Médico judeu relata entubação de paciente com tatuagens nazistas nos EUA

08/12/2020
Fonte: G1

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Na linha de frente do combate à Covid-19 na Califórnia (Estados Unidos), o médico judeu Taylor Nichols contou em uma série de postagens nas redes sociais o momento em que precisou entubar um paciente com suásticas e outros símbolos nazistas tatuados pelo corpo. O relato também foi publicado no último sábado (5) no jornal “The Washington Post”.

Nichols narra que o paciente chegou de ambulância ao hospital e apresentava falta de ar severa, um dos sintomas da forma grave da doença causada pelo novo coronavírus. “Quando o colocamos na maca e tiramos sua camisa para colocar uma manta hospitalar, havia uma coisa em que todos nós reparamos: as tatuagens nazistas”, relatou Nichols. Além dele, judeu, a equipe que atendeu o paciente era composta por uma enfermeira negra e um terapeuta respiratório de origem asiática. “A suástica aparecia fortemente em seu peito. Tatuagens da SS [organização nazista paramilitar que servia a Adolf Hitler] e outras insígnias nazistas corriam por seus braços”.

O médico conta que perguntou ao paciente — que não teve sua identidade revelada — se ele permitiria ser entubado. Afinal, ele estava com muita dificuldade para respirar, e o oxigênio artificialmente fornecido já não parecia mais suficiente. “Não me deixe morrer, doutor”, disse o homem.

 

‘Reconheço que hesitei’

Nichols disse que não viu mais o paciente depois do procedimento. No relato, o médico reconhece que se viu diante de um desafio profissional, mas que não era a primeira vez que tratava de pessoas ostentando símbolos nazistas. “Todas as vezes em que eu me vejo nessa situação, eu me sinto um pouco balançado. E, em todas as vezes, eu sou capaz de controlar minhas emoções serena e rapidamente”, afirma Nichols. “Eu agi conforme o plano com a enfermeira e o terapeuta respiratório. E eu pausei. Eu vi a tatuagem da SS e me perguntei o que ele pensaria sobre ter um médico judeu cuidando dele agora — e em quanto ele se importaria em salvar minha vida se trocássemos os papéis. E, pela primeira vez em minha carreira, eu reconheço que hesitei”, admitiu o médico. “Depois que o paciente foi entubado e estabilizado, eu nunca mais o vi. Mas ele me ensinou uma lição que agora compartilho com outros profissionais da saúde: esta pandemia está, simultaneamente, testando e fortalecendo nossa compaixão”.

Nichols conclui o relato com uma mensagem: “Nós nos apoiamos para assegurar que poderemos dar a você nossos melhores cuidados. Nossas portas estarão sempre abertas, não importando quem você seja, para que você possa procurar tratamento quando precisar”.


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