Fonte: gshow
Você tem ideia de quanto tempo gasta, em média, diante do seu celular? De acordo com um relatório da “State of Mobile”, os brasileiros e indonésios são os que mais usaram o smartphone em 2021, com 5,4 horas por dia – à frente, até mesmo, dos Estados Unidos com a média diária de 4,2 horas. A métrica considera apenas o uso dos celulares, ou seja, poderia ser ainda mais preocupante se incluísse outros dispositivos.
Se estes dados te surpreenderam, imagine, agora, quem não consegue ficar longe de qualquer eletrônico. O termo nomofobia se refere ao medo irracional de permanecer sem o celular e, apesar de não ser um diagnóstico médico formal, é utilizado para tratar esse tipo de dependência digital.
O que é a nomofobia?
A Dra. Nina Ferreira, psiquiatra e especialista em neurociências, explica que não se trata de um “simples” vício e pode ser identificado no comportamento do indivíduo, com sintomas de intensa ansiedade mental e física: taquicardia, coração acelerado, inquietação e, em casos mais extremos, sudorese e tremores.
O assunto é abordado na novela “Travessia” com a história de Theo. O personagem de Ricardo Silva que não consegue desligar dos jogos online e, em uma das crises de abstinência, passa a apresentar um comportamento agressivo até com as pessoas da família. Diferente de outras condições psicológicas, a nomofobia não tem níveis de gravidade: “Aqui é analisado o quanto o uso do celular e internet está prejudicando o indivíduo, o que ele deixa de fazer por causa desse uso excessivo, se ele deixa de se alimentar, dormir bem, sair com amigos, trabalhar e estudar”, comenta a médica.
Portanto, o que mais preocupa, segundo ela, não é a quantidade de tempo gasto com a tecnologia em si, mas o que causa essa necessidade de estar sempre conectado – nas redes sociais ou em jogos – e como a pessoa se comporta sem o aparelho: “Não é sobre limite de tempo, é uma análise mais subjetiva”.
Sistema de recompensa instantâneo
Qualquer atividade que envolva tecnologia tende a causar um prazer quase imediato, mas, na mesma velocidade que esse pico de dopamina sobe, ele também cai. Por isso essa sensação não se sustenta por muito tempo e precisa de novos “estímulos” com uma frequência cada vez maior.
Então, a Dra. Nina defende uma reeducação dos hábitos ao menor sinal de dependência do celular. Diversificar os hobbies e a rotina e praticar exercícios físicos são algumas das recomendações da especialista para não cair no tédio. “É muito comum, principalmente entre adolescentes e adultos, usar a internet como um escapismo se não estão bem emocionalmente ou querem evitar terem de lidar com uma situação difícil e, então, procrastinam através da tecnologia.”
Essa mudança no cotidiano é essencial para educar o indivíduo a precisar menos da tecnologia para sentir prazer, conseguir realizar as tarefas do dia a dia com atenção e ter um cérebro sem déficit de serotonina, dopamina e de outros neurotransmissores: “O bem-estar está no equilíbrio!”
Consequências para a saúde
Se passar cerca de ¼ do dia no celular pode trazer prejuízos, a situação é ainda mais grave no caso dos nomofóbicos, já que a dependência digital afeta tanto na capacidade cognitiva e mental, quanto o rendimento do cotidiano da pessoa, “porque quando falamos do cérebro, estamos tratando do órgão que gerencia toda a vida da pessoa”.
A especialista volta a deixar claro que o problema não está na tecnologia, mas no espaço que dedicamos a ela dentro na nossa rotina. “Esse hábito tira a pessoa de outras áreas importantes da vida. Quando falamos de crianças e adolescentes, que estão formando a personalidade, elas não criam habilidade de convívio social se apresentam esse quadro”, alerta sobre a importância das relações presenciais.
Além disso, essa exposição prolongada ao mundo digital diminui a capacidade de atenção e memorização, porque o dependente deixa de desempenhar essas habilidades no trabalho ou nos estudos. Outra consequência grave é a comparação com outras pessoas, o que pode facilitar o desenvolvimento de transtornos depressivos e de ansiedade.
Como mostram as cenas de “Travessia”, o humor de Theo também se altera com facilidade caso algo saia do seu controle e fora do seu ritmo, já que a percepção de tempo também acaba sendo afetada com a velocidade como as coisas acontecem na internet.
Fique atento!
Para finalizar, a Dra. Nina lista algumas dicas para usar a tecnologia de forma saudável e orientações de como ajudar outras pessoas:
– A primeira providência é buscar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra e contar o que está sentindo, é somente ele quem vai direcionar o paciente. E lembre-se: “Para ser um problema, não precisa ser grave. Se está trazendo algum prejuízo, merece ser cuidado”;
– Jamais tentar lidar com a situação sozinho, ainda mais dependendo do padrão de dependência que a pessoa possa apresentar. "Não vai adiantar tirar, subitamente, tudo de uma vez ou isolar aquela o indivíduo, porque isso gera sinais de abstinência", além de interferir no sono e no apetite;
– Estabelecer um diálogo e oferecer ajuda a quem precisa é imprescindível;
– Diversificar as fontes de prazer, ter hobbies que não envolvam apenas a internet e desfrutar do convívio social;
– Faça um exercício de auto-observação. Analise se você consegue se manter calmo, mesmo sem acesso à internet: se isso lhe causa algum tipo de angústia, significa que essa relação com a tecnologia precisa de atenção.