Fonte: EXAME Agro
O agronegócio no Brasil se fortalece cada dia mais e, hoje, é um dos setores mais sólidos e rentáveis para se investir. Em menos de cinco décadas, o país deixou de ser apenas um importador para se tornar um dos mais proeminentes exportadores de commodities agrícolas do mundo. Tecnologia aplicada ao campo (do desenvolvimento de sementes ao uso da inteligência de dados para o monitoramento da produtividade) fizeram a produção por hectare crescer.
Mas nem sempre foi assim: segundo um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em meados do século passado, a agricultura brasileira ainda era rudimentar e feita no braço. Apenas 2% das propriedades contavam com máquinas agrícolas. Também se sabia pouco sobre como melhor aproveitar os solos tropicais; culturas como a soja eram apenas uma “curiosidade” e a produção pecuária no final da década de 1950 se configurava como uma das mais baixas do mundo.
O Brasil ganhou fôlego e o campo tornou-se mais eficiente através de uma série de estratégias que passam pelo investimento em pesquisa e pelas políticas públicas para o setor rural. Um bom exemplo da guinada é o das safras de grãos. Elas geravam 38 milhões de toneladas em meados dos anos 1970 e, num intervalo de 42 anos, chegaram a render 236 milhões de toneladas anuais. Um crescimento de seis vezes aplicado apenas aos dobro da área plantada. Essa montanha de cereais e leguminosas é só um dos pontos atrativos para esse mercado em ascensão, como mostra a série de reportagens da EXAME Agro.
Panorama atual em números
Desde 1996, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro é calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea – Esalq/ USP) em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No biênio 2020-21, a cifra alcançou recordes e, em 2020, seu crescimento bateu 24% em relação aos ganhos de 2019 e representava 26,6% de todo o PIB brasileiro. Em 2021 a participação chegou 27,4%. Esses números consideram conjuntamente as evoluções de volume e preços reais praticados no setor e englobam todo o agronegócio com sua gama imensa de oportunidades nos segmentos agrícola e pecuário, de insumos, agroindústria, agrosserviços etc.
Ainda de acordo com o Cepea/USP – baseado em microdados da PNAD Contínua e da RAIS –, de janeiro a março de 2022, a população ocupada no agronegócio brasileiro aumentou 6,2% e chegou a 18,74 milhões de pessoas. É um incremento de mais de um milhão de trabalhadores em relação ao mesmo período de 2021. O grupo empregado no agro chega quase a 20% do total da participação do mercado de trabalho no país.
Não é bi, é TRI
Se você tem um negócio que pode se encaixar nessa fatia da economia nacional, a EXAME oferece outros números impressionantes: o Valor Bruto da Produção (VBP), que pode ser traduzido como o faturamento “da porteira pra dentro”, alcançou R$ 1,10 trilhão em 2020 e R$ 1,20 trilhão em 2021. A estimativa, elaborada em dezembro último pela CNA, prevê ainda um crescimento de 4,2% para 2022. Tais cifras polpudas ajudam a fazer do Brasil uma potência no comércio exterior.
Relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC), publicado em abril, coloca nosso país na 25a posição entre os maiores exportadores mundiais. Foram US$ 281 bilhões no último ano. Dentro do campo do agro, a soja cresceu 35,5% em 2021. Nos primeiros meses de 2022 – de janeiro a abril –, a balança comercial do agronegócio brasileiro registrou superávit de US$ 43,7 bilhões, mesmo em um cenário mundial crítico.
Os dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em maio, registram ainda a alta de 34,9% nas exportações do setor, em comparação com o mesmo período do ano anterior. A soja (grão, farelo e óleo) continua na ponta, mas o destaque fica para o incremento na exportação de carne bovina, puxada pela alta demanda chinesa: o preço médio avançou 27,9% em comparação com abril de 2021 e teve aumento de 22,1% na quantidade.
Grandes cifras, grandes desafios
Se a partir da década de 1950, o desafio de organizar o setor agropecuário começou a ser vencido, grande parte da responsabilidade é do mix de investimentos em pesquisa agrícola, aliado à assertividade de políticas públicas e à competência dos agricultores. Já nos anos 1990, o fator extra se deu pela implementação de políticas macroeconômicas como controle da inflação e taxas de câmbio um pouco mais equilibradas.
A grandiosidade do país e o privilégio das condições ambientais foram usados de forma clínica. Porém, hoje a manutenção de melhores taxas produtivas deve estar alinhada à uma agricultura inteligente – com máquinas, digitalização das informações e técnicas que ajudem a otimizar plantio, manejo, colheita, armazenagem e escoagem – bem como um olhar que possibilite um agro sustentável, preocupado com ESG, mudanças climáticas e agenda ambiental.
Um caminho de chão batido que ainda tem muito a oferecer e a ser trilhado, com boas oportunidades para empresas em duas grandes frentes: a que desenvolve e comercializa tecnologia, maquinário e implementos agrícolas – este ano, o setor de tratores, colheitadeiras e afins deve movimentar cerca de R$ 100 bilhões –, além das que capacitam trabalhadores.
E a área, em franco desenvolvimento, voltada às soluções sustentáveis como produção de biofertilizantes e biodefensivos ou mesmo fazendas que combinam culturas para o equilíbrio biológico da produção de várias culturas.