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Após apresentar altas nos últimos anos e diminuir a presença na mesa de parte das famílias, a carne bovina registrou queda no Rio Grande do Sul em 2023. O valor médio dessa proteína caiu 16,25% no ano passado no Estado. O dado faz parte de levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da UFRGS. Maior oferta, queda no valor do gado e baixa demanda da população em cenário de endividamento e inadimplência explicam a queda no preço desse alimento, segundo especialistas e integrantes do setor produtivo.
Dentro dos cortes analisados pelo NESPro, filé Mignon, contrafilé e o vazio acumularam as maiores quedas de preço no Estado no ano passado. Integrantes clássicos do churrasco gaúcho, a costela, a maminha e a picanha também anotaram redução, mas em ritmo menor. O coordenador do NESpro, professor Júlio Barcellos, afirma que a queda no preço da carne é o resultado de uma série de fatores, como menos apetite externo, redução na demanda e aumento na oferta:
– Foi um ano marcado pelo aumento da produção de carne porque o pecuarista, com preço mais baixo pago pelo seu rebanho, precisou vender mais animais, principalmente matrizes. Então, a oferta de carne no mercado cresceu na ordem de quase 10%. Isso afetou o preço.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, afirma que, além da queda no preço do boi, a falta de espaço no orçamento das famílias também respinga nesse movimento. Com aperto financeiro, a demanda por carne diminui.
– Tem elevado endividamento e a inadimplência das famílias. Cerca de 44% dos brasileiros adultos estão inadimplentes. O desempenho do varejo e dos serviços estão fracos e a carne bovina é um produto altamente sensível ao ambiente econômico, seja para cima ou para baixo – explica o economista.
Realizada há cerca de 10 anos, a pesquisa do NESpro percorre os principais mercados consumidores de carne bovina do Rio Grande do Sul. A maior parte do levantamento ocorre em Porto Alegre, que abriga parcela significativa do consumo desse produto. Os valores dos cortes apresentados no estudo são uma média de todas as consultas. Consumidores podem achar determinado corte com valores diferentes, distante da média para cima ou para baixo, dependendo do local de compra e da região.
Dados da inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), também apontam retração no item carnes, composto, principalmente, por cortes bovinos. Esse grupo caiu 9,40% em 2023 na região metropolitana de Porto Alegre.
Impacto no balcão
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, afirma que a queda média de preço da carne bovina também é observada nos supermercados, principalmente nos cortes de segunda com osso. Diante de menos demanda da população, os estabelecimentos reforçam promoções em alguns itens, segundo o dirigente:
– São explorados cortes de alto consumo e de valor agregado menor, como os de frango e cortes bovinos de segunda com osso.
Próximos meses
Após o abate de matrizes, que colocou mais carne no mercado até o ano passado, existe um movimento de inversão, com retenção de fêmeas para produção. No entanto, especialistas estimam que os preços da carne devem apresentar estabilidade nos próximos meses.
– Sim, (esse ciclo) se inverte, mas não esperamos preços como os de 2020 e 2021, pois aquilo teve muito dos efeitos da pandemia. Acredito que teremos preços melhores do que em 2023, mas dentro da normalidade – afirma o economista-chefe da Farsul.
O coordenador do NESpro projeta uma recuperação nos preços pagos aos produtores neste ano, o que pode refletir nas gôndolas. No entanto, ele enxerga espaço para normalidade nos valores em parte de 2024:
– Acredito que no primeiro semestre tenhamos uma estabilidade de preços, mantendo os preços atuais. No segundo semestre, talvez tenha uma majoração, mas em um percentual muito baixo. Não tem margem para aumentar o valor da carne porque o consumidor ainda está com baixo poder aquisitivo, endividado.