Além de comoção, tragédia das enchentes causa preocupação com futuro do RS

15/05/2024
(Foto: Divulgação / Câmara)

(Foto: Divulgação / Câmara)

A tragédia que assola o Rio Grande do Sul segue repercutindo em Dois Irmãos. Apesar do município não ter sido atingido de maneira drástica, muitos moradores têm conhecidos que foram duramente afetados na região. Na sessão de segunda-feira (13), a maioria dos vereadores voltou ao tema, mostrando inclusive preocupação com o que ainda vem pela frente.

– Olho pela televisão, e esses dias em meia hora chorei três vezes. Desliguei a televisão, não quis mais olhar. Quando desliguei a televisão, um amigo meu que morava em Dois Irmãos pediu se eu não podia levar ele lá na Lomba Grande (Novo Hamburgo) para ver como ficou a casa dele. Aí a gente vê de perto... Sobrou só a televisão que ele colocou em cima do guarda-roupa e o botijão de gás, o resto não sobrou nada. Nessas horas, os ‘políticos grandes’ têm que ir lá olhar para sentir a dor do povo – disse Paulino Renz (PL).

Ele também lamentou a situação de algumas ruas no município;

– Na Rua Santa Clara, encheu as casas de água de novo. Toda chuva que dá enche a casa das pessoas de água, no bairro Beira Rio e no Navegantes. Isso é lamentável, as pessoas ligam chorando. Uma cidade rica que nem nós temos, com grande arrecadação de impostos, e as pessoas não merecem o mínimo? Venho cobrando há mais de meio ano essa obra; eles vão lá, começam e não terminam. O povo não merece essas coisas – declarou.

 

Natureza cobrando o preço

Sheila da Silva (PT) também trouxe relatos de pessoas próximas.

– Tenho conhecidos e amigos em várias cidades que também foram afetados. Visitei alguns lugares – Fenac (Novo Hamburgo), Caí, Lindolfo Collor e Três Coroas –, e me chama muito atenção o grau de solidariedade de todo mundo, que, à sua maneira, está se colocando à disposição para ajudar. Mas também chama atenção o cenário caótico que a gente encontra na situação dessas pessoas alojadas, amontoadas. É preciso muita resiliência para passar por uma situação dessas – comentou.

A vereadora ainda chamou atenção para o descaso com o meio ambiente:

– Do ano passado pra cá tivemos vários eventos atípicos, e quando essas enchentes começam a se repetir, passam a não ser mais eventos atípicos. Essas mudanças climáticas que estamos vendo escancaradamente acontecer são muito graves, e a gente vem sendo alertado por cientistas e pesquisadores do mundo inteiro. A natureza está cobrando o preço e não vai parar por aí. Agora é hora de ajudar, mas temos que pensar em transformar, pensar daqui pra frente o que podemos fazer dentro da nossa governabilidade.

 

Estragos no município

Ederson Bueno (MDB) reiterou que a situação é gravíssima no Estado.

– A gente precisa todo empenho do governo federal, do governo estadual, dos governos municipais, de toda a União. Passaremos por um retrocesso muito grande, de praticamente 10 anos; a economia com certeza vai sofrer muito – afirmou.

Ele destacou que em Dois Irmãos foi declarada situação de emergência de nível 2, ‘que é quando o município reconhece que tem a necessidade de receber recurso federal’.

– Dois Irmãos não foi tão severamente castigado quanto outros municípios na nossa volta, graças a Deus, mas a gente teve alguns problemas que precisam ser corrigidos. Podemos citar a situação da Rua Rio de Janeiro, que foi bem mais grave do que a gente pensava. O deslizamento foi grande, tem que ser feita uma contenção, um investimento bem grande. Também tivemos problemas na Rua Goiás, numa drenagem que cedeu; na Tocantins e na Estrada Campo Bom. E tivemos problemas no bairro São Miguel, com residências atingidas gravemente – informou.

 

Olho do furacão

Para Darlei Kaufmann (MDB), o RS ainda está ‘no olho do furacão’.

– Temos uma série de etapas a serem vencidas, não temos como falar para as pessoas que o pior já passou. As pessoas vão querem voltar para suas casas e vão ver que suas casas não existem mais; vão querer ver o que estava dentro de suas casas e não está mais. Casas de madeira, que estão há mais de uma semana embaixo d’água, provavelmente terão que ser destruídas. Acompanhei mais de perto uma família hospedada na casa de um amigo; a esposa do casal atingido pela enchente está psicologicamente destruída – comentou.

 

Insolvência generalizada

De acordo com Ramon Arnold (PP), os governos devem se atentar para ‘a insolvência generalizada que poderemos ter daqui pra frente’.

– Imaginem um cidadão que tem sete supermercados em Canoas, e os sete supermercados estão embaixo d’água hoje. O fornecedor de carne vai lá cobrar ele e não vai receber o pagamento; o fornecedor de bolachas não vai receber o pagamento, o fornecedor de leite, o fornecedor de hortifrúti... A gente vê que é um grande risco para a nossa economia. Essa insolvência tende a chegar em nós também, nas nossas empresas, nos nossos bancos, nas nossas fábricas, no nosso comércio. Com certeza todos vão redobrar suas análises de crédito, mas ao mesmo tempo temos que fazer com que a nossa economia ande, e aí sim vamos ter de nos debruçar em assuntos econômicos que vão reverberar nos próximos meses.


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