Por Márcia Maria Zimmermann Johann*
Em 2019 o Governo Estadual iniciou o movimento para mudanças no ensino médio. A Escola Estadual de Ensino Médio João Wagner, na cidade de Morro Reuter, foi uma das 10 escolas da 2ª Coordenadoria Regional selecionadas para fazer parte deste projeto.
Após reuniões e eventos a fim de compreender a ideia, explicitou-se aos estudantes como seria a atividade. Decidiram então por Relações Interpessoais e Tecnologia, envolvendo as quatro áreas do conhecimento, ou seja, todas as disciplinas.
Estes trâmites de organização ocuparam alguns meses e envolveram toda a comunidade escolar, visto que foi necessário estruturar o espaço físico e realocar professores com o perfil de acordo com a ideia dos percursos ofertados, pois a formação acadêmica não contempla estas abordagens específicas.
Posto que o projeto era inovador, também não havia cursos para tal abordagem e os docentes tiveram de desafiar-se nesta empreitada educacional.
Sendo assim, no ano de 2020 as atividades reiniciaram com encontros para articular esta questão, e neste viés, elaborou-se um cronograma de visitas a escolas para que assim cada uma expusesse sua forma de trabalho.
– 2020: início para os primeiros anos
– 2021: para os segundos anos e
– 2022 para os terceiros anos, com a conclusão do projeto para as escolas-piloto.
Desta forma, formatos dinâmicos de atividades escolares seriam criados a fim de introduzir-se o protagonismo estudantil, objetivo dos Itinerários Formativos.
Contudo, em virtude da pandemia, foi necessária sua interrupção a fim de reestruturar a ideia original. A teoria inicial propunha visitações a espaços temáticos para a compreensão dos componentes como Ciência dos Materiais, Conexão com o Mundo, Direitos Humanos, Tecnologias e afins, conteúdos dos percursos. No entanto, na prática houve adaptação, visto que as aulas passaram a ser online e por meio de um método inovador em que todos precisavam se organizar. Ademais, ainda precisavam compreender o novo ensino médio (primeiros anos).
Este conjunto gerou muita preocupação entre os estudantes que estavam se preparando para o Enem e similares. Muitos deles optaram por fazer cursos paralelos ou migrar para o noturno, pois apenas o diurno havia sido organizado para estas atividades.
Assim, tanto docentes quanto discentes se esforçaram para acompanhar tudo isso para obter sucesso em um sistema educacional falho em muitas situações como questões de espaço físico, salário, recursos humanos, entre outros tópicos. Então, se já era difícil para uma escola regular adaptar-se a três tipos de ensino (regular, projeto-piloto e ensino médio gaúcho), imagina para as escolas de grande porte e técnicas.
Na teoria, a ideia, como já citado, é trabalhar o protagonismo e o empreendedorismo - excelente abordagem. Embora a organização já esteja bem melhor que a do conceito piloto, ainda há muitos pontos a serem modificados. Por exemplo, os alunos que estudam à noite e que chegam na escola depois das 19h em função de seu trabalho, mas têm seis períodos. Outra questão é a formação dos professores, a qual precisa ser mais direcionada aos conteúdos dos componentes. Muitos têm a carga horária bem completa e mesmo assim procuram por cursos externos para informar-se bem a respeito de todo o processo. Contudo, para alguns o tempo é extremamente escasso e limitam-se a lecionar somente conforme sua formação inicial.
Compreende-se que o esforço destas alterações é válido, pois algo necessita ser feito para mudar o sistema a fim de motivar os estudos, bem como a permanência deles na escola. Mas como proceder com tantas outras faltas?
Outrossim, neste ano (2023) as escolas precisam ofertar as Unidades Curriculares Eletivas – Percursos Formativos, de forma opcional e gratuita com certificação de 20 horas. Dia 10 de março tiveram uma live explicativa a fim de iniciar e, após a divulgação entre todos e com atividades – Mapa do Sonho – no componente curricular de Projeto de Vida, os alunos escolheram suas eletivas entre as quatro áreas do conhecimento. A conclusão aconteceu dia 15 deste mês.
Reiterando, a ideia é muito boa, porque inúmeros projetos podem ser desenvolvidos como argumentação, redação, comunicação, legislação, teatro entre outros assuntos que mudam o pensamento da sociedade.
Estas eletivas são somente para os segundos anos. O diurno faz no contraturno (manhã ou tarde). O noturno é mais complicado, pois ele já tem o sexto período em que a maioria não consegue participar visto que seu horário de trabalho não permite chegar antes.
Entretanto, há pontas soltas nesta prática e mais uma vez há questões a serem sanadas. Sou professora há 28 anos e já participei de inúmeros projetos. Sendo assim, posso afirmar que, muito além de conteúdo, é necessário trabalhar valores e outras questões primordiais antes de lotá-los com disciplinas. É essencial desenvolver a proatividade nos jovens, sem esquecer-se de dar a eles uma base sólida para que evoluam em todos os sentidos.
Sendo assim, é necessário rever o projeto a fim de ajustar e preencher as lacunas, pois, segundo a Agência Brasil (2023), há uma divisão na opinião de especialistas, escolas, alunos, enfim, da comunidade escolar.
De um lado há os que apostam no projeto e na outra ponta há aqueles que querem revogar toda a reformulação do novo ensino médio.
No entanto, acredito que deve haver uma articulação maior entre as partes. Os professores e alunos devem ser ouvidos na organização, uma vez que o ideal é haver um equilíbrio entre o estudo para os estudantes que pretendem fazer o Enem, por exemplo, e entre aqueles que almejam outros ideais abordados nos percursos. Assim mantém-se o novo, inserindo o indispensável, sem desrespeitar o que já foi percorrido, que também é fundamental para todos.
(*) Márcia Maria Zimmermann Johann é professora Licenciada em Letras e pós-graduada em Supervisão e Orientação escolar.