(Por Alan Caldas – Editor)
Diogo Moeller Farias é bioquímico e proprietário do Laboratório Diagnostica, em Dois Irmãos. Casado e com três filhos, ele e a esposa fizeram uma viagem no início de março. Viajaram para uma área sem risco de Covid-19, na época. E, ao retornar, quase duas semanas depois, Diogo teve tosse e um leve sintoma de labirintite, a tontura que se sente quando há inflamação no labirinto.
Naquele mesmo dia, e por ser da área de saúde, tanto ele quanto a esposa, Bianca, Diogo imediatamente foi fazer o teste para coronavírus. Buscava tanto se proteger quanto proteger a esposa, filhos e funcionários. Para fazer o teste de forma oficial, Diogo procurou a prefeitura e fez, no dia 18 de março, pela Secretaria de Saúde de Dois Irmãos, o exame PCR. Esse é o exame que detecta o antígeno da Covid-19. Após coletado, o exame foi imediatamente enviado pela prefeitura ao LACEN, o laboratório oficial do Estado.
Três dias depois, veio o resultado. Deu positivo. Diogo Moeller Farias estava oficialmente com Covid-19. E a vida dele mudou radicalmente, não apenas pela quarentena, a qual se obrigou, mas também pela preocupação com a família, funcionários e amigos. Mudou sua vida, também, porque assustados que estão, todos na cidade queriam saber quem tinha “trazido o coronavírus” para Dois Irmãos. As redes “sociais” entraram em surto, naqueles dias, até porque o senhor Luiz Henrique Mandetta, então ministro da Saúde, cometeu a grande estupidez de dizer que “essa doença é os ricos que viajam e trazem para os pobres”. O imaginário coletivo incendiou, ao ouvir isso, e as redes, mesmo sem saber quem era, começaram a dizer os piores impropérios sobre “o que trouxe a doença para Dois Irmãos”. Diogo e a família passaram o inferno, naqueles primeiros dias.
Sendo um homem da área de saúde, Diogo observou a si mesmo nos dias seguintes e não via evolução da doença. Os possíveis sintomas, que no início causaram a dúvida, haviam desaparecido completamente. Nada mais houve, posteriormente, além daquela pouca tosse e do leve mal-estar de labirintite. Tudo que ele tinha e que o levou a ser diagnosticado como portador do coronavírus, havia passado. Diogo estava com ‘zero’ sintomas. E se perguntou: “estou curado?” Então, começou a correr atrás de outros exames. Queria tirar as dúvidas sobre se realmente havia ou não sido infectado pela Covid-19.
Para tirar a dúvida, ele fez coleta de sangue em seu próprio laboratório, no dia 18 de abril, e enviou dois exames diferentes para análise em São Paulo. Um era o PCR, que detecta o antígeno da Covid-19 e que foi o mesmo que o LACEN no RS dera como positivo para ele e que o condenara ao inferno. E fez, também, o exame de sorologia, exame que indicaria como estava a imunidade dele perante o coronavírus. Fez e aguardou. Cruzou os dedos. Esses exames são feitos de forma rápida. É vai e volta. Foram. E voltaram. E veja só: surpreeeesa!!!
Os resultados deram negativo para ambos. Negativo para PCR. Negativo para sorologia, que indicou que Diogo Moeller Farias não teve contato com a Covid-19.
Ou seja 1:
O exame do LACEN era falso-positivo.
Ou seja 2:
Diogo nunca havia tido o coronavírus!
Ficou feliz pelo resultado. Mas se alertou. Por ter feito exame de forma privada e não pública, ele precisaria refazer o exame com o LACEN. Tinha de tirar a prova dos nove. Precisava ter uma resposta oficial, via prefeitura, para conseguir tirar seu nome da Lista de Infectados do Coronavírus.
Diogo procurou a Secretaria de Saúde. Informou o que tinha ocorrido e através da prefeitura fez a sorologia. O exame de sorologia foi feito pela própria prefeitura, no dia 28 de abril, terça-feira passada. E o resultado foi “não-reagente”. Conferia com o resultado que ele havia feito em São Paulo. Ou seja: Diogo não havia tido contato com a Covid-19. Ele nunca teve coronavírus. Havia ocorrido um erro de procedimento do LACEN.
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DÚVIDAS:
Por que não fizeram a sorologia logo?
Diogo Moeller Farias – Não se pode fazer a sorologia enquanto se está com a doença. O corpo não teve tempo de entender que tu estás fazendo uma formação de anticorpos. Precisa de no mínimo 7 dias, depois dos sintomas.
Quanto tempo depois o seu foi feito?
Diogo Moeller Farias – Fiz o exame na rede privada 15 dias depois do primeiro, que constatou falsamente que eu estava contaminado. E, agora, fiz uma nova sorologia, desta vez pela prefeitura, no laboratório oficial, 30 dias depois. Não tem como dar errado.
Sobre os demais casos na cidade, o que dizer?
Diogo Moeller Farias – Até onde sei, os demais casos em Dois Irmãos realmente tiveram contato com a Covid-19. O exame deles bateu. Pelo que me passaram, parece que fizeram a sorologia, para ver a imunidade, e deu positivo para o contato.
O que dizer depois de tudo o que passou?
Diogo Moeller Farias – Nossa família foi surpreendida por um resultado que ninguém quer receber, passamos por todos os sintomas psicológicos do coronavírus, pelo processo da quarentena, pelo isolamento, pelos julgamentos e até pelas fake news, mesmo sem termos sentido os sintomas físicos da doença e sem ter estado com o vírus. Naquele momento só pensava nos meus filhos, que fiquei sem pegar no colo por pelo menos duas semanas e na minha família, que sofreu comigo todos os processos dessa doença, que mais que letal é preconceituosa e discriminatória.