Fonte: Exame / O Globo
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, decidiu declarar que o avanço da Mpox constitui uma emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII), o nível mais alto de alerta da organização. A decisão seguiu a recomendação do Comitê de Emergência convocado pelo diretor, que se reuniu pela primeira vez na manhã desta quarta-feira (14).
– O Comitê de Emergência se reuniu e me informou que, em sua opinião, a situação constitui uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Aceitei esse conselho – disse o diretor-geral em coletiva de imprensa. – A detecção e rápida disseminação de um novo clado da mpox no Leste da República Democrática do Congo (RDC), sua detecção em países vizinhos que não haviam relatado mpox anteriormente e o potencial de disseminação adicional dentro e fora da África são muito preocupantes — continuou.
Segundo a OMS, a ESPII é “um evento extraordinário que é determinado como um risco à saúde pública de outros países por meio da disseminação internacional de doenças e que potencialmente exige uma resposta internacional coordenada”. De acordo com a organização, isso implica que a situação é grave, repentina, incomum ou inesperada; traz implicações para a saúde pública além da fronteira nacional do país inicialmente afetado e pode exigir ação internacional imediata.
Apesar da queda nos casos globais após o surto de Mpox em 2022, a doença continua presente em regiões onde é endêmica, como na República Democrática do Congo (RDC). Este ano, o país registrou 14 mil infecções e 511 mortes, números impulsionados pela disseminação de uma nova linhagem do vírus.
O diretor-geral da OMS alertou que o número de casos nos últimos seis meses é equivalente ao total do ano passado, com o vírus se espalhando para áreas anteriormente não afetadas. Além disso, foram relatados cerca de 50 casos em países vizinhos que até então não haviam registrado a doença, como Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda.
O que é Mpox?
A Mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos, é uma doença viral causada pelo vírus da família Poxviridae, o mesmo grupo que inclui o vírus da varíola humana. Identificada pela primeira vez em humanos na década de 1970, a Mpox é endêmica em algumas regiões da África, especialmente na África Central e Ocidental. O vírus é transmitido principalmente através do contato direto com lesões cutâneas, fluidos corporais ou gotículas respiratórias de indivíduos infectados, além de poder ser transmitido por objetos contaminados.
Em 2022, a Mpox ganhou destaque global ao se espalhar para além das regiões endêmicas, afetando países em todos os continentes, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma emergência de saúde pública de importância internacional. Durante esse surto, a doença foi associada a novas vias de transmissão, incluindo o contato sexual, o que facilitou sua disseminação em comunidades antes não afetadas.
Quais os sintomas da Mpox?
A doença geralmente se manifesta com febre, dores musculares, fadiga e erupções cutâneas características que podem evoluir para lesões mais graves. Embora a maioria dos casos seja autolimitada, com sintomas leves a moderados, a Mpox pode ser fatal, especialmente em populações vulneráveis.
Preocupações com a disseminação internacional
A nova cepa do vírus, denominada Clado 1b, pertence à linhagem Clado 1, que é conhecida por sua maior letalidade e por ser endêmica na África Central. Diferente do Clado 2, responsável pela propagação global de 2022, o Clado 1b apresenta mutações que facilitam sua transmissão, incluindo a transmissão sexual, o que aumenta o risco de propagação internacional. Especialistas como a virologista Giliane Trindade alertam que, embora ainda não haja registros do Clado 1b fora da África, o risco de disseminação global é real, especialmente considerando o contexto de um mundo altamente globalizado e as vias de transmissão observadas na RDC.
Impacto e letalidade da nova linhagem
O Clado 1b já foi identificado em países como Quênia, Ruanda e Uganda, com casos em análise em Burundi. A nova linhagem tem se mostrado significativamente mais letal do que a observada no surto global de 2022, com uma taxa de mortalidade de até 4% em adultos e 10% em crianças. Esses números são alarmantes e destacam a necessidade de uma resposta global coordenada para conter o avanço da doença. O virologista Fernando Spilki ressalta que, embora ainda existam incertezas sobre o comportamento da nova linhagem fora da África, o risco de sua disseminação é real e deve ser monitorado de perto.
Medidas de prevenção e controle
Se a OMS decretar uma nova emergência, serão implementadas medidas para conter a disseminação do vírus e evitar sua chegada a outros países. A experiência adquirida durante o surto de 2022 será valiosa, especialmente em relação à vigilância, diagnóstico e disponibilidade de vacinas.
No Brasil, as vacinas contra Mpox já estão sendo aplicadas a grupos de maior risco, como pessoas que vivem com HIV, mas ainda não se sabe se essas vacinas oferecem proteção eficaz contra a nova cepa Clado 1b. Além das vacinas, a testagem continua sendo uma ferramenta essencial para identificar e isolar casos, evitando a disseminação do vírus.