Era apenas mais um dia de trabalho para Jair Tossin, quando recebeu uma mensagem no WhatsApp da sua empresa, a Retro Music. Como de costume, ele respondeu o cliente que dizia ser do Rio de Janeiro e buscava fazer uma manutenção no seu violão. Jair perguntou como o cliente havia achado o contato dele e ele respondeu que foi uma indicação do guitarrista da banda dele, Kiko, que seguia Jair no Instagram.

– Aí eu comecei a juntar as informações e perguntei se ele era o Nando da banda Roupa Nova. Ele confirmou que sim e foi muito gente boa comigo. Os caras são uma lenda, não é uma banda qualquer – conta o Luthier, empolgado com o ocorrido.

O músico Nando iria passar um tempo em Porto Alegre e aproveitou para fazer uma manutenção no violão dele enquanto isso. O genro foi a pessoa que levou e buscou o instrumento em Dois Irmãos.

– Pena que não deu certo dele vir pessoalmente, mas ele disse que vai tirar algumas fotos e fazer alguns vídeos daquele instrumento falando do meu trabalho, já que ele gostou – diz Jair.

Os clientes do Luthier normalmente são músicos profissionais do Rio Grande do Sul, e ele já atendeu artistas como a banda Barbarella e Rogério Mello. Mas ele conta que Nando foi o primeiro músico reconhecido nacionalmente que atendeu e que ficou bem animado em poder trabalhar para o ídolo.

Sobre a banda Roupa Nova

A banda Roupa Nova existe há 40 anos na sua formação original. É uma das bandas de grande prestígio nacional, com mais de 20 milhões de cópias vendidas e 37 discos lançados até hoje. Seu estilo musical é pop rock. O grupo é conhecido especialmente quando se trata de trilhas sonoras de novelas, com mais de 35 músicas lançadas. Eles são os responsáveis por tocar o “Tema da Vitória”, a música tema de Ayrton Senna, e da trilha do Rock in Rio, por exemplo. As músicas mais conhecidas são: Whisky a Go-Go, Dona, Volta pra Mim, Anjo, Seguindo no Trem Azul, A Viagem e Coração Pirata, entre outras.

O que é e o que faz um Luthier?

Quem não é do meio musical provavelmente desconhece o significado da palavra Luthier, que tem origem francesa e denomina profissionais que são capazes de criar e restaurar instrumentos.

Jair Tossin é um dos poucos Luthiers da região, o que torna seus serviços requisitados por músicos de diversas localidades. Ele é baixista há 25 anos e começou fazendo manutenções e reparos no seu próprio instrumento de forma autodidata. Quando tinha loja de instrumentos e escola de música, fazia pequenos trabalhos, como troca de cordas ou limpezas básicas. Quando um amigo disse que ele teria talento para ser Luthier, ele buscou se especializar em cursos online e ficou 15 dias aprendendo em diversos setores da fábrica de instrumentos Tagima, uma das mais reconhecidas do país no ramo.

A primeira restauração feita por Jair foi um violão do músico Rogério Vallejos, que pensava em jogar fora o instrumento. Ele acabou conseguindo restaurar o violão colocando um pigmento e fazendo uma mudança de cor. Rogério gostou muito do resultado.

– O trabalho que ele fez para mim ficou excelente. Reaproveitou o instrumento que estava guardado há muito tempo deixando ele impecável e novo – conta Rogério.

A partir daquele dia, o Luthier só adquiriu mais experiência e se apaixonou pela profissão. Jair é capaz de criar instrumentos personalizados e fazer restauros, deixando instrumentos antigos como se fossem novos.

– Para ser Luthier, tem que entender muito de eletrônica, tem que entender muito de marcenaria e muito de pintura automotiva. Tu tens que juntar as três profissões em uma só – explica ele.

Por fim, Jair acabou fechando a escola de música para poder se dedicar integralmente a Luthieria, e se mostra feliz com a escolha, principalmente após a surpresa positiva de fazer a manutenção do violão de um de seus ídolos.

– Gosto tanto do que faço que nem precisariam me pagar – diz ele, com um sorriso no rosto.