Cláudio mostra local onde açude secou e como está difícil dar água para o gado
Cláudio Falkoski é um dos mais conhecidos produtores rurais de Dois Irmãos. Respeitado em sua profissão, Cláudio mostrou ao Jornal Dois Irmãos o efeito da seca em sua propriedade.
As terras de Falkoski estão no Travessão Rübenich. Ficam bem aos pés do morro Dois Irmãos. E ali ele planta e cria gado. Para manter as plantações e o gado, ele necessita de muita água. Água que ele capta de vertentes em diversos açudes. Produtor rural que é, nesses açudes Cláudio também tem criação de peixes. Ou melhor, tinha criação de peixes. A seca demolidora dos últimos meses matou a imensa maioria deles, deixando um ou outro pequeninho. “Os grandes, morreram todos”, diz Cláudio com uma tristeza que só quem produz a terra conhece, neste momento.
A seca causa problema no agronegócio. E a pecuária sofre também. O gado precisa de muita água. Durante o período de lactação, por exemplo, uma vaca bebe em média quatro litros de água para cada litro de leite que produz. Sendo assim, se uma vaca produz 30 litros de leite, ela deverá consumir em torno de 120 litros de água por dia. Cláudio Falkoski usa os açudes que fez para abastecer suas plantações e seu gado. O sistema é por pressão, ele tem açudes em vários platôs morro acima e a água desce por canos até ir chegando às plantações e ao gado. Mas os açudes secaram.
Não só os de Cláudio Falkoski. De todos na área. Erico Dilkin, seu vizinho, viu seu açude secar também, e diz que nos últimos 40 anos não tinha visto nem de perto algo igual ao que está ocorrendo agora.
Caminhão-pipa
Sem água, Cláudio está se socorrendo de caminhões-pipa, que a prefeitura fornece aos agricultores e pecuaristas regulamentados. Mas a água serve para os animais, em especial os de corte. Para o gado de produção leiteira, a água tem de ser “a mesma que se usa para o ser humano”, informa a também produtora rural Leonice Rossa.
Cláudio mostra que até eucalipto está morrendo. “E eucalipto é planta que puxa água da profundeza”, diz. Aipim e tudo mais, vai morrendo aos poucos, numa seca que esturrica a terra. Cláudio vai caminhando pela propriedade, junto com o Editor Alan Caldas. Aos poucos vai ficando num silêncio que mostra a dolorida preocupação de quem vê todo seu trabalho e esforço ir “por seca abaixo”. Ele olha as plantas morrendo na horta. Ele entra em açudes completamente secos. Ele tenta dar cana de açúcar para os animais que cria, mas olha a cana e diz: “também está morrendo”.
O cenário é desolador. E é preocupante não apenas para Cláudio e seus colegas pequenos produtores rurais. “Vai atingir todo mundo”, diz Cláudio. Sem produto para a oferta, a tendência dos preços é subir indiscriminadamente. A seca que baixa a produção e assola os agricultores, vai acionar a parte maléfica da Lei de Oferta e Procura, a dita “lei de mercado”. Sem produto o preço dos alimentos vai disparar. E é aí que a seca chegará ao consumidor final. É aí, através do bolso, que cada pessoa entenderá o que pequenos agricultores como Cláudio estão sofrendo nos últimos meses.
A verdade é que
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), os agricultores familiares são responsáveis pela produção de mais de 80% de toda a comida do planeta. E a pequena agricultura já é responsável por 70% do que cada um dos 7 bilhões de seres humanos consomem em suas casas. Nem sempre se sabe disso. Nem sempre se valoriza isso, mesmo quando se sabe. Mas é em tempos de seca e perda de produção, como agora, que isso fica mais evidente.
(Por Alan Caldas – Editor)